As medidas que permitem variar a capacidade de produção a curto prazo são de implantação relativamente rápida a partir do momento em que se toma a decisão de ampliar ou de reduzir, embora depois se mantenham durante muito tempo.
Em contraposição, as que permitem variar a capacidade de produção a longo prazo são aquelas que demoram para entrar em funcionamento vários meses, e a mesmo vários anos, desde que se toma decisão.
Principais características
Ambos os tipos de medidas ou de decisões têm outras características importantes que implicam tratamentos bastante diferentes segundo as organizações.
Assim, as medidas de implantação a curto prazo normalmente exigem um investimento relativamente baixo no contexto da companhia, e por isso não são tomadas habitualmente nos níveis hierárquicos de maior responsabilidade, mas se descentralizam ao nível de oficina, fábrica ou centro de trabalho.
As medidas de implantação a longo prazo, pelo contrário, normalmente supõem a realização de grandes investimentos (o período de implementação é lento) e, portanto, as decisões são tomadas, a níveis de responsabilidade elevados na companhia, como a direção geral e até o próprio conselho de administração, já que, por sua envergadura, elas podem variar substancialmente a estrutura do balanço da empresa.
Razões para variar a capacidade
A necessidade de variar a capacidade de produção a curto prazo apresenta-se principalmente pelas seguintes razões:
- Incerteza com relação à continuidade da necessidade.
O esclarecimento deste aspecto exigirá uma estreita coordenação entre o responsável pelo centro de trabalho e o departamento comercial.
A incerteza é ainda mais grave no caso das empresas de serviços, que enfrentam o problema de não poder armazenar o excesso de capacidade, em forma de estoque, como as empresas industriais.
O quadro “Formas de enfrentar a evolução da demanda” mostra, em uma tabela de dupla entrada, os tipos de medidas mais utilizadas pelas empresas, dependendo de conhecerem ou não suas vendas quando programam a produção, e de conhecerem ou não a capacidade de produção quando realizam as vendas.
- Imprevisão da direção.
Neste caso, a empresa se verá obrigada a tomar medidas a curto prazo, às vezes até mantendo-as durante períodos longos de tempo.
- Nível de responsabilidade de quem deve tomar as medidas a curto prazo.
Com frequência acontece que, na ausência de uma política de recursos humanos, se procura resolver problemas de longo prazo com medidas de curto, mantendo-as durante muito tempo.
Já se comprovou a existência de empresas que durante mais de dois anos mantiveram um regime de horas extras (cujo custo pode aproximar-se do dobro de uma hora normal), que representava até um terço da capacidade total.
Apresentar à direção da empresa o estabelecimento de um turno reduzido ou de meio turno teria exigido estudos e trabalhos por parte dos diretores de produção e vendas, ao passo que o status quo que lhes permitia as horas extras evitava-lhes o trabalho de tomar decisões, ainda que fosse em troca de um custo muito elevado.
Evidentemente, a inexistência de políticas de pessoal definidas e concretas indica uma gravíssima renúncia de autoridade por parte dos estamentos superiores da hierarquia, não justificável e muito prejudicial à empresa.
Critérios para avaliar as medidas
O intento de manter a flexibilidade frente à incerteza passa forçosamente por um incremento dos custos por unidade de capacidade.
Portanto, são sempre importantes dois critérios para avaliar as medidas a tomar: flexibilidade e os custos.
Os tipos de decisões que aumentam a capacidade de produção a curto prazo são enumerados no quadro “Medidas para incrementar a capacidade de produção a curto prazo”.
Note-se que essas medidas encontram-se reunidas em dois grupos, seguindo os critérios já expostos com relação a unidades de medição, da capacidade e da forma de influir nelas.
Decisões que afetam a capacidade medida em unidades de tempo
As horas extras são de implementação relativamente rápida.
Permitem um incremento da capacidade limitada a 10 ou 15%, mas têm um custo elevado, que pode chegar ao dobro de uma hora normal.
A hora extra é muito flexível, a não ser que o regime se dilate no tempo, já que então os operários podem considerá-la um direito adquirido.
Contudo, a situação socioeconômica que atravessam muitos países, caracterizada por um elevado desemprego e um alto poder sindical, dificulta cada vez mais o uso das horas extras.
Os sindicatos conseguem introduzir nos convênios condições restritivas para a utilização de horas extras.
A contratação de pessoal eventual nos termos que a lei permite dá resultados semelhantes, mas sem as dificuldades que as horas extras apresentam frente aos sindicatos.
Todavia, a contratação eventual tem uma desvantagem específica, já que será necessário garantir de alguma forma uma suficiente formação dos operários eventuais para o trabalho que lhes será confiado.
A eventualidade dificulta e limita a aquisição de experiência por parte do trabalhador.
