Embora nem todas as provas sejam conclusivas, em linhas gerais, a pesquisa parece demonstrar que a liderança democrática tem efeitos positivos sobre a satisfação e a integração dos subordinados, o que costuma redundar em maior cooperação para os objetivos da empresa.

Ou seja, existem diferentes estilos de relação entre os diretores e seus subordinados, desde o autocrático até o democrático e de modo geral parece que o estilo democrático melhora a integração dos subordinados na empresa.

Existem diferentes estilos de relação entre os diretores e seus subordina­dos, desde o autocrático até o democrá­tico. A tomada de decisões do diretor au­tocrático centraliza-se em sua própria vontade, ao passo que a tomada de deci­sões do diretor democrático tem por objetivo despertar a participação de seus su­bordinados para alcançar a decisão. O interesse do diretor autocrático reside na ta­refa, em conseguir que o trabalho se realize. O interesse do diretor democrático, pelo contrário, reside na qualidade da relação com seus subordinados.

As pesquisas referentes ao estilo auto­crático de direção utilizaram muitos ter­mos cujos significados nem sempre são equivalentes, embora, em termos gerais, exprimam conceitos muito próximos. Com efeito, os mesmos líderes descritos como autocráticos ou autoritários também são qualificados como partidários da “teoria X”, coercitivos, persuasivos, preocupados com os objetivos, fornece­dores de trabalho e orientados para as ta­refas. O diretor autocrático inicia a estrutura, fornece a informação, determina as tarefas que devem ser realizadas, elabo­ra as regras, promete recompensas segundo o rendimento e ameaça castigar os que não realizam o trabalho.

Da mesma forma, há outro conjunto semelhante de adjetivos para qualificar os diferentes graus de interesse pelos subor­dinados e sua participação. Deste modo, existem líderes compreensivos, democrá­ticos, consultivos, participativos, centrados no trabalhador, preocupados com os indivíduos, solidários, que fomentam a integração nas relações pessoais, que to­mam decisões conjuntas e defensores da “teoria Y”. O líder democrático pede conselhos, opiniões e informações a seus colaboradores, consulta seus subordinados ou compartilha com eles a tomada de decisões. Ele utiliza seu poder para fixar o marco que permite aos colaboradores participar das decisões sobre as tarefas a serem realizadas.

Considerações teóricas

Os que teorizam sobre o assunto po­dem ser classificados em três grupos: os partidários do enfoque de líder autocrá­tico centrado na tarefa (Miner, 1968, e os clássicos da “direção científica”); os que defendem um enfoque mais democrático (Likert, 1967); e por último os que afir­mam que tudo depende do ambiente: a organização, a tarefa, o líder e os subordinados em questão (Fiedler, 1967; Hel­ler, 1969; Vroom e Yetton, 1974; Bass e Valenzi, 1974).

Por que, então, se levam em conside­ração somente duas classificações? Por­que só existem duas formas de modificar o comportamento dos subordinados: mu­dar a informação, a compreensão ou a habilidade do subordinado para realizar a tarefa; ou transformar sua motivação para realizá-la. Quando o diretor possui conhecimentos mais relevantes que os subordinados, o estilo de direção orienta­do para a tarefa assegura a boa transfe­rência de informação aos subordinados. Mas, nas numerosas situações em que os subordinados têm tanto ou mais conhecimento do que o supervisor ou o poder está muito compartilhado, a motivação dos colaboradores dependerá em grande parte da capacidade do líder para torná-los partícipes das decisões que afetam a realização da tarefa, assim como de sua preocupação sobre aquelas decisões e so­bre seus próprios subordinados.

Os líderes autocráticos dependem, ao mesmo tempo de sua capacidade de persuasão e de seu poder de coerção. Um lí­der inteligente consegue persuadir seus subordinados, porque estes confiam em que suas sugestões resolverão os problemas que o grupo enfrenta; uma pessoa pode­rosa obriga os outros a segui-la, porque o poder que lhe confere sua posição de líder, ou sua própria ascendência pessoal, se traduz em castigos ou recompensas. Um líder inteligente pode influir indire­tamente no comportamento dos outros proporcionando as chaves que lhes permitam alcançar os objetivos; uma pessoa poderosa influi diretamente no compor­tamento dos outros, concedendo ou ne­gando recompensas ou castigos, segundo seus respectivos rendimentos (Bass, 1960).

