O tema administração financeira de curto prazo tem múltiplas vertentes.