As palavras pesquisa e desenvolvimen­to popularizaram-se nos últimos anos, em consequência do imperativo inelutável de inovar, que as empresas de todos os países tiveram que enfrentar como resposta à revolução científica e à crise econômica.

A pesquisa por si só não é suficiente.

É preciso saber aplicar rapidamente os re­sultados obtidos na investigação à melhoria dos produtos.

Por isso surge com igual força o conceito de desenvolvimento, que encerra o propósito de incorporar qual­quer avanço obtido à exploração industrial.

Portanto, pesquisa e desenvolvimento tecnológico andam de mãos dadas, indissoluvelmente unidos.

Já não é possível pensar que qualquer descoberta científi­ca durma durante anos no laboratório de alguma universidade, como aconteceu com frequência no passado.

Hoje, todo avanço deve visar uma rápida e notória mudança na vida do maior número pos­sível de pessoas, tornando-se acessível e assimilável.

Isso é função do desenvolvi­mento tecnológico, pelo qual a indústria aproveita os frutos da pesquisa.

Praticamente todos os campos da vi­da estão abertos à pesquisa e ao desenvolvimento.

Em alguns setores concretos, porém, relacionados com as novas necessidades industriais, levam-se a termo pro­cessos especialmente intensos.

Esse é o ca­so da eletrônica e da informática, da ener­gia em suas diferentes formas, da química, da biologia, das telecomunicações, da agricultura, da aeronáutica etc.

Em quase todos os setores menciona­dos, os planos de investigação são longos e custosos.

Enfrentar essas pesquisas su­põe um forte investimento econômico que não está ao alcance das empresas individualmente consideradas.

Em todo caso, a situação dos diferen­tes países é díspar, mas pode-se dar co­mo certo que 60% dos gastos mundiais em investigação e desenvolvimento são realizados pelo setor industrial.

Em al­guns países, boa parte do financiamento de tais investimentos procede diretamen­te do próprio governo; em outros, indi­retamente, através das compras públicas, uma imponente força motriz que puxa o carro da inovação e da pesquisa.

Nos Es­tados Unidos, a título de exemplo, a administração pública compra produtos de pequenas e médias indústrias num mon­tante anual de um bilhão de dólares.

Mas não se pode esquecer os casos de países nos quais o peso fundamental da pesqui­sa repousa nas empresas privadas.

É certo que a pesquisa empresarial es­tá altamente concentrada, e isto, em prin­cípio, parece constituir uma dificuldade adicional para os que desejariam iniciar a caminhada da inovação tecnológica.

Assim, por exemplo, nos Estados Unidos 53% dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento foram realizados, entre os anos 1976 e 1978, por apenas 20 empresas.

Mas a concentração impressionante da investigação mostra toda sua força, quando se sabe que 20% do total dos gas­tos em pesquisas foi levado a cabo uni­camente por 4 empresas.

O gráfico mostra os volumes dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, nos principais países industrializados. Além disso, compara esses investimentos com o Produto Interno BrutoPIB de cada país, o que indica melhor o esforço aplicado no processo de inovação.

A importância da pequena e média empresa

Já são muitos os países em que o Es­tado se interessou pelo assunto, não tan­to para cortar as asas da pesquisa limita­da às grandes empresas, mas para favo­recer a capacidade inovadora e investiga­dora das pequenas e médias.

Sem dúvi­da, a situação varia amplamente segundo as empresas e os setores, mas ainda restam espaços abertos nos quais as empresas de tamanho médio ou pequeno aproveitam os vazios deixados pela pesquisa das grandes.

Em muitos casos, uma pequena indústria – com elevada flexibilidade e grande capacidade de interven­ção imediata – está mais capacitada pa­ra incorporar as descobertas de última ho­ra, embora tenha um futuro incerto e su­ponha um risco elevado.

Não obstante, em matéria de investi­gação e desenvolvimento ainda conserva sua atualidade uma das conclusões a que se chegou num relatório realizado pelo chamado “Clube dos 60”, no Japão.

“As indústrias privadas – diz o relatório – até agora foram as principais fontes da inovação, mas já não poderão desenvol­ver com seus próprios meios as novas tecnologias, cujos prazos de amadurecimen­to são muito mais importantes e exigem capitais acima das suas possibilidades.

Por conseguinte, o Estado terá que inter­vir mais, em cooperação orgânica com as empresas e os laboratórios do setor pri­vado.

Sem perder de vista, porém, que o Estado, por suas estruturas e por sua di­mensão, não seria capaz, se tivesse que agir como mestre-de-obras, de difundir com eficácia os frutos do desenvolvimento tecnológico, nem sequer de dar-lhes aplicação”.

Já dissemos anteriormente que a ino­vação é uma planta muito delicada que tem seu próprio ecossistema.

Se um dos agentes desse sistema – as empresas, as políticas governamentais, a universidade ou o instituto pesquisador – não funcio­na sincronizadamente com os outros, a inovação não chega a se produzir, não se cria a massa crítica necessária de empre­sas inovadoras, da qual os países necessitam para resolver boa parte dos problemas levantados pela crise.

A inovação – e sua concretização es­pecífica na pesquisa e no desenvolvimen­to – depende em grande parte da ini­ciativa empresarial.

Entretanto, para que o trabalho impulsionador desse desenvolvimento tecnológico chegue a alcançar es­sa massa crítica é necessário que as administrações públicas deem o exemplo, guiando de comum acordo com os empre­sários os objetivos dos centros oficiais de investigação para as necessidades detec­tadas pelo sistema produtivo, mantendo e incentivando acordos de colaboração para projetos concretos entre as empre­sas privadas e estes centros.

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Fonte: Carlos Ferrer Salat – Presidente da Confederação Espanhola de Organizações Empresariais (1977 – 1984). Fundador do Banco da Europa e de Ferrer Inter­nacional S.A.