Estamos vivendo uma época de crise profunda e de intensas mudanças em todos os aspectos da vida humana.

Os futurólogos e os especialistas em prospectiva elaboram teorias, ensaiam modelos e profetizam sobre uma nova sociedade cujas características ainda são uma incógnita.

Há pouco mais de um século, no dia 1º de novembro de 1878, numa empresa industrial holandesa, estabele­ceu-se a primeira representação dos trabalhadores, eleita em parte por eles mesmos.

O homem que a levou a efeito, J.C. Van Marken, era o fundador e diretor da Nederlandsche Gist, da pequena cidade de Delft.

Tinha por objetivo “fomentar um intercâmbio de ideias com o pessoal no curso de reuniões celebradas regularmente; informar-se, por meio de conversas, dos interesses do pessoal com rela­ção à empresa e sobre o que pode ser vantajoso para o bem-estar do pessoal e o êxito do negócio”.

Nessa época, em que a industrialização estava no início, representação de trabalhadores soava como uma heresia.

Os companheiros de Van Marken afirmavam:

“Evidentemente o pessoal ainda não está conscientizado”.

E um membro do conselho de administração perguntaria:

“O diretor-gerente não tem nada de melhor a fazer?”

Van Marken não era um sonhador, nem um louco; antes de mais nada, foi um homem empreendedor que teve êxi­to.

Da mesma forma que seus empregados e outras pessoas influentes de seu tempo, preocupava-se com o futuro.

O que então se chamava “a questão dos trabalhadores” resultava em sangrentas revoltas e provocava um contínuo mal­ estar, exatamente como Karl Marx e Friedrich Engels tinham predito 30 anos atrás.

Van Marken, porém, buscava no­vas soluções e uma forma de mudança que o libertasse de permanecer prisionei­ro do passado.

Numa carta escrita dez anos antes, ele dizia:

“Não posso deixar de supor que a solução para a luta entre capital e trabalho seja a seguinte: se quisermos chegar a uma solução que satisfaça às mais au­dazes, mas não de todo injustas, reivindicações dos trabalhadores, grande par­te da sociedade terá que mudar, visto que sua condição atual não pode chegar a nenhuma forma de arranjo”.

A terceira onda

Representação gráfica das três grandes ondas que sintetizam a história humana, segundo Alvin Toffler.

Alvin Toffler é o autor do livro A terceira onda, obra dedicada a todos aqueles que creem que a “história humana, longe de se encerrar, não fez mais do que começar”.

Trata-se de um livro de síntese em grande escala que divide a história da humanidade em três grandes períodos ou ondas:

a) a onda agrícola,

b) a onda industrial e

c) a “terceira onda”, que agora está começando.

Segundo Alvin Toffler, não é fácil dar-se conta de que “carvão, estradas de ferro, tecelagens, automóveis, borracha, fabricação de máquinas-ferramenta, etc, são as indústrias clássicas da segunda onda que está chegando ao fim, todas elas baseadas em princípios eletromecânicos simples, com elevadas utilizações de energia, com quantidade enorme de desperdícios e de poluição, caracterizadas por grandes séries de produção, baixo nível de especialização de mão-de-obra, trabalho repetitivo, produtos uniformizados e controles fortemente centralizados”.

Contrastando com o anterior, Toffler afirma que “quatro grupos de indústrias relacionadas são hoje chamadas a um importante desenvolvimento e é muito provável que se convertam na coluna vertebral da próxima era, a era da terceira onda: eletrônica, espacial, oceânica e genética”.

Uma nova civilização, segundo Alvin Toffler, começa agora a nascer.

A futurologia

Os países da Europa ocidental podem parecer menos agitados agora do que há um século, apesar do ritmo e da magnitude da mudança, mas as transformações que ainda estão por chegar certamente não serão menores.

Quem tiver lido A Terceira Onda, de Alvin Toffler, por exemplo, terá ficado impressionado com a descontinuidade fundamental da época anterior.

No entanto, desde que aquele livro foi escrito até hoje, o movimento adquiriu intensidade e ritmo.

Todavia, não parece que agora haja mais “Van Marken” do que havia um século atrás, apesar da abundância de excelente literatura a respeito.

Realmente, para os empresários e outros dirigentes responsáveis, que atuam de uma forma proativa mais do que reativa, a diferença está na erudição sobre futurologia.

Como sublinha James Robertson em A Alternativa, se os empresários tivessem que estudar todas aquelas publicações, não lhes restaria tempo para pensar em suas próprias coisas e desenvolver seus próprios pontos de vista sobre o que eles desejam que aconteça.

Mas é precisamen­te isto que deveriam fazer, se sua ação se orientasse autenticamente para o futuro, já que este é tanto uma questão de valores, como de tendências e fatalidades.

É necessário que haja um conhecimento preciso das tendências primordiais, um sentido agudo da direção a ser tomada, e muita coragem.

As tendências primordiais podem ser consideradas sob três pontos de vista:

  • Como os homens se relacionam com a natureza: as direções segundo as quais vai se desenvolver o domínio do homem sobre o mundo natural.
  • Como os homens se relacionam com os homens: as tendências na estrutura e na organização da sociedade.
  • Como se relacionam os homens entre si e com o seu destino: crenças, valores, expectativas, objetivos.

Supondo que se tenha chegado a um sentido de direção amplamente definido, podem ser formuladas, como conclusão, algumas noções-chave para a gestão empresarial proativa.

Realmente, como observou Herbert Simon (ganhador do Prê­mio Nobel no campo da direção de empresas), a mente humana só pode traba­lhar com um número limitado de informações ao mesmo tempo.

Se a preocupação com o futuro não se traduz em uns poucos princípios sólidos, o mais provável é que seja substituída sempre por outros assuntos mais imediatos e concretos.

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Fonte: Roger Talpaert – Diretor da Fundação Europeia para o Desenvolvimen­to da Direção e prêmio Leon Bekaert (1981) pelo trabalho “Les pionniers d’un nouvel age“.