A liderança democrática costuma exi­gir grande maturidade e certa compreen­são de seus processos inerentes, tanto por parte do diretor como de seus subordinados. Alguns líderes são considerados de­mocráticos em virtude da utilização de procedimentos parlamentares e de toma­das de decisão majoritárias. Outros consultam permanentemente seus subordinados, procuram obter consensos e buscam um relacionamento aberto, sincero e baseado nos subordinados.

Essa dualidade pode ser rastreada ao longo de toda a história da humanidade. Como se deve dirigir os homens? Como se deve governar os homens? Existem duas opiniões predominantes, baseadas em doutrinas opostas com relação à natureza humana, a qual ou está marcada pelo pecado original, ou possui capacida­de para encontrar sua salvação. Se a hu­manidade é essencialmente má, os ho­mens devem ser submetidos a controle e recompensados pela autoridade. Se a hu­manidade é boa por natureza, então os homens devem gozar de liberdade para aprender e desenvolver-se. O gráfico Autoridade e liberdade ilustra esta dualida­de, que decorre das duas concepções sobre como se deve dirigir os homens.

O gráfico ilustra os dois pólos da dualidade que, ao longo da história, da condução dos assuntos humanos, enfrentou duas concepções filosóficas e antropológicas radicalmente distintas. De um lado, uma concepção autoritária só concebe a salvação humana através da disciplina e da obediência, o que supõe privilegiar estruturas sociais piramidais. De outro, está a concepção que considera a liberdade de equivocar-se como condição para se aprender a ser livre.

Comunidade conceitual e comunidade empírica

O estudo de um ato particular, reali­zado por pessoas diferentes, leva a con­clusões distintas daquelas oriundas de um estudo feito por pessoas que realizam coerentemente determinado conjunto de atos. Bass, Valenzi, Farrow e Solomon (1975) comprovaram que, de acordo com a descrição dos superiores por seus subor­dinados, a direção e a negociação estavam positivamente correlacionadas. Maior ain­da era a correlação entre consulta, parti­cipação e delegação. Contudo 46 analis­tas, utilizando procedimentos de atribui­ção de respostas, puderam diferenciar rá­pida e convincentemente as diferentes condutas de direção e negociação, assim como as atitudes que intervêm na consul­ta, na participação e na delegação.

Os líderes que consultavam seus subor­dinados também favoreciam a participa­ção e a delegação. Não obstante, os três estilos são diferentes entre si e, em certa medida, têm antecedentes e consequências diferentes. A independência fatorial de cada estilo facilitaria a análise. Contudo, apesar de estarem correlacionados, sua distinção conceituai é viável e útil, como acontece com as medidas de peso e altu­ra do corpo humano que se analisam separadamente, apesar de estarem empiri­camente correlacionadas.

A maioria dos diretores tende a utili­zar muitos estilos diferentes. Hill (1973) comprovou que somente 14% dos 124 su­pervisores analisados utilizavam um mes­mo estilo de direção em quatro situações diferentes. De forma semelhante, ao pedir a 226 diretores que qualificassem seu estilo de direção como autocrático, con­sultivo, participativo ou de laissez-faire, McDonnell (1974) comprovou que todos utilizariam um estilo diferente diante de cada uma das 12 situações propostas.

Diferenças nos processos e nos resultados previstos

Os primeiros estudos sobre o tema fo­ram experimentos comparativos entre os efeitos de um líder autoritário e um líder democrático. O líder autoritário ou au­tocrático planejava as tarefas que deviam ser realizadas e não se preocupava de forma alguma com a necessidade de autono­mia e desenvolvimento dos membros do grupo; o líder democrático, pelo contrá­rio, compartilhava a tomada de decisões com seus subordinados e se preocupava com as necessidades que estes tinham de participar das decisões sobre as tarefas cu­ja realização estava prevista. O líder au­toritário avaliava o rendimento de seus subordinados com critérios pessoais; o lí­der democrático, pelo contrário, era ob­jetivo e racional. O líder autoritário mantinha-se distante ao passo que o líder democrático ignorava as distâncias sociais que poderiam existir dentro do grupo.

Continuando esses experimentos pio­neiros sobre liderança autoritária e demo­crática, os estudos seguintes concentra­ram seu interesse em algum dos quatro as­pectos da discriminação entre ambos os estilos de direção: Em que medida o lí­der compartilha a tomada de decisões com seus subordinados? Em que medida o líder se interessa pelos subordinados? Em que medida o líder utiliza os castigos e a coerção?

