Ao concentrar-nos numa análise das decisões sobre capacidade, impõem-se as seguintes perguntas:

Que relação existe entre as economias de escala e o tamanho da fábrica?

Existe alguma relação matemática entre eles?

Um exemplo de economias de escala

A definição mais conhecida de economia de escala estabelece que, quanto maiores forem os volumes de output, menores serão os custos unitários.

No pano de fundo desta afirmação adivinha-se uma grande confusão.

Tomemos como exemplo quatro fábri­cas, todas do mesmo setor industrial: A e B são idênticas em tudo, exceto em que a capacidade da planta B é menos utilizada do que a de A; a fábrica C é igual a A, salvo o fato de ter uma capacidade que é o dobro desta última; e, por último, a fábrica D é totalmente diferente, tecnologicamente falando, das outras três e produz o dobro de A.

O resultado apa­rece no quadro “Economias de escala”.

Economias de volume

Evidentemente, o maior volume pro­duzido em A com relação a B implicará um custo unitário de A menor do que o dos produtos de B, já que em A a repar­tição de todos os custos fixos se realizará sobre um número maior de unidades (100, frente a 40 em B).

As Economias de volume, como neste caso, podem incluir-se ou não no conceito de economias de es­cala.

É certo que nem todos os autores es­tão de acordo em sua inclusão, mas em qualquer caso, é preciso conhecer o efei­to do volume ou da capacidade utilizada.

Economias de capacidade

Como se observa no quadro “Economias de escala”, o custo unitário produzi­do na fábrica C é menor do que o obtido na fábrica A.

Maior capacidade da plan­ta C permite trabalhar proporcionalmente com menos estoque de matérias-primas.

Isto se baseia no conhecido princípio do lote econômico, que afirma que o inven­tário ótimo cresce somente com a raiz quadrada do volume, e não linearmente proporcional a este.

Esses efeitos produ­zem-se também no depósito de produtos acabados.

Fora as economias associadas ao me­nor investimento em estoques, existirão outras como resultado de que a dimen­são de alguns serviços gerais será a mes­ma para ambas as capacidades, como manutenção, informática, etc.

As economias de capacidade podem incluir-se, por conseguinte, nas economias de escala, embo­ra mantendo sua identidade própria.

Economia da tecnologia de processo

Voltando ao quadro “Economias de escala”, observa-se que a fábrica D é a que produz com menor custo unitário.

A fá­brica D tem uma tecnologia de processo diferente das outras, mais avançada e automatizada.

Consegue produzir tanto co­mo C, mas com menos trabalhadores.

Es­ta é a primeira razão pela qual o custo po­de ser menor: menor custo de mão-de-obra produzindo a mesma quantidade.

Deve-se levar em conta que os custos de capital poderiam compensar esse ganho, embora não seja o caso na hipótese tomada.

Especialização no trabalho

A mudança de processo normalmente implica a especialização no trabalho, e com isso chega-se a uma situação de tra­balhos vazios de todo conteúdo, visto que o processo se organiza para que o tempo e a responsabilidade dos operários este­jam orientados para obter produtividade por meio da repetição e da especialização.

O ritmo de trabalho deixa de ser vontade do trabalhador para ser patrimônio da direção.

Tanto a substituição de trabalho por capital como a especialização do trabalho alteram a tecnologia do processo, conseguindo menores custos unitários.

A economia da tecnologia do processo também se inclui normalmente no conceito ambí­guo de economias de escala.

Deseconomias de escala

Para efeitos do manejo deste critério nas decisões sobre a capacidade, as três vertentes do conceito são úteis: a de economia de volume, a de capacidade e a de tecnologia.

Contudo, é preciso chamar a atenção para a simples extrapolação do passado para o futuro no comportamen­to das economias de escala: se não ocor­rem as mesmas condições de tecnologia e, evidentemente, se a capacidade, uma vez ampliada, não consegue ser utilizada tal como estava previsto, neste caso (co­mo acontece no caso da fábrica B) podem aparecer deseconomias de escala.

Relação entre custo unitário e capacidade

O gráfico Relação entre custo unitário e capacidade representa a equação Q = a Cb, onde Q é o custo unitário, C a capacidade e a e b dois parâmetros que podem tomar qualquer valor em função de fatores como a economia de tecnologia, a aprendizagem, etc, sendo b menor que 1 e maior que 0. Quanto menor for b, maiores economias de escala se obterão até chegar a um ponto que representa a capacidade ótima. A partir deste ponto, o parâmetro b pode ter valores negativos, e com isto se produzem deseconomias de escala.

Do ponto de vista operacional a economia de volume pode ser identificada com os resultados da gestão da capacida­de já existente na empresa.

Mas as deci­sões sobre o incremento da capacidade afetarão diretamente o conceito denominado economia de capacidade.

Pode-se traçar uma curva de relação matemática entre o custo unitário e a capacidade, que se exprime assim:

Q  =  a  x  Cb

onde Q é o custo unitário, C representa a capacidade, e a e b são dois parâmetros; a pode assumir qualquer valor em função de fatores exógenos, tais como diferen­tes tecnologias (economia de tecnologia, aprendizagem, etc), ao passo que b normalmente é menor que 1 e maior que 0.

Assim, quanto menor for b, maiores economias de escala se obterão, até chegar a um ponto que representa a capacidade ótima, já que constitui um mínimo na curva de custos.

A partir deste ponto, o parâmetro b pode ter valores negativos, verificando-se deseconomias de escala.

As razões desta inversão da tendência favorável dos custos unitários são múltiplas.

De um lado, o incremento do custo do financiamento do projeto, ao assumir estas dimensões excessivas para o passivo da companhia; de outro, a eventualidade de grandes saltos no investimento, como consequência da compra de terrenos ou por razões técnicas, como o tamanho do módulo mínimo de ampliação.

Os fatores exógenos a uma situação de determinada capacidade traduzem-se em diferentes valores a (a1, a2, a3), tomando a curva resultante uma forma parecida à da figura “Influência dos fatores exógenos em uma situação de capacidade”.

O gráfico Influência dos fatores exógenos em uma situação de capacidade mostra que sua incidência em uma situação de capacidade se traduz em diferentes valores de a, dando uma curva em degraus. Este parâmetro une à economia de escala a tecnologia de processo.

Com este parâmetro, incorpora-se ao conceito de economia de escala o anteriormente denominado economia da tecnologia do processo.

Do exposto pode-se deduzir que a curva de economia de escala é diferente pa­ra cada companhia e em cada situação (valor de a).

Contudo, fizeram-se tenta­tivas para obter valores comparativos a nível setorial nos Estados Unidos e não é difícil realizar um cálculo aproximado para uma empresa determinada, levando em conta que, ao aplicar escalas logarítmicas, a curva se transforma em uma reta.

Como conclusão, pode se sugerir que se evite a ambiguidade do conceito de economia de escala e em seu lugar se analisem separadamente os efeitos de capacidade, o volume e a tecnologia em cada empresa e em sua situação específica.

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Fonte: Fernando Serra Caila – Engenheiro Industrial e Master em Direção de Empresas pelo IESE. Professor encarregado do departamento de Direção da Produção, Tecnologia e Operações do IESE.