Efeitos sobre o rendimento

Os resultados dos estudos dos efeitos de curto prazo de liderança autocrática e democrática sobre o rendimento dos gru­pos competitivos são completamente di­versos, e por isso admitem diferentes lei­turas. Os objetivos de rendimento do gru­po são a produtividade imediata e a so­lução dos problemas, mais do que o de­senvolvimento das capacidades de equi­pe e a motivação.

  • Evidências de que a liderança autocrá­tica é melhor. Torrance (1953) informa que as equipes que receberam críticas com métodos altamente autoritários mostra­ram uma melhoria no rendimento sensi­velmente maior do que a das equipes cri­ticadas com métodos menos estruturados. Hise (1968), em seu estudo sobre grupos empresariais simulados, verificou que a produtividade estava mais positivamente relacionada com a supervisão estreita do que com a supervisão geral. Shaw (1955) obteve resultados que indicam que a ve­locidade e a precisão do rendimento do grupo em uma rede de comunicação mui­to estruturada eram sensivelmente melhores sob uma liderança autoritária do que sob a liderança democrática. Em seu es­tudo de grupos em uma organização for­mal, Shepherd e Weschler (1955) comprovaram que o distanciamento psicossocial entre o líder e seus seguidores estava associado a um menor índice de dificulda­de de comunicação, ao passo que o tra­balho em contato estreito estava associa­do a maior dificuldade de comunicação. Bergum e Lehr (1963) analisaram o rendimento do controle (detecção) sob diferentes condições de supervisão e comprovaram que era possível manter um eleva­do nível de rendimento da vigilância sob condições autoritárias.

Até mesmo no curto prazo, as vanta­gens da liderança autocrática dependem de que os líderes tenham maior conhecimen­to e controle dos recursos. Assim, pois, os enfoques democráticos se recomendam quando os subordinados possuem tanto ou mais conhecimento do que o mínimo necessário para levar a cabo a tarefa co­letiva. Isto é facilmente demonstrável me­diante o exercício PAXIT (Shackleton, Bass e Allison, 1975). A liderança auto­crática pode ser produtiva se a pessoa ca­pacitada à qual se atribui o papel de líder sabe mais sobre o problema levantado do que seus subordinados. Commalleri, Hendrick, Pittman e outros (1973) de­monstraram claramente este efeito utili­zando o exercício “Perdidos na Lua”. Quando o líder autocrático conhece a res­posta correta, conseguirá resultados mais positivos do que um líder democrático. Por outro lado, um líder autocrático com informação equivocada levará seu grupo por vias equivocadas durante mais tem­po do que um líder democrático com o mesmo grau de desinformação.

Nos Estados Unidos fizeram-se experiências com diferentes resultados para comprovar de forma empírica os efeitos da liderança autoritária e democrática na produtividade e nas relações entre os diretores e subordinados. Assim, em certos casos verificou-se que a produtividade parece estar positivamente relacionada com o controle e a liderança autoritária mais do que com a democrática. Certas experiências mostraram até que a imposição de multas e castigos levava os participantes a cumprir ao máximo os desejos dos supervisores. Contudo, outras experiências mostraram que o sistema de supervisão punitiva e controle estrito, em contraste com a supervisão geral sem castigos, tendia a aumentar de maneira ostensiva a agressividade de cada indivíduo para com seus companheiros e para com o supervisor, reduzindo a produtividade. Em geral, nos Estados Unidos os supervisores evitam as medidas punitivas. 

Supervisão autocrática e castigos. Ravene French (1958) impunham multas quando os participantes não agiam de acordo com a vontade de seus superviso­res. Os participantes resistiam procurando cumprir os desejos dos supervisores.

Dag e Hamblin (1961) analisaram uma mostra de 24 grupos, de quatro membros cada um, que encaixavam modelos de ca­vilhas, molas e diversas bolas de cores de acordo com complexos desenhos. Nessa complicada tarefa, foram submetidos a sistemas de supervisão estreita ou distan­te, com castigos ou sem castigos. O siste­ma de supervisão punitiva e estreita, em contraste com a supervisão distante sem castigos, tendia a aumentar em cada in­divíduo a sensação de agressividade para com seus companheiros e para com o su­pervisor, reduzindo sensivelmente a produtividade.

Nos Estados Unidos, os supervisores de modo geral tendem a evitar as medi­das punitivas. Desse modo têm maior ca­pacidade para mostrar-se inflexíveis dian­te do minguado rendimento que obedece à falta de motivação. Maier e Danielson (1956) relatam que, mesmo quando as re­gras disciplinares justificam as medidas de castigo, os supervisores norte-americanos tendem a evitá-las. Consideram que isto tenderia a reduzir mais a produtividade, em vez de aumentá-la, mesmo nos casos de violações das regras. Keller e Szilagyi (1976) mostraram que a liderança puniti­va aumenta a ambiguidade das funções.

