Um dos desenvolvimentos mais espetaculares que ameaçam nosso sistema de crenças e de suposições implícitas é a rá­pida contração do mundo à dimensão de uma nação de tamanho médio (caso se considere o tempo necessário para o transporte físico) ou mesmo à dimensão de uma cidade (caso se considere a velocidade das telecomunicações); a ficção da nação-Estado autossuficiente e o sagrado princípio da soberania nacional ainda estão muito vivos nas sociedades atuais.

Os movimentos na organização social mundial serão um dos principais fatores determinantes da vida nos próximos decênios.

Um completo estudo da questão, através de um grande número de situações alternativas, encontra-se no referi­do informe da OCDE.

Para nossa finalidade, basta indicar a profunda mudança que pode afetar – e já está afetando – a tradicional hegemonia das economias da Europa Ocidental e da América do Norte.

Na realidade, a esclerose das organizações industriais do Ocidente permaneceu oculta durante longo tempo, de­vido ao fato de seu avanço tecnológico ser, com relação ao resto do mundo, tão grande a ponto de significar um virtual monopólio, tanto para produzir, como para vender qualquer coisa.

No entanto, o mundo em torno dos países industria­lizados tradicionais está mudando de for­ma muito acelerada.

O despertar do Oriente

Não só os japoneses, mas também outros povos orientais, já são capazes de repetir o que o Ocidente fez e os ensinou a fazer.

Atualmente, outras partes do mundo estão melhor situadas do que os velhos países industrializados para produzir muitas coisas.

E não se trata ape­nas de uma questão de salários.

A tradi­ção histórica e a cultura acabaram por deixar algumas dessas sociedades, recentemente desenvolvidas, com um modelo global de sociedade mais integrador.

Isso dá à estrutura de organização clássica uma melhor possibilidade de funcionar mais eficazmente do que o habitual na atualidade no Ocidente.

Assim, a tradicional hegemonia dos países industrializados ocidentais pode alterar-se mais bruscamente do que deixam supor as previsões clássicas, mesmo antes do final do século.

O final de uma hegemonia

É falsa a crença de que uma rápida corrida em termos tecnológicos solucionaria o problema, pois o progresso tecnológico significa menos emprego, e por­tanto supõe um estilo de vida diferente e diferentes organizações.

E a isso opõe-se a crescente paralisia do sistema global.

Também não é realista tratar de competir com os novos países industrializados em seu próprio terreno: a eficácia da estrutura industrial tradicional.

Os esforços nessa direção trariam talvez algum alívio nas perspectivas de curto prazo, mas as possibilidades de uma vantagem duradoura neste campo são sumamen­te reduzidas.

Também não ajuda muito pensar que os japoneses e as outras sociedades terão de enfrentar, dentro de 10 ou 20 anos, o mesmo problema sócio cultural que o Ocidente está enfrentan­do agora.

Isso pode ser verdade, mas até lá a vantagem do Ocidente terá se desvanecido.

Além disso, muitos outros países industrializados estarão dispostos a entrar em cena, se a sociedade japonesa falhar na transição para a era pós-industrial.

Em outras palavras, a atual hegemonia das nações tradicionalmente industrializadas estará perdida definitivamente se não se produzir uma transformação de grande alcance na estrutura da organização socioeconômica.

O informe Interfuturs prevê uma evolução do consumo familiar na qual aumentarão os setores de qualidade de vida (higiene, saúde, etc).

Para uma nova ordem internacional

O problema que surge com a perda de hegemonia por parte do mundo tradicionalmente desenvolvido é a ruptura da ordem internacional estabelecida.

A explosiva e rápida queda do sistema imperial e colonial produziu mais de cem nações novas em 25 anos.

Em muitos casos, o termo “nação” é um grosseiro exagero, pois refere-se à manutenção instável e temporária de um clã em determinado território.

Tal situação elimina toda previsibilidade nas relações que se podem es­tabelecer com as nações e entre essas mesmas “nações”, com vistas a um acesso vital a recursos e a mercados.

É preciso observar, além disso, que mesmo entre nações bem consolidadas, quando se tra­ta de interesses particulares importantes, são muito limitadas as possibilidades de chegar a acordos estáveis que sejam, a longo prazo, do interesse de todos.

As intermináveis negociações sobre os recursos do fundo do mar, chamados solenemente “a herança comum da humanida­de”, são mais um bom exemplo dessa dificuldade.

Como e quando o atual e perigoso vazio poderia ser preenchido por alguma forma de autoridade mundial dotada do poder necessário? Isso é difícil de prognosticar.

A evolução mais verossímil e, provavelmente, a melhor que se pode es­perar é o aparecimento de grupos importantes capazes de moderar, pelo menos em parte, os excessos das pequenas soberanias e trazer mais realismo e estabilidade para a atual ordem.

Como assinala Daniel Bell, “o Estado nacional ficou muito pequeno para os grandes problemas da vida, e muito grande para os pequenos problemas”.

Isso pode sugerir que o surgimento de entidades regionais mais homogêneas, em contraposição às estruturas federais continentais, conseguiria reduzir o poder artificial, baseado na nação de dimensões mais limitadas.

E tornaria possível que pelo menos “os grandes problemas da vi­da”, tal como uma melhor ordem econômica internacional, viessem a ser abordados em escala adequada.

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Fonte: Roger Talpaert – Diretor da Fundação Europeia para o Desenvolvimen­to da Direção e prêmio Leon Bekaert (1981) pelo trabalho “Les pionniers d’un nouvel age“.