O incremento que na última década experimentou a seleção de mulheres nas grandes companhias permite deduzir que a integração da mulher nos mandos dire­tivos é favorável e conveniente.

A Comissão de Igualdade de Oportunidades (EOC) e o Governo Federal dos Estados Unidos impulsionou planos de ação para empregar e promover minorias (mulheres e negros).

ATT foi obrigada a pagar 15 milhões de dólares de indeniza­ção a cerca de 12.000 empregados, na maioria mulheres, por discriminação em suas contratações.

Todas as companhias que têm contra­tos com o Departamento de Defesa de mais de 10.000 dólares devem ter um programa de ação para empregar e promo­ver mulheres.

Roger Davis, selecionador de pessoal para Merril Lynch, Pierce Fenner e Smith Inc, inclina-se por um novo nepotismo: recrutar casais, marido e mulher, não subordinados um ao outro, como forma de conservá-los em caso de transferência ou de mudança de departamento ou de promoção.

Bendix (aeroespacial), Betlehem Steel e Westinghouse também seguem esse critério.

Já em 1971, o presidente Richard Ni­xon mandou desenvolver e pôr em ação um plano para atrair mulheres qualificadas para posições de direção e assim au­mentar seu número em chefias interme­diárias, e recomendava que as vagas de Conselhos de Administração fossem ocu­padas por mulheres capacitadas.

Em 1978, proibiu-se a discriminação por gravidez, parto ou cuidados médicos.

Equitable Life Insurance reúne um comitê de mulheres em forma rotativa com a direção geral para discutir problemas.

General Mills (indústria de alimentos) faz auditorias internas para comprovar o progresso das mulheres empregadas.

Para promover um empregado ou empregada a companhia 3M tem um comitê que faz a proposta e acompanha as providências, assegurando a não discriminação.

A New York Metropolitan iniciou horário flexí­vel em 1975 para permitir que seus colaboradores pudessem cuidar melhor de seus filhos, e acabou com os atrasos de entradas.

A General Electric (eletrodomésticos), de Connecticut, obriga-se em seu programa para mulheres a ajudar o marido a encontrar emprego na nova localidade.

Wang Laboratories e Honeywell têm serviços computadorizados para informar os pais de todas as possibilidades de cuidados para seus filhos.

O objetivo de todas estas políticas é um: selecionar e conservar pessoas capa­zes, trate-se de homens ou mulheres.

A procura por talentos é notória.

Situação da mulher na CEE e Europa Oriental

A Comissão da CEE, através de seu Comitê de Igualdade de Oportunidades, informou o Parlamento Europeu, em 1981, nos seguintes termos:

“O desenvolvimento cultural ou histó­rico dos países da Comunidade (130 mi­lhões de mulheres) produziu uma relação desigual ou injusta entre os cidadãos mas­culinos e os femininos.

Grandes grupos de mulheres experimentaram uma posição inaceitável de inferioridade em quase to­dos os setores da sociedade”.

A Comissão constata também três fatores discriminatórios:

  • Quando uma mulher assume um posto de trabalho se lhe oferece um salário mais baixo que o do homem, em igualdade de capacidade e responsabilidade.
  • Em caso de transferência de trabalho, espera-se que a mulher siga o marido, e não o contrário.
  • Os modelos estereotipados da mulher fazem com que as companhias tradicionais não queiram contratar pessoal feminino.

“Nada poderá mudar realmente se as mulheres não puderem chegar (na vida política) aos centros de direção, se não puderem compartilhar a gestão da socie­dade desde o nível local até o parlamen­tar e governamental”, dizia Faista Deshormes, responsável pela informação da Comissão da CEE.

Marcelle Devaud, presidente do Comi­tê Coordenador Europeu para a Igualda­de de Oportunidades, julga que as ações positivas são fundamentais e serão leva­das a cabo no setor público, nas corpo­rações locais e nos bancos, preparando e promovendo as mulheres para cargos exe­cutivos bem como orientando-as para se adaptarem às novas tecnologias.

James Reston, um jornalista do New York Times, comenta:

“Alcançamos um ponto crítico da história com novas indústrias, com forças de trabalho realizando diferentes trabalhos e quase a metade dessas forças são mulheres.

Isto nos leva a novas relações entre gerência e traba­lho, pais e filhos, mestres e discípulos, e exige um novo treinamento”.

As mulheres da União Soviética, Hungria, Polônia, Checoslováquia, Bulgária, Romênia e Iugoslávia estão plenamente integradas no mundo do trabalho.

Praticamente toda a população feminina entre 20 e 55 anos exerce um trabalho fora de suas casas.

Na Hungria, a licença de maternidade é de 5 meses com salário integral e de 3 anos com salário menor, conservando sempre o direito de recuperar o emprego.