O aumento de turnos em suas diferentes versões (turno completo, meio turno ou turno restrito) é uma opção conveniente quando a situação de eventualidade começa a consolidar-se.
Inclui a contratação de pessoal em qualquer das modalidades legalmente permitidas e, portanto, perde flexibilidade, embora o custo por unidade de capacidade seja menor.
As instalações utilizadas são as mesmas, mas podem apresentar-se problemas de saturação nos supervisores.
Com investimentos pequenos, localizados e bem estudados, é possível eliminar os gargalos existentes.
Deve-se levar em consideração que a capacidade de produção de determinado processo está condicionada pela seção de menor capacidade; portanto, um correto equilíbrio do processo pode, com pouco investimento, incrementar muito a capacidade.
Da mesma forma, um estrito e adequado sistema de programação da produção, com seus estoques intermediários, etc, incrementará a capacidade de produção frente à opção da desordem.
Neste caso, convém insistir na grande utilidade que a informática pode apresentar.
Os sistemas de motivação do pessoal serão mais importantes na medida em que a capacidade das instalações depender da sua atitude.
Podem ser utilizadas duas grandes vias:
- Enriquecimento do trabalho.
Trata-se de um sistema que utiliza ao máximo as potencialidades humanas com relação ao trabalho e permite enriquecer a tarefa tanto em profundidade (ou maior responsabilidade) como em extensão.
Está demonstrado que, em determinadas circunstâncias, consegue grande incremento da produtividade e, portanto, da capacidade de produção real.
- Motivação econômica.
São sistemas que incluem medidas que vão desde a pura empreitada até os sistemas de remuneração por grupos.
Os sistemas de motivação, em geral, têm uma elevada rigidez frente às possíveis mudanças, já que não é fácil nem rápido mudar os hábitos de trato pessoal ou a remuneração dos trabalhadores.
Têm, também, um elevado risco de degeneração com o passar do tempo, por causa da modificação dos sistemas de trabalho, dos tempos concedidos, de vir a ser considerado pelos empregados como um direito adquirido.
A contratação de pessoal é uma medida que amplia evidentemente a capacidade de produção, sobretudo se se realiza depois de alguns estudos referentes aos gargalos existentes.
Contudo, apresenta graves inconvenientes, o principal dos quais é a rigidez da medida frente à incerteza da demanda e do valor do indivíduo.
Há maneiras legais de contratação que permitem contornar esses aspectos.
Decisões que afetam a capacidade medida em unidades de produto acabado
- Redesenho do produto.
Através de um novo projeto do produto, pode-se conseguir que este seja fabricado em menos tempo, com as mesmas instalações.
Isto redunda claramente em um incremento da capacidade em quantidade dos produtos acabados.
- Subcontrato
Inclui-se nesta seção porque o grau de subcontrato permite uma melhor utilização da capacidade quanto ao tempo necessário para produzir maior número de produtos acabados.
Contudo, o subcontrato não pode ser considerado uma medida que permita um incremento da capacidade das instalações, mas sim do negócio do ponto de vista global.
Tem uma rigidez importante por causa da necessária preparação dos fornecedores ou, em certas ocasiões, porque pode estar limitado pelas qualidades exigidas e pelas disponíveis no meio ambiente.
- Variação do mix de produtos.
Nas empresas com muitos produtos, uma variação na composição percentual dos produtos finais pode implicar uma mudança na capacidade medida em unidades de produto.
Nem todos os produtos consomem a mesma capacidade de tempo (maquinaria-homem) e por isso, ao variá-los, produz-se o efeito mencionado.
A variação do mix pode ser voluntária, mas com frequência, é o resultado de uma imposição do mercado.
Então, será necessário ter presentes, para efeito de planejamento, as mudanças que essa variação acarretará na capacidade de produção.
Em sentido estrito, a capa ide é um conceito que não implica por si mesmo sua utilização.
Isto quer dizer que a autêntica medida da capacidade é o tempo de mão-de-obra ou de máquina disponível e que sua variação é de fato medida pela variação do tempo.
Contudo, julgou-se oportuno incluir o segundo grupo de medidas e aceitar uma extensão do conceito ao número de produtos acabados, dado o uso mais amplo que se está fazendo do conceito de capacidade.
Leia mais em:
Entenda a expansão da capacidade a longo prazo
Entenda as economias de escala: um critério simplista
Entenda a evolução das instalações no tempo
Como entender a dimensão e desenvolvimento das instalações
Entenda a adequação da capacidade à demanda
Fonte: Fernando Serra Caila – Engenheiro Industrial e Master em Direção de Empresas pelo IESE. Professor encarregado do departamento de Direção da Produção, Tecnologia e Operações do IESE.