Definiram-se os inadimplentes como a praga número um da empresa na conjuntura atual.

Muito se escreveu sobre o assunto e, ao mesmo tempo, o tema foi objeto de numerosos simpósios, mesas redondas, palestras e congressos.

Seus múltiplos aspectos e ramificações impedem que se lhe dedique aqui um tratamento extenso.

Por isso só se insistirá num ponto: o do custo dos inadimplentes, seus significados e repercussões, tema sobre o qual com muita frequência abundaram as ideias confusas e equivocadas, que deram lugar a decisões irreparáveis.

Com frequência se considera que o custo fundamental associado aos inadimplentes é o das perdas, razão pela qual a grande maioria dos seminários sobre inadimplentes concentra sua atenção quase exclusivamente no tema da cobrança dos morosos.

Não obstante, a realidade pôs claramente em evidência que existem outros componentes do custo dos inadimplentes, alguns dos quais de maior envergadura do que as perdas por insolvência.

Componentes do custo total

Com a finalidade de aprofundar a análise dos custos dos inadimplentes, distinguem-se quatro ordens de componentes:

  • Perdas por insolvência.
  • Gastos financeiros não recuperados.
  • Gastos administrativos não recuperados.
  • Incremento do custo de todo o desconto através do incremento na porcentagem de contas compensatórias.

O primeiro e o terceiro bloco desta classificação explicam-se por si sós, e não têm necessidade de maior explicação.

No que se refere ao segundo, os gastos financeiros não recuperados, é necessário levar em consideração que, embora existam empresas que tratam de passar ao cliente (quando podem), os gastos financeiros do novo giro ou a comissão bancária sobre a duplicata não descontada, o custo real do desconto é muito maior do que o nominal, e por isso raras vezes será possível repassar este custo real.

Nos últimos anos, muitas empresas foram afetadas pela exigência, imposta pelas entidades de crédito, de manter saldos mais ou menos bloqueados em contas especiais, como compensação pela concessão de desconto não avalizado.

Os mecanismos mediante os quais isto se instrumenta são muito diversos, mas em geral o saldo exigido nestas contas compensatórias guarda relação com o coeficiente de inadimplentes que a empresa tem naquela entidade de crédito.

Um estudo recente (realizado a partir de uma amostra de empresas pequenas e médias selecionadas aleatoriamente em uma zona altamente industrializada e de grande tráfico financeiro e de Bolsa) revelou que as porcentagens de contas compensatórias sobre os descontos concedidos coincidem aproximadamente com as de inadimplências acrescidas em 10%.

A presença de contas compensatórias é, talvez, o fator mais importante de encarecimento do custo real do desconto, de forma que quanto mais elevada é a porcentagem de contas compensatórias, mais alto é o custo do desconto.

Evidentemente, se há relação entre as porcentagens de inadimplências e de contas compensatórias, uma nova inadimplência não só acarreta seus próprios gastos financeiros, mas também contribui para que o custo de todo o desconto utilizado pela empresa encareça.

Em algumas situações especiais, pôde-se comprovar que este fator por si só pode associar a cada inadimplência um custo de 5% sobre o preço da venda, mesmo que se acabe cobrando.

Um aumento do coeficiente de inadimplência acarreta, com o passar do tempo, que as entidades que concedem o desconto exijam um volume maior de contas compensatórias.

Através desse mecanismo, a quantidade realmente disposta como crédito através do desconto diminui, embora permaneça o custo total, porque o valor nominal do desconto é o mesmo.

Tendo o mesmo custo para um menor volume real de financiamento, o custo de todo o desconto aumenta.

Elementos significativos do custo dos inadimplentes

A parte mais difícil de repartir proporcionalmente é o custo das perdas.

No momento de calcular o custo por insolvência de um cliente concreto, pode-se ter a certeza quase absoluta de que, dada a estrutura financeira de sua empresa e as relações anteriores com a empresa credora, é pouco provável que esta deixe definitivamente de cobrar no futuro algumas faturas pendentes.

Não seria coerente utilizar com relação a um cliente conhecido o mesmo componente de custo por perdas que a empresa credora utilizaria com clientes sobre os quais se possui pouca informação e que se considera um risco fora do normal.

O componente de custo por perdas aplicável ao primeiro provavelmente será inferior à média (resultado de repartir o montante das perdas sobre o total de insolvências), ao passo que o do segundo provavelmente será superior à média.

Algumas empresas oferecem, além disso, incentivos adicionais aos seus representantes para melhorias na cobrança das vendas efetuadas por sua medição.

Estes incentivos, que sempre representam um custo para a empresa, devem ser comparados aos elementos do custo das inadimplências realmente poupados.

Quando o incentivo é por cobrança contra entrega de mercadorias, poupam-se todos os riscos de insolvência e, portanto, todos os custos potenciais.

De todas as formas e deixando de lado o valor do financiamento obtido pelo pronto pagamento, o risco de custo de inadimplência propriamente dito, poupado pelo pagamento à vista, pode ser muito diferente segundo a região em que opera o vendedor ou representante da empresa.

Leia mais em:

Fonte: Josep Faus – Doutor em Administração de Empresas pela Universidade de Harvard e professor do Instituto de Estudos Superiores de la Empresa – IESE.