Uma análise do quadro “Ativo a sustentar da Comercial Ciurana S/A”, permite-nos adiantar as conclusões:
a) Devedores
Aplicou-se o prazo de pagamento previsto (85 dias) aos números de vendas projetados, de acordo com o seguinte exemplo:
Devedores em 31/03/1984 = 131.000 x 85 / 90 = 123.722
b) Estoques
Calcularam-se os dias indicados no “Plano de evolução dos estoques”, medidos em custo de mercadorias vendidas no trimestre posterior:
Vendas 3º trimestre = 98.000
Vendas de 105 dias ao ritmo do 3º trimestre = 98.000 x 105 / 90 = 114.333
Custo das mercadorias vendidas durante estes 105 dias = 114.333 x 0,90 = 102.900
c) Imobilizado
Supôs-se que fosse constante, com um valor líquido de 40 milhões de u.m., porque se presume que os investimentos de reposição igualam as depreciações.
O exame do quadro “Passivo com o qual se conta para Comercial Ciurana S/A”, aponta para as conclusões:
- Fornecedores
Calcularam-se com base em 90 dias de compras, ou seja, igualaram-se ao número de compra do trimestre correspondente.
As compras foram calculadas como consumo do trimestre (custo de mercadorias vendidas) mais a diferença de inventários.
Por exemplo, para o 3º trimestre (ver quadro “Evolução dos estoques”).
A análise do quadro ”Déficits de financiamento para Comercial Ciurana S/A“ abona as consequências, a seguir:
- Desconto
Partiu-se do pressuposto de que o desconto realmente utilizado nunca podia exceder a cifra de devedores, menos uma quantidade razoável que representa as empresas pendentes de abono, os morosos, os clientes que repõem fundos, etc.
Por esta razão, em 30 de setembro de 1984 só se contou com um número de 88 milhões de u.m., embora a classificação comercial fosse de 120 milhões de u.m.
- Caixa
Calculou-se segundo os critérios estabelecidos para o caixa mínimo.
Assim, por exemplo, para 31/12/84 (Ver quadro ”Evolução do Caixa”).
O quadro ”Déficits de financiamento para Comercial Ciurana S/A“ é um resumo das dificuldades que a empresa sofrerá no final de cada trimestre de 1984.
Em princípio, não terá problemas para os exercícios de março e setembro.
Em compensação, existem dois picos acima dos 30 milhões de u.m. para junho e dezembro.
Se a empresa tratar de solucionar estes déficits mediante recursos externos onerosos, os déficits de financiamento aumentarão pelos juros acumulados.
A elaboração de previsões financeiras pelo método dos balanços e contas de resultados projetados resulta, na prática, bastante mais complexa, especialmente em empresas industriais, do que aquilo que sublinhou o simples exemplo da Comercial Ciurana S/A.
Apesar disto, este exemplo simplificado põe em evidência os elementos essenciais que devem ser levados em consideração no momento de elaborar previsões, sobretudo no que se refere às necessidades operativas de fundos, que constituem o elemento mais fundamental das finanças de curto prazo.
Este quadro foi construído com dados reais, embora variando certas magnitudes e ignorando o nome da empresa. Apresenta o resumo impresso numa planilha eletrônica elaborada seguindo as pautas estandardizadas. As filas 3 e 12 contêm os dados que se deseja variar. A fila 59, que contém o déficit de financiamento de cada período, aparece através de uma janela.
Um grande salto para a frente
O passo decisivo para a crescente utilização de computadores na elaboração de previsões financeiras foi dado com as chamadas planilhas eletrônicas, que surgiram associadas aos computadores de uso pessoal.
Uma planilha eletrônica é essencialmente um sistema que permite fazer um quadro de previsões (e na realidade qualquer quadro de cálculos) de um modo muito semelhante ao feito a mão.
Para efetuar previsões financeiras, a planilha eletrônica é facilmente programada pelo próprio usuário a fim de recolher a mesma estrutura de cálculo de que se utilizaria na realização das previsões calculadas e não sobra uma folha de papel.
Outra vantagem está em que, ao mudar um dado (por exemplo, um número de vendas ou um prazo de cobrança) a máquina automaticamente calcula de novo todas as previsões e a planilha eletrônica visualiza imediatamente na tela a nova situação.
O modo de utilizar as planilhas eletrônicas é tão simples que uma pessoa sem nenhuma experiência em computadores pode aprender essa técnica, com algumas horas de treinamento.
Pode-se dizer, com toda justeza, que as planilhas eletrônicas foram o fator determinante da proliferação de microcomputadores nos escritórios dos diretores de empresas e, em particular, nos escritórios dos administradores financeiros.
Tipos e características de planilhas eletrônicas
Existem numerosas planilhas eletrônicas no mercado, adaptadas à quase totalidade dos microcomputadores e computadores que se incluem na categoria de uso pessoal.
A primeira delas, chamada VisiCalc, constituiu uma verdadeira revolução no mundo do software para planejamento financeiro.
Sem a pretensão de sermos exaustivos, vale mencionar alguns sistemas que revolucionaram o planejamento financeiro: dBase II e III, CalcStar, SuperCalc, Lotus 1-2-3 e Symphony e, o Microsoft Excel que é o mais conhecido e usual de todas as planilhas eletrônicas.
Com o Microsoft Excel é possível associar gráficos ao planejamento, possível definir independentemente a largura de cada coluna, possível de usar numa planilha eletrônica dados ou resultados obtidos em outras planilhas, etc.
Cada usuário decidirá quais dessas características podem ser-lhe úteis no momento de sua escolha.
A construção de uma planilha eletrônica deveria responder ao tipo de uso que se deseja fazer dela.
O Microsoft Excel permite sustentar os mecanismos de cálculo de um conjunto de previsões financeiras, utilizando-as automaticamente com o simples fato de introduzir na célula correspondente o dado que se deseja modificar.
Não obstante, às vezes é útil organizar a tabela de uma forma racional, agrupando em um conjunto de fileiras contíguas os dados de partida que se deseja variar e mantendo à vista, através de janelas, os resultados cruciais que se deseja avaliar em cada uma das alternativas.
A imagem mostra o esboço de uma planilha eletrônica na tela de um microcomputador. A introdução do dado que se pretende modificar em sua célula correspondente permite realizar uma análise de todas as alternativas.
Leia mais em:
- Entenda a gestão do ativo circulante e do passivo de curto prazo
- Entenda os inadimplentes
- Entenda como funciona a gestão dos estoques
- Entenda as outras fontes de financiamento de curto prazo
- Entenda as fontes espontâneas e fontes negociadas de recursos
- Como entender a administração financeira de curto prazo: previsões e gestão
- Entenda como funciona o balanço projetado
Fonte: Josep Faus – Doutor em Administração de Empresas pela Universidade de Harvard e professor do Instituto de Estudos Superiores de la Empresa – IESE.