Os quatro aspectos são conceitualmente diferentes entre si. Contudo, aqueles que apresentam um aspecto da conduta democrática certamente também exibirão os outros. Com efeito, o líder que fomen­ta a participação estará mais preocupa­do com as necessidades de seu grupo do que o líder coercitivo, mas são comuns as mais diversas combinações. Um diretor autocrático e ditatorial pode estar preo­cupado com as necessidades de seus subordinados. Um diretor participativo po­de fomentar a tomada de decisões em gru­po, e ao mesmo tempo enfatizar mais a necessidade de finalizar a tarefa do que as necessidades do grupo.

De qualquer modo, em geral é prefe­rível a autocracia ou a democracia à au­sência de ambas. Devem ser levados em consideração os objetivos, as exigências das tarefas e as relações interpessoais pa­ra poder determinar qual é a melhor al­ternativa. O desenvolvimento da compreensão e da motivação dos colaborado­res exige do líder mais a ação do que a inação.

Problemas ao analisar as evidências

Alguns pesquisadores definiram e pu­rificaram as pautas de comportamento do líder com maior precisão do que outros. É difícil determinar em poucos estudos se determinado tipo de comportamento de­ve ser classificado como democrático, participativo, compreensivo ou orientado para as relações interpessoais.

A definição e a medida da satisfação dos colaboradores e a produtividade do grupo levantam uma dificuldade adicio­nal. Alguns estudos medem a satisfação global, ao passo que outros medem a sa­tisfação com relação à liderança, ao tra­balho, ao grupo ou à organização. Ou­tros medem a produtividade em função da quantidade ou da qualidade do pro­duto. Assim, pois, as definições de satis­fação e produtividade dos diferentes estudos são pouco homogêneas. Por últi­mo, as relações causais não são simples e lineares, mas complexas e curvilíneas, o que dificulta ainda mais a compreensão profunda do problema.

Causa e efeito

Aqui, os autores enfrentam a eterna questão da “galinha ou do ovo”. Os es­tudos pontuais e coincidentes sobre a li­derança e suas consequências correm o risco de serem estudos pontuais da lide­rança e de suas condições anteriores: os líderes seriam autocráticos porque seus grupos de trabalho são improdutivos; pe­lo contrário, os líderes poderiam ser democráticos quando seus grupos de traba­lho já fossem produtivos. Escasseiam os estudos de séries temporais, ao passo que são abundantes os estudos pontuais. A pesquisa de Likert (1967), sobre as razões que permitem às organizações serem mais democráticas, indica que as consequên­cias desses esforços não se materializam imediatamente: podem passar anos até que a mudança produza efeitos visíveis sobre o rendimento.

Os subordinados moderam o compor­tamento do líder. Os dados confirmam o fato, já mencionado, de que o líder de um grupo produtivo pode se preocupar mais com as necessidades de seus subordina­dos do que o líder de um grupo de baixo rendimento. Ora, Mitchell, Larson e Green (1977) demonstraram que as des­crições feitas pelos subordinados da ini­ciativa e da deferência do líder se confun­dem equivocadamente com sua percepção da qualidade do rendimento do grupo. A distinção entre causa e efeito complica-se ainda mais, na medida em que as corre­lações refletem as teorias implícitas sobre a liderança dos próprios pesquisadores. Em outras palavras, pode-se assumir inconscientemente que os subordinados se­riam mais produtivos sob determinado modelo de direção, de modo que o infor­me sobre o supervisor apareceria como consequência da avaliação do rendimen­to do grupo (Rush, Thomas e Lord, 1977).

Deste modo, no estudo de Mit­chell, Larson e Green, o conhecimento do bom rendimento do grupo produziu cer­ta inflação na avaliação da estrutura de consideração e iniciação. Mais ainda, es­sas distorções na avaliação da liderança, devidas ao conhecimento do rendimento, também se produziram quando os avalia­dores de líderes com alto ou baixo rendi­mento tiveram de qualificar o comporta­mento de lideranças idênticas e altamen­te destacadas (Lord, Binning e outros, 1978).

Embora pareça extremamente ar­riscado assinalar uma só linha de causalidade, – porque a distinção entre causa e efeito com frequência se torna impreci­sa ou adquire traços de circularidade – é evidente que o estilo de direção na rea­lidade não pode ser concebido como uma variável independente, mas compreende uma interação entre todos os elementos da organização, tal como foi analisado por McKinsey, nos Estados Unidos.

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Fonte: Bernard M. Bass – Antigo Diretor do Management Research Center, das Universidades de Pittsburgh e de Rochester. Pro­fessor de Comportamento Humano na State Uni­versity de Nova York.

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