Existem muitas creches e esco­las onde as crianças podem ficar durante as horas de trabalho.

Mas com a plena integração no mun­do do trabalho, as mulheres também não conseguiram penetrar na esfera de responsabilidade e decisão.

Em 1975, na União Soviética, somente 6% dos dirigen­tes de empresas industriais eram mulhe­res.

No Comitê Central do Partido, as mulheres nunca ultrapassaram 4%.

So­mente uma mulher chegou a ser membro do Presidium.

Cerca de 75% dos médicos da Rússia são mulheres e, talvez por isso, é uma das profissões pior remuneradas.

É curioso constatar que existe uma tendência nas mulheres soviéticas, como declararam elas mesmas durante a Conferência Mundial da Mulher em 1976, no México, a reivindicar as atividades femininas: dispor de tempo livre para vestir-se melhor, preocupar-se com a beleza, ser cortejada e reafirmar as virtudes da maternidade e da vida doméstica.

É uma situação parecida com a de algumas feministas norte-americanas (ver Betty Friedam em A Segunda Fase) na qual se revaloriza a importância da família como resposta à exigência de renunciar a esta, para que possam ser ativas profissionalmente.

Em nenhuma parte da Europa foi reconhecido especificamente à mulher o direito como pessoa de gerir e influenciar diretamente no mundo da empresa.

Independentemente do sistema político, à mu­lher são fechadas as portas de acesso à di­reção.

Na Europa Oriental, o fato pare­ce ainda mais grave, já que 100% das mu­lheres em idade de trabalhar, trabalham profissionalmente.

É evidente que, seja qual for o siste­ma criado pelos homens, à mulher não se reconhece o direito de dirigir, governar, mandar, e esta atitude encontra-se tanto no patrão Estado como no patrão priva­do.

A metade da população europeia es­tá subvalorizada, sofrendo uma das mais injustas discriminações: a sexual.

A Europa, presa entre dois colossos super armados, sem imaginação criativa pa­ra sair do cerco, desperdiça 50% de seus recursos humanos, perdendo talentos, negando oportunidades, somente para conservar uma ordem masculina.

Informe da ONU sobre o Decênio da Mulher (1975-1985)

Preparando a reunião de Nairóbi (ju­lho de 1985), 25 especialistas sociais de diferentes países, reunidas pela UNESCO em Dubrovnik no mês de dezembro de 1984, trataram do tema “As mulheres e o acesso à tomada de decisões”.

Entre as conclusões sobressaem:

  • Uma das questões cruciais do século XX, para a qual é preciso encontrar uma solução urgente, é o estado subordinado da mulher, que favorece as relações humanas desiguais e opressivas.
  • São necessárias profundas mudanças estruturais como condição prévia para a implementação da igualdade entre ho­mens e mulheres.
  • Convidar os governos e instituições de ensino a revisar seus programas de educação, e incluir neles a luta da mulher por seus direitos civis e políticos.
  • Constatar a persistência de fatores ideológicos e culturais que continuam desalentando as mulheres a participar na vida econômica, política e científica.

Os meios de comunicação publicaram uma resumida informação sobre a pesqui­sa realizada pela ONU entre 121 Estados, que deu lugar ao informe definitivo do Decênio da Mulher, apresentado em Nai­róbi, de 15 a 26 de julho de 1985.

Os pratos da balança da equidade mundial estão desequilibrados.

O que corresponde à mulher está sobrecarrega­do de deveres, ao passo que o do homem contém um excesso de poder.

A metade da população mundial, por circunstâncias acidentais de nascimento, realiza duas ter­ças partes do trabalho total, ao passo que possui um milésimo da propriedade mun­dial.

O principal obstáculo para o pro­gresso da mulher é sua função doméstica como esposa e mãe, onde emprega cerca da metade do tempo e das energias.

A UNESCO, em seu programa para a Formação da Mulher (Decênio 1975-­1985), constata que a atual crise econô­mica mundial freou o emprego progres­sivo da mulher, que antes era crescente.

O mais lamentável é que a imagem da mu­lher como ladra de emprego recuperou to­da a sua força latente e faz renascer a ideologia da mulher para o lar.

Encontramo-nos diante de uma das discriminações de maior envergadura quantitativa da história: 50% da humani­dade não pode desenvolver plenamente suas capacidades humanas.

O lema do Decênio da Mulher é: Igualdade, Desenvolvimento e Paz.

Para a Igualdade ainda falta percorrer muito caminho, embora os princípios estejam aceitos e reconhecidos.

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Fonte: Mercedes Pániker – É licenciada em Ciências Químicas pela Universi­dade de Barcelona. Diplomada pelo IESE, dirigiu sua própria empresa familiar. É consultora do Centro Internacional de Comércio de Genebra.

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