Na década de 80, qualquer pessoa com um mínimo de informação tem noções mais ou menos claras daquilo que são e representam a informática e os computadores, de modo que aqui se prescindirá de toda descrição técnica para centrar-se num ponto de vista mais funcional do que descritivo; ou seja, não se trata tanto de saber “o que pode fazer a informática”, mas sobretudo ‘‘como pode fazê-lo”.

De um ponto de vista funcional, interessa analisar o que pode oferecer a informática na implementação dos processos que configuram um S.I., partindo da classificação anterior.

Neste ponto impor­ta sublinhar o caráter de contribuição mais do que de impacto, que foi, durante muito tempo, a palavra mais usada nes­te terreno, pois aquela supõe que o aces­so às novas tecnologias de informação não tem por que ser traumático e sim esperançoso, pois abre um campo de oportunidades insuspeitadas, que redundarão em benefício da empresa, como manifesta a figura “Contribuição e impacto” sobre essa dualidade.

A figura ilustra a dualidade entre o caráter positivo da contribuição da informática no campo dos sistemas de informação para as empresas e o caráter negativo e traumático do termo impacto, que se havia atribuído à irrupção dos computadores na gestão empresarial.

Capacidade de processamento

Quase todo mundo sabe que o computador é capaz de realizar milhões de ope­rações elementares por segundo, manipulando dados que lhe tenham sido fornecidos previamente.

Se os dados básicos de uma fatura estão ao alcance de um computador (este tem acesso àqueles, em linguagem informática), pois alguém descreveu o procedimento necessário para a sua elaboração de maneira inequívoca (escre­veu um programa), a definição de uma fatura é algo tão simples como apertar o botão e esperar.

Outra questão bem diferente é que as faturas sejam corretas, e para isto tanto os dados como o programa não devem conter erros; neste aspecto, o computador poderá proporcio­nar-nos pouca ou nenhuma ajuda.

A possibilidade de adaptar a capacidade de pro­cesso dos componentes às necessidades de cada caso (escrevendo o correspondente programa ou pacote de programas) faz dos mesmos, máquinas extremamente flexíveis, pelo menos em princípio.

A expe­riência de muitos usuários de sistemas de informação é que um computador é uma máquina rígida, mas isto se deve, normalmente, ao fato de ser mal usado, como se explica mais adiante.

Em última análi­se, a informática oferece alguns equipa­mentos (hardware) com grande capacidade de processo de dados que, além disto, podem se adaptar escrevendo os correspondentes programas (software).

Acesso e capacidade de armazenamento de dados

Outra contribuição importante é a relacionada com a capacidade de armazenamento maciço de dados e a possibili­dade de ter acesso rápido aos mesmos mediante a especificação de algum de seus valores (por exemplo, se se dispõe de um arquivo de clientes mecanizado, se poderá chegar, em determinado momento, a todos os que residem em tal ou qual área ou a todos aqueles com um saldo que se julga de interesse para uma nova linha de vendas, etc).

Este acesso pode ser exerci­do em princípio tanto por uma pessoa diretamente quanto por um programa, o que supõe um método simples de forne­cer dados aos programas.

Neste terreno, os informáticos falam de fichários, métodos de acesso e bases de dados.

O esquema de armazenamento e acesso mais adequado é o denominado bases de dados, sistema que inclui um pacote de programas cuja missão é facilitar a organização e acesso a uma coleção de dados.

Trata-se de um esquema muito adequado por várias razões, entre as quais é preciso sublinhar as seguintes: facilita a representação de dados e futuras referências aos mesmos em formas cada vez mais próximas daquelas que o usuário fi­nal percebe, entende e sabe manipular (isto tem muita importância porque lhe permitirá operar omitindo os detalhes técnicos de representação de dados, que po­dem ser muito complicados e não lhe interessar).

Permite raciocinar e atuar partindo de uma estrutura de dados global onde todas as inter-relações podem representar-se explícita e implicitamente, com o que se podem representar dados com um mínimo de redundância; isto assegura a coerência global, já que, se se representa cada dado de uma só vez, é impossível que em determinado momento existam duas cópias incongruentes.

As inter-relações são usadas também para acessar dados mediante procedimentos não previstos a priori, conseguindo o acesso a um dado armazenado, mas que permanece bloqueado porque exige a confecção de um programa, que não fica pronto antes de uma ou duas semanas.

Normalmente, os sistemas de bases de dados, como se evidencia no diagrama “Gestão de bases de dados”, permitem também que vários usuários acessem a mesma base de forma simultânea e, com isto, se resolvem possíveis interferências nos acessos.

O acesso simultâneo constitui um complemento idôneo ao registro individual de cada lado, com a finalidade de que as interferências de acesso derivadas do mesmo não piorem de maneira substancial o tempo global de acesso (circuns­tância que degradaria o rendimento da base de dados a ponto de torná-la inútil).

Por último, o enfoque base de dados facilita (melhor dizendo, exige) a definição de diferentes direitos (de acesso, de modificação, etc) e a delimitação de responsabilidades por parte dos usuários com re­lação aos dados; isto permite, por sua vez, a implantação de uma estrutura organizacional mais diáfana no que se refere às operações do sistema de informação.

Formas organizacionais

A combinação das capacidades bási­cas, até agora definidas em diferentes proporções e de diferentes maneiras, deu lu­gar a uma formidável variedade de formas organizacionais para o binômio processo – armazenamento de dados.

Esta enorme gama de possibilidades manifesta-se nos processos integrantes do S.I. formal de uma organização.

Fala-se, por exemplo, de dispor dos dados em linha. Isto significa que devem ser fisicamente acessíveis pelos programas de maneira permanente (sem necessidade de preparar manualmente o dispositivo de armazenamento que os contém para tor­ná-los acessíveis ao computador).

Também se fala de processos de tem­po real.

Neste caso, a ideia consiste em organizá-los de modo que qualquer modificação sobrevinda como resultado de sua manipulação se produza no mesmo instante (ou quase) em que se detecta o seu aparecimento.

Então, qualquer processo posterior que use os mesmos dados terá acesso a seu último valor (por exem­plo, pôr em dia os saldos dos clientes no instante em que se emite a fatura, em vez de fazê-lo no final do dia com todos os clientes aos quais se faturou.

Evidentemente, processar em tempo real requer ter dados em linha, o que significa um software e um hardware mais complexos e mais caros.

A alternativa consiste em recorrer aos processos em tempo diferido, ou por lote (em inglês batch, oposto a real time), que armazenam os dados correspondentes a um período de tempo e os processam juntos no final do período.

A sequência em que se executam os processos também pode dar lugar a diferentes esquemas; em particu­lar, existe a possibilidade de compartilhar os recursos informáticos entre processos (programas) que os utilizam ao mesmo tempo; isto pode ser feito mediante diferentes sistemas como multiprogramação, tempo compartilhado (time sharing), etc, de modo que a instalação poderá ser utilizada por mais de um usuário ao mesmo tempo, ou, pelo contrário, em certas ocasiões, não será prático compartilhar os recursos, e por isso se dedicarão exclusivamente a um determinado processo duran­te certo período de tempo.

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Fonte: Rafael Andreu – Professor adjunto do IESE; é também PhD em Direção de Empresas pela Sloan School do Massachusetts Institute of Tech­nology (MIT).