A empresa inovadora viu-se antes na necessidade de assimilar esta mentalidade, chegando até a modificar substancialmente sua estrutura para permitir o crescimento deste “projeto” que exige um ecossistema peculiar.
Em muitos casos inovar é, na prática, sinônimo de aplicar tecnologia.
Não se trata apenas de analisar e tomar posições nos setores chamadas de ponta, mas de colocar em ponta setores maduros ou em crise, através da incorporação das chamadas tecnologias emergentes e convergentes, como a robótica, a informática e a biotecnologia.
Um produto tradicional pode converter-se em um produto novo, se lhe é incorporada nova tecnologia.
Para dispor da tecnologia só há basicamente duas possibilidades: ou se compra, ou se descobre.
Nesta alternativa está a tragédia de numerosas empresas e países, ou então – no caso da empresa inovadora – a oportunidade estratégica do sucesso.
Na maioria dos casos, a compra de uma tecnologia – de uma patente – e sua posterior assimilação foram a chave definitiva que colocou em marcha um processo inovador auto alimentado, acelerado, com vida própria.
O caso japonês, tantas vezes mencionado e muito pouco imitado, dá a pista do caminho a seguir.
Infelizmente, há também exemplos do contrário: começa-se comprando tecnologia, e a balança tecnológica continua desequilibrando-se de ano para ano.
A frase “a tecnologia pode ser comprada” traduziu a ideia-mestra do desenvolvimento de muitos países que, anos depois, continuavam no ponto de partida ou piores.
A nova matéria-prima: a tecnologia
A tecnologia no exterior é comprada com facilidade?
Parece que essa facilidade já não é a mesma nos dias de hoje.
Os países industriais, especialmente os europeus, estão limitando sua oferta técnica, porque é a única matéria-prima de que dispõem e porque lhes serve como elemento de pressão em um mundo onde todo possuidor de matérias-primas procura valorizá-las ao máximo.
Apesar disso, um recente estudo realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre as políticas científica e tecnológica europeias durante os anos 80 assinala que as empresas da Grécia, Portugal e Turquia – os países europeus com menor volume de pesquisa e menor nível tecnológico – “preferem comprar sua tecnologia no exterior (…).
Esta preferência para com a tecnologia importada está unida à falta de confiança da indústria na capacidade das próprias universidades, o que por sua vez explica uma falta de procura de investigação universitária e é causa de sua ineficácia…”
O juízo emitido pelos peritos da OCDE vai mais longe, porque “deve-se reconhecer que tais tecnologias (compradas) nem sempre são as mais idôneas, e que a compra de tecnologia no exterior não dispensa as empresas de investir em pesquisas adicionais necessárias para o processo de assimilação da referida tecnologia”.
A conclusão é evidente.
Uma tendência inovadora baseada exclusiva ou preferentemente na simples compra de tecnologia acaba por hipotecar a independência nacional, que fica à mercê da vontade conjuntural de um terceiro país.
Contribui também para enfraquecer a capacidade de reação das próprias empresas, universidades e organismos de pesquisa.
E, finalmente, muitas vezes termina na má operação de compra, que exige abundantes gastos adicionais para a adaptação às circunstâncias concretas da empresa ou do país em questão.
Como consequência, nada deveria impedir que cada empresa, a nível de suas possibilidades, e cada Estado, de acordo com sua situação no ranking de riqueza dos países, dediquem seus melhores esforços ao impulso de sua própria pesquisa, e ao ulterior desenvolvimento e aplicação industrial de suas invenções.
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Fonte: Carlos Ferrer Salat – Presidente da Confederação Espanhola de Organizações Empresariais (1977 – 1984). Fundador do Banco da Europa e de Ferrer Internacional S.A.