Enumeramos a seguir uma série de aspectos qualitativos e quantitativos que devem ser estudados em toda a sua amplitude antes de tomar decisões sobre a capacidade, os quais variam segundo a situação competitiva do setor.
A figura “Processo de análise, diagnóstico e tomada de decisões” mostra esquematicamente uma metodologia para uma abordagem racional.
A figura mostra uma metodologia que permite abordar as consequências das decisões de ampliar a capacidade, incidindo nos aspectos quantitativos e qualitativos que dão a medida do risco de uma decisão dessa natureza. Os critérios decisivos para a avaliação agrupam-se em sete classes: quantitativos, tecnológicos, de tipo estrutural, competitivos, fluxos de informação, direção e política governamental. A empresa tem algumas limitações e determinados recursos, o que incide no diagnóstico de futuro. A decisão também será condicionada pelos diretores.
Critérios qualitativos
- Ampliação da capacidade de forma descontínua.
Há setores industriais que, por motivos tecnológicos, têm de ampliar sua capacidade a grandes saltos e de forma descontínua, como acontece com a indústria petroquímica.
Nesse caso, o risco aumenta em função de desconhecimento das atitudes da concorrência e da possível criação de um excesso de capacidade estrutural durante longo tempo.
- Economia de escala.
O conceito de economia de escala permite prever a evolução do custo unitário de um produto na medida em que se incrementa a capacidade de produção.
A presunção funda-se no fato de que o custo descerá até um mínimo, chamado tamanho econômico da indústria, como consequência da melhor e mais eficiente utilização dos serviços centrais da fábrica.
- Redução do número de instalações quando o tamanho daquela que funciona é grande.
Quando o tamanho econômico da indústria é grande e as instalações novas que se constroem são significativamente mais eficientes, seu número deve ser reduzido ou haverá excesso de capacidade, a não ser que a demanda cresça com rapidez.
Um exemplo desta situação é dado pela indústria do automóvel, na qual, embora tecnicamente seja possível, economicamente não é nada interessante construir fábricas pequenas.
- Mudanças na tecnologia da produção.
As mudanças na tecnologia de produção têm o efeito de atrair os investimentos para a nova tecnologia, em busca das vantagens competitivas que oferece.
Contudo, frequentemente continuam operando fábricas com tecnologia antiga, visto que, quanto maiores são as dificuldades de fechar as antigas instalações, menores são as probabilidades de que sejam retiradas do mercado de forma ordenada.
- Importantes dificuldades para o fechamento das fábricas.
Existem dificuldades de todo tipo que impedem o fechamento das fábricas obsoletas ou simplesmente não rentáveis.
Quando são importantes as barreiras de saída, o excesso de capacidade ineficiente só abandona lentamente o mercado.
Isso faz com que os períodos de excesso de capacidade se prolonguem.
- Situação do mercado fornecedor de equipamento.
A situação do mercado fornecedor de equipamento é outro critério importante, já que, mediante subsídios, financiamento fácil, baixas de preços e outros, pode aumentar o excesso de capacidade nos setores industriais de seus clientes.
Na medida em que o setor se encontra em dificuldades, a luta pelos pedidos pode facilitar a instalação de nova capacidade que não se estabeleceria em circunstâncias normais.
- Competidores integrados para trás.
Quando os competidores no setor industrial estão integrados para trás no processo, aumenta a rigidez frente aos possíveis abandonos ou fechamentos das instalações, porque cada empresa normalmente deseja proteger o próprio sistema de abastecimento de suas operações integradas.
- Sinergia capacidade-demanda.
Em alguns setores industriais, principalmente os de serviços, a empresa com maior capacidade pode obter uma participação desproporcionada no mercado, porque os compradores a escolhem como a primeira opção devido ao serviço que presta.
Esta característica gera fortes pressões para criar excesso de capacidade, já que diferentes empresas lutam pela liderança na capacidade.
É conhecido o caso do setor da reprodução gráfica em alguns países, do qual se exigem entregas mediatas, e por isso utiliza os excessos de capacidade estrutural como argumento para conseguir maior participação no mercado.
- Antiguidade e tipo de capacidade frente à demanda.
Em alguns setores industriais, como o das empresas de serviços, a capacidade é vendida diretamente aos clientes.
Quando se dispõe de instalações modernas e que gozam do prestígio de poder fornecer mais qualidade, este pode ser um bom argumento de vendas.
Nos setores industriais onde os compradores escolhem as empresas, baseando-se, só ou em parte, no tipo de capacidade disponível, existirão pressões a favor do excesso de capacidade, devidas à necessidade de contar com os últimos equipamentos.
Esta é uma das razões que obrigam as empresas de fotocomposição de textos a equipar-se com as últimas novidades.
- Risco de supercapacidade como resultado da concorrência.
O risco de supercapacidade é mais agudo quando várias empresas têm força e recursos para agregar capacidade ao mercado, e todas tratam de ganhar posição nele e antecipar-se à concorrência.
Esse risco aumenta com o número de competidores nesta situação.
- Novos competidores criam ou agravam o problema do excesso.
Os negócios de fácil ingresso estão sujeitos a riscos de supercapacidade, devido ao fato de que os que neles entram, fazem-no em períodos industriais favoráveis.
- Ampliação da capacidade diante de previsões favoráveis.
Decidir a construção de nova capacidade antes de que a concorrência o faça oferece vantagens que levam muitas empresas a tomar decisões sobre capacidade, quando as previsões parecem favoráveis.
As possíveis vantagens de comprometer-se desta forma incluem curtos tempos de entrega de equipamento, custos menores do mesmo e a primeira oportunidade para aproveitar os desequilíbrios entre oferta e demanda.
- Inflação das previsões.
Parece existir um processo cujo desenvolvimento implica que as expectativas sobre a demanda futura sejam superestimadas nas épocas otimistas, em que o estado do setor é positivo investidor.
- Incerteza e transparência no processo de expansão.
Se a situação do mercado é confusa, com novos concorrentes e situações variáveis no ambiente, por exemplo, o processo de expansão do setor torna-se difícil de prever e, sobretudo, se torna errático.
Caso contrário, quando o mercado é transparente em sua sintomatologia, é mais fácil estabelecer um processo de expansão ordenado, com algumas empresas líderes à frente abrindo caminho.
A mudança estrutural do setor industrial pode promover o excesso de capacidade, ou porque exige que as empresas invistam em novos tipos de capacidade, ou porque a comoção da mudança estrutural faz com que elas se sintam inclinadas a subestimar suas forças relativas.
- Orientação da direção para a produção.
O excesso de capacidade produz-se mais facilmente quando a produção é a preocupação principal da direção, frente à comercialização ou às finanças.
Nessas empresas o orgulho de possuir novas instalações é elevado e o risco percebido pelo fato de ficar para trás, ao agregar a capacidade tecnologicamente mais avançada, é grande.
- Incentivos fiscais.
Os impostos e os incentivos fiscais para determinados investimentos, em certas ocasiões, induzem o excesso de capacidade.
- Fomento de uma indústria nacional.
Os setores industriais propensos ao fervor nacionalista, que insistem na defesa a todo o transe da indústria nacional, são propensos a desenvolver uma capacidade excessiva a nível mundial.
Consequentes com essa política, muitos países buscam favorecer a todo custo o desenvolvimento de uma poderosa indústria nacional, esperando vender o excesso de oferta no exterior.
- Pressões para incrementar e manter o emprego.
Em certas ocasiões, os governos exercem uma grande pressão sobre as empresas para que invistam (ou para que não retirem seus investimentos), com o objetivo de aumentar ou manter o nível de emprego.
Esse fator acentua o problema da supercapacidade.
Por outro lado, há outros critérios limitativos que restringem a opção expansiva.
São basicamente três:
- Dificuldades de financiamento do projeto, provenientes do ambiente financeiro ou da empresa em particular.
- Diversificação da empresa, o que eleva o custo de oportunidade do capital frente a outros possíveis projetos alternativos.
- Mudança nas capacidades e nos conhecimentos necessários dos diretores para a nova fase.
Critérios quantitativos
Levando em conta que as decisões de capacidade implicam decisões de investimentos frequentemente vultosos, devem ser aplicados critérios quantitativos de análise de investimentos, dos quais os mais utilizados são os seguintes:
- Período de retorno do investimento.
Pretende medir o tempo necessário para que os fluxos positivos de fundos permitam recuperar o investimento inicial efetuado.
No quadro “Período de retorno do investimento”, pode-se observar que um mesmo volume de investimento (10.000) pode produzir fluxos repartidos de forma diferente no tempo, mas de montante global parecido.
O retorno (R) dá uma medida desta rapidez de recuperação: RA = 5 anos e RB = 3,33 anos Todavia, R não informa sobre o valor do dinheiro no tempo, nem dos fluxos esperados posteriores à recuperação.
Também não dá uma medida do custo de oportunidade de outros investimentos.
- Valor atual líquido (VAL).
Pretende dar um valor global a um investimento e as seus fluxos esperados, aplicando-lhes uma taxa de desconto ou de rendimento esperada ou desejada.
Não se pretende entrar aqui em sua justificação matemática, mas simplesmente mencionar suas vantagens e inconvenientes.
Com a introdução da taxa de desconto, inclui-se uma exigência de rentabilidade mínima, equivalente ao custo de oportunidade previsto.
Dá valor ao tempo na percepção dos fluxos e com ele responde-se à questão sobre o valor atual de uma esperança de obter 1 u.m. no próximo ano.
O valor dessa taxa de desconto depende da própria companhia, de suas expectativas e exigências, assim como do setor e da conjuntura.
Contudo, a taxa pode fazer variar as preferências com relação aos projetos de investimento já que, quanto maior for a taxa, menor será o valor atual de um fluxo futuro.
De outra forma, taxas altas penalizam as entradas de longo prazo, em favor das de curto prazo.
Quanto maior for o horizonte do investimento estudado, maior será o VAL, porque recolherá fluxos antes considerados marginais para o final do período.
- Taxa interna de rentabilidade (TIR).
Pretende encontrar uma taxa que iguale o valor atual dos fluxos positivos com o dos negativos ou o dos investimentos.
Na comparação entre vários projetos, será sempre mais desejável aquele cujo TIR for superior.
Leia mais em:
Entenda as economias de escala: um critério simplista
Entenda a evolução das instalações no tempo
Como entender a dimensão e desenvolvimento das instalações
Entenda a adequação da capacidade à demanda
Entenda as medidas para variar a capacidade a curto prazo
Entenda a expansão da capacidade a longo prazo
Fonte: Fernando Serra Caila – Engenheiro Industrial e Master em Direção de Empresas pelo IESE. Professor encarregado do departamento de Direção da Produção, Tecnologia e Operações do IESE.