Schmitt (1969), que estudou os efeitos da supervisão punitiva sobre a produtividade do trabalho, encontrou repercus­sões ainda mais sutis. Seus resultados indicam que a magnitude da pena imposta sobre a tarefa melhor remunerada afeta­va a quantidade de tempo dedicada às ou­tras tarefas, quando as multas aconteciam em intervalos desiguais, mas não quan­do estes eram iguais. Para intervalos de penalização desiguais, quanto maior era a multa, menor era o tempo dedicado à tarefa penalizada e maior o tempo dedicado às tarefas não penalizadas, embora sua remuneração fosse inferior. Muitos outros estudos também põem em evidên­cia os efeitos negativos principais e secundários da supervisão punitiva, em contraste com a inexistência de sistemas de castigo.

French (1957) analisou as reper­cussões do supervisor que consegue obe­diência utilizando seu poder para castigar. Em um estudo experimental, os partici­pantes remunerados realizavam uma simples tarefa de classificação de cartões per­furados segundo o número total de per­furações. Os participantes eram multados quando não mantinham um mínimo de velocidade e precisão na tarefa. Em con­traste com o grupo que recebia uma re­muneração adicional quando alcançavam e mantinham tal nível mínimo, os parti­cipantes castigados com multas mostra­vam-se sensivelmente mais renitentes em manter a produção. Depois de quatro pe­ríodos de trabalho, o sistema de multas revelou ser um claro obstáculo para alcançar a velocidade e a precisão desejadas: os participantes queriam abandonar o trabalho, pretendiam realizar outro tipo de atividade e apresentavam sugestões para mudar as condições de trabalho. Mostravam também maiores sintomas de agressividade, sentiam hostilidade para com o supervisor e questionavam sua ca­pacidade para avaliar seu trabalho.

Outros experimentos realizados por De Charms e Hamblin (1960) obtiveram resultados semelhantes, mostrando que a supervisão punitiva aumentava a tensão dos trabalhadores e reduzia a produti­vidade.

Em resumo, existem momentos e situa­ções adequados para a liderança autocrá­tica que, quando não é punitiva, contri­bui para aumentar a produtividade dos subordinados.

  • Evidências de que a liderança democrá­tica é melhor. Comrey, Pfiffner e Beem (1952) analisaram o rendimento dos em­pregados de seis níveis hierárquicos diferentes na U.S. Forest Survey. Os super­visores dos departamentos mais eficazes eram indivíduos considerados simpáticos, democráticos, que interagiam socialmente e compartilhavam a informação que re­cebiam. De forma semelhante, Comrey, High e Wilson (1955) analisaram super­visores e trabalhadores de uma empresa aeronáutica. Os supervisores das equipes de maior rendimento eram caracterizados como pessoas com a autoridade adequa­da, que estimulavam a informação descendente, muito simpáticos, absolutamente imparciais e sem atitudes hipercríticas para com seus subordinados. Argyle, Gardner e Ciofi (1958) também regis­traram maiores taxas de produtividade, menores taxas de absenteísmo e rotativi­dade de mão-de-obra nas equipes com su­pervisão democrática e não punitiva em sete fábricas britânicas. Zweig (1966) ve­rificou que os supervisores democráticos eram catalogados pela alta direção como mais eficazes do que os supervisores com estilos de direção menos democráticos. Hall e Donnell (1979) comprovaram tam­bém que os diretores mais avançados em suas profissões eram, de modo geral, os que menos se identificavam com a “teo­ria X” ou as atitudes autoritárias; o in­verso também é certo. Day e Hamblin (1964) obtiveram resultados que indicam claramente que a inexistência de supervi­são estreita está associada a uma maior produtividade e harmonia do grupo.

Todavia, outras pesquisas não desco­briram diferenças significativas de produtividade a curto prazo entre grupos diri­gidos democraticamente e grupos dirigi­dos de forma autocrática (Spector e Suttel, 1956, e Lyle, 1961). Os grupos demo­cráticos tinham tendência a trabalhar com maior velocidade em condições de comu­nicação restrita, ao passo que os grupos autoritários trabalhavam mais depressa em condições de comunicação aberta. Os resultados obtidos por Adams (1952) in­dicam que, em condições médias de lide­rança democrática, as tripulações dos bombardeiros eram mais eficazes do que em condições extremas. Sales (1964) não encontrou diferenças significativas entre o rendimento de grupos com líderes democráticos e autocráticos.

Mullen (1966) não encontrou relação alguma entre a produtividade do grupo e o estilo de supervisão. Mahoney (1967), em seu estudo sobre organizações indus­triais, também não descobriu relação al­guma entre a supervisão democrática e as medidas do rendimento, e Swartz (1973), por sua parte, descobriu que o êxito dos times de futebol não dependia de serem treinadores, autocráticos, democráticos ou de tipo laissez-faire.

Em resumo, as evidências parecem in­dicar que a liderança democrática aumen­ta a satisfação dos subordinados e, em menor medida, a produtividade do grupo.

Entre as múltiplas experiências dos efeitos do tipo de liderança no rendimento, realizadas nos Estados Unidos, sobressaem as efetuadas entre o pessoal militar, tanto a pesquisa feita entre os tripulantes dos bombardeiros por Adams em 1952, como a levada a cabo por Beam em 1975 entre os trabalhadores da Marinha norte-americana. No primeiro caso, Adams demonstrou que, em condições médias de liderança democrática, aumentava de forma notável a eficácia dos tripulantes com relação aos resultados que estes mesmos obtinham em condições extremas. No segundo caso, Beam comprovou que, independentemente do nível de atividade tecnológica ou física que desempenhassem, os trabalhadores da Marinha tinham um forte desejo de serem tratados democraticamente.

Efeitos sobre a satisfação

De modo geral, a satisfação e o moral tendem a aumentar com uma supervisão democrática.

  • A liderança democrática é melhor. Beam (1975) mostrou que todos os tra­balhadores da Marinha norte-americana, independentemente do nível de atividade tecnológica ou física que desempenhas­sem, tinham um forte desejo de serem tra­tados democraticamente. Mohr (1971) obteve resultados semelhantes em 154 grupos de trabalho correspondentes a 13 departamentos estatais de saúde; de mes­ma forma que Pennings (1975), em 40 es­critórios de uma grande empresa de corretagem norte-americana. Nesses, como na maioria dos outros estudos em gran­de escala e a longo prazo, a satisfação dos trabalhadores está estreitamente associa­da ao estilo democrático de supervisão.

Baumgarten (1957) estudou as atitudes e as motivações dos cientistas nos laboratórios estatais de pesquisa e desenvol­vimento, sob três condições de liderança (democrática, autoritária e de laissez- fairé). Comprovou que os cientistas que trabalhavam em condições de liderança democrática manifestavam as atitudes mais favoráveis e as motivações mais for­tes para com seu trabalho, ao passo que as atitudes menos favoráveis correspon­diam aos que trabalhavam em condições de liderança autoritária. De modo semelhante, Harnquist (1956) observou, na Suécia, que os membros de grupos sob li­deranças democráticas tendiam a sentir- se mais satisfeitos do que aqueles que estavam submetidos à lideranças autocrá­ticas, conclusões similares as de Ziller (1957) e Mullen (1966). Contudo, não se encontrou correlação entre o estilo de su­pervisão e as intenções de mudança de trabalho.

Mandell e Duckworth (1955) descobri­ram que o nível de moral geral de 64 em­pregados no comércio era muito elevado “quando o supervisor informa como atuam”. Em uma série de pesquisas, que mais tarde serão analisadas detalhada­mente, Likert (1961) verificou que os fun­cionários públicos mostravam maior sa­tisfação por seu trabalho quando seus supervisores eram mais “pessoais” do que “institucionais” em seu trato, quando eram mais “condescendentes” ou se preo­cupavam mais com os funcionários e quando capacitavam seus subordinados para realizar melhores trabalhos. Os supervisores dos grupos de moral elevado diferenciavam-se dos supervisores dos grupos de baixo moral por analisarem o trabalho de seus subordinados com maior frequência, por fomentarem a discussão dos problemas mútuos com os subordi­nados, promovendo reuniões conjuntas e transmitindo pontualmente a informação aos subordinados.

D’Angelo (1973) verificou, em um pro­grama de desenvolvimento organizacio­nal, que os diretores de vendas que prati­cavam um estilo democrático e de “rela­ções humanas” provocavam mais mu­danças em seus subordinados do que os diretores autocráticos ou de “recursos hu­manos”. Meyer (1968) estudou duas fá­bricas, uma dirigida de acordo com a “teoria Y” de McGregor e a outra segun­do a “teoria X”: os trabalhadores da fá­brica mais democrática (“teoria Y”) mos­travam maior responsabilidade, risco, recompensa, calor e identidade, aspectos que sugerem grande coesão do grupo e satisfação individual.

  • Irrelevância da direção democrática ou autocrática sobre a satisfação. Alguns estudos não conseguiram demonstrar qualquer efeito significativo da direção democrática ou autocrática sobre a satisfação dos membros do grupo. Com efeito, Hamblin, Miller e Wiggins (1961), em um estudo de grupos experimentais de estudantes, não encontraram relação alguma entre a liderança democrática ou autocrática é o moral do grupo; White (1963), por seu lado, examinou as relações entre o tipo de liderança e o poder e o moral dos conselhos de administração: o poder dos subordinados era maior nos conse­lhos sob liderança democrática, mas o moral dos subordinados não estava relacionado nem com o tipo de liderança nem com as diferenças de poder.

Em resumo, as evidências parecem in­dicar que a supervisão democrática con­tribui para aumentar a satisfação dos su­bordinados e, em menor medida, a pro­dutividade. Não obstante, tudo depende, em última instância, de cada situação par­ticular.

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Fonte: Bernard M. Bass – Antigo Diretor do Management Research Center, das Universidades de Pittsburgh e de Rochester. Pro­fessor de Comportamento Humano na State Uni­versity de Nova York.

Categorias: RECURSOS HUMANOS