O grau de conhecimento da demanda futura pode variar muito segundo o tipo de negócio, a incerteza conjuntural e o horizonte de tempo que se deseja conhecer.
Demanda conhecida e desconhecida
Com relação a determinado horizonte de tempo, a demanda pode ser conhecida ou desconhecida, mas previsível em certo grau.
Se a demanda é conhecida, se lhe adequará a capacidade de produção na medida do possível ou então se trabalhará para criar estoque, de forma que, em um período de tempo, a demanda e a oferta se possam igualar, utilizando-se os volumes de estoque necessários no período intermediário.
Se a demanda é desconhecida, mas previsível no horizonte de tempo de que se trata, se agirá no mesmo sentido como se fosse conhecida, mas exigindo dos responsáveis que façam as previsões, com o objetivo de que se possa trabalhar para o depósito.
O risco próprio da previsão, seu horizonte e seu prazo de implementação dependem do grau de desconhecimento ou da possibilidade de tomar medidas flexíveis e mais ou menos rápidas.
A demanda no setor de serviços
Ao conhecimento ou não da demanda pode-se acrescentar uma dificuldade adicional naqueles negócios em que o produto não é armazenável.
São exemplos as empresas que trabalham nos chamados setores de serviços, cujos produtos-serviços são elaborados à medida que se consomem, bem como muitas das empresas industriais conhecidas como subcontratistas, cujo produto é a venda de capacidade de produção, e por isso depende totalmente da dimensão do tempo.
A capacidade de bens armazenáveis
O gráfico a da figura “Adequação da capacidade à demanda” mostra a evolução hipotética de uma capacidade (C) e de uma demanda (D) em unidades acumuladas ao longo do tempo.
Supõe-se que a capacidade seja fixa e constante, e por isso a capacidade acumulada é representada por uma reta C.
Ao longo do tempo que transcorre entre t0 e t1, a demanda D (do exemplo) é claramente inferior à capacidade C, inferioridade que se manifesta de forma crescente até alcançar um máximo em t1, representado por Sm.
Sm representa a capacidade excedentária total no período t0 -t1; se Sm se medisse em unidades e a empresa tivesse decidido utilizar o excesso de capacidade criando estoques, Sm seria igual a estoque no momento t1.
Evidentemente, a decisão de trabalhar para armazenar estoque neste período justifica-se pelo interesse da empresa em não perder um negócio que sua capacidade de produção lhe permite, só pelo fato de que a demanda está defasada no tempo.
Observa-se isto no período t1 – t2 onde a curva D começa a crescer, o que significa que a demanda do período é superior à capacidade.
Em seu crescimento, D chegará a cortar a reta C, momento em que a capacidade acumulada é igual à demanda acumulada no período t0 – t2 ou, o que é o mesmo, o estoque S é nulo (S = 0).
Supondo que a demanda continua crescendo acima da capacidade de uma forma imprevista para a empresa, se alcançará um déficit máximo de serviço de dm no momento t3.
Este é um momento crítico no exemplo do gráfico a da figura, visto que a empresa se terá dado conta de que, no final do período t5, existirá um déficit de serviço entre a capacidade C e a demanda D, já que esta se estabilizará a um nível superior.
Se a empresa estiver segura de suas previsões feitas em t3, com o horizonte t3 – t5, estará disposta a considerar um aumento da capacidade de produção C, que terá lugar em t4, de forma que no momento t5 o déficit de serviço final do produto, dt, seja nulo.
A capacidade no setor de serviços
Que aconteceria, porém se o produto não fosse armazenável?
Nesse caso, em lugar de se converter em estoque, Sm converte-se em capacidade irrecuperável Ci (ver o gráfico b da figura “Adequação da capacidade à demanda”), perdendo a empresa toda possibilidade de modular a adequação capacidade/demanda através dos armazéns e, portanto, sem possibilidade de recuperar a capacidade não utilizada.
O gráfico mostra a evolução da capacidade C e da demanda no setor industrial. Supõe-se que a capacidade seja fixa e constante, e por isso se representa por uma reta C. Entre t0 e t1, D é inferior a C, até alcançar um máximo em t1. Se Sm se medisse em unidades e a empresa tivesse decido utilizar o excesso de capacidade criando estoques, Sm seria igual estoque no momento t1. A empresa trabaIharia para o estoque com o objetivo de não perder um negócio que sua capacidade lhe permite, à margem da qual a demanda esteja defasada. Isto acontecerá em t1 – t2, onde D começa a crescer até cortar C, momento em que a capacidade é igual à demanda t0 – t2, isto é, (S = 0). Se D continuar crescendo acima de C, se alcançará um déficit máximo de serviço (dm) em t3. Se a empresa estiver certa em suas previsões, feitas entre t3 com o horizonte t3 – t5, aumentará C em t4, de forma que em t3 o déficit final seja nulo. A figura b mostra a evolução de ambos os parâmetros em empresas de serviços.
Neste tipo de produtos o problema agrava-se, já que, se se tomasse uma decisão típica de incremento da capacidade de produção de forma rígida, isto situaria a gestão futura em níveis de dificuldade superiores aos atuais.
Para evitar isso, há duas ações possíveis: procurar flexibilizar os incrementos de capacidade (por exemplo, através da contratação de empregados eventuais, como fazem as agências de propagandas em épocas de muito trabalho), ou adotar medidas de tipo comercial a longo prazo, que permitam garantir a ocupação de uma parte, mais ou menos importante, da capacidade de produção (como, no setor turístico, as promoções de baixa estação).
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Fonte: Fernando Serra Caila – Engenheiro Industrial e Master em Direção de Empresas pelo IESE. Professor encarregado do departamento de Direção da Produção, Tecnologia e Operações do IESE.