Em grande parte, o forte crescimento econômico dos anos 50 e 60 explica-se ho­je pela acumulação de inovações que fo­ram surgindo naquelas duas décadas.

A Organização de Cooperação e Desenvol­vimento Econômico (OCDE) assinalou os seguintes fatores-chaves que explicam aquela etapa de prosperidade:

  • A existência de um forte potencial de demanda, sustentado pelo aparecimento de novos produtos e pelo gradual aparecimento de um mercado internacional sem fronteiras.
  • O grande aumento da produtividade devida, entre outras razões, ao influxo do progresso técnico em duas grandes áreas da economia: a agricultura e a indústria.
  • A descoberta e rápida exploração de novos campos petrolíferos naqueles anos, provocando um aumento generalizado de produtividade.
  • Um ambiente sócio econômico otimis­ta, propiciando um clima no qual os empresários se viram estimulados a assumir riscos.
  • O custo acessível dos créditos, que favoreceu o investimento e permitiu a propagação dos progressos técnicos.
  • O entusiasmo generalizado para com qualquer tipo de inovação técnica.
  • Além disso, as expectativas de receitas dos próprios consumidores, estimulou-os a adquirir produtos cada vez mais elabo­rados, com um componente cada vez maior de valor acrescido.

Hoje, muitos destes fatores já perten­cem à História que, psicologicamente, em muitas ocasiões fica demasiado distante.

Não obstante, vale a pena refletir sobre estes fatores, muitos dos quais podem reduzir-se ao denominador comum do espírito de inovação em todos os níveis, que se respirou naquelas épocas.

Hoje, passada aquela euforia dos anos cinquenta e sessenta, pode-se detectar cer­to clima de desencanto, não tanto para com a inovação e sim para com os frutos diretos da ciência e da tecnologia.

A de­terioração do meio ambiente, atribuída a uma aplicação maciça e indiscriminada de determinadas tecnologias, a progressiva complexidade de uma tecnologia cada vez menos compreensível pelo cidadão co­mum, a apresentação do progresso tecnológico como um processo de destruição criativa, eis aí alguns fatores que podem criar um clima ambiental adverso para com determinadas inovações tecnológicas e, por extensão, para com a tecnologia em geral.

Tradição e inovação

Por isso, em muitas ocasiões tem sido dito que o processo de inovação não é indolor: exige importantes transformações profissionais e de mentalidade, que implicam num processo de comunicação, de informação e de renovação mental de nossas próprias estruturas.

Essa mentali­dade de abertura para o novo e o desco­nhecido – na qual a mudança tecnológi­ca é apenas uma parte – implica riscos e obrigações constantes de adaptação.

Daí as resistências surgidas em face da inovação, que em quase todos os casos é vista pelo menos com indiferença.

Muita gente, ensinada a fazer as coisas de certa maneira, tem uma inércia insuperável e continua aplicando os conhecimentos adquiridos e as formas tradicionais de trabalhar.

Entre as resistências podem também ser incluídas certas mensagens usadas atualmente na linguagem publicitária, que tendem a sublinhar, com certo saudosismo, precisamente o contrário do espírito de inovação.

Apresentam-se estilos de vi­da “à moda antiga” ou “à maneira de sempre”.

O “bom” seria não o “novo”, como antes se quis fazer crer, mas o que foi produzido “como o faziam nossos pais”.

Essas resistências à inovação são per­cebidas em diversas camadas e em mui­tos veículos de divulgação.

Mas são ali­mentadas por certas formulações de par­tidos políticos e têm também sua expres­são até no seio das empresas.

Há resistên­cia dos empregados, porque inovar muitas vezes exige formação e/ou reclassificação do pessoal, derivadas da implantação de um novo sistema.

Há resistência das centrais sindicais, que veem com temor qualquer nova técnica ou sistema que possa supor induzir diminuição no nível de emprego, esquecendo que historicamente a tecnologia e a inovação foram sempre criadoras de emprego e prosperi­dade em termos de conjunto.

Resistências são encontradas até no grupo seleto de pessoas que deveriam ser os motores da mudança: os executivos de uma empresa, ou mesmo seus diretores, podem chegar a considerar que determi­nada inovação põe em perigo uma situa­ção concreta de privilégio.

Esse aspecto foi ressaltado de modo significativo em um dos momentos mais delicados da história da Ford: a resistência mais forte à mudança derivava precisamente da cúpu­la diretiva, emperrada e insensível à mudança.

Em outros casos, a resistência deriva das próprias possibilidades financeiras de uma empresa.

No caso concreto da ino­vação tecnológica, não se podem perder de vista os investimentos nas pesquisas que devem ser realizadas: o capital de risco dificilmente tende para investimentos com um médio ou longo prazo de amadurecimento.

Por tudo isto, é importante considerar a inovação nas suas verdadeiras dimen­sões, neutralizando logo possíveis efeitos negativos de tal ou qual medida, a fim de não permitir que atuem como freio de um processo histórico.

Dar sentido à inova­ção é considerá-la como sinônimo de produzir melhor e a um menor custo, o que se traduz num aumento da competitividade e numa garantia de maior rentabilidade.

A inovação começa, portanto, numa atitude diferente diante do que é novo: novas máquinas, novos métodos de ges­tão, novos produtos.

Completa-se na adaptação às novas tecnologias.

E termi­na por propiciar o aparecimento e o desenvolvimento de outras.

É a conhecida sequência: usar para compreender, para reproduzir, e finalmente para poder inovar.

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Fonte: Carlos Ferrer Salat – Presidente da Confederação Espanhola de Organizações Empresariais (1977 – 1984). Fundador do Banco da Europa e de Ferrer Inter­nacional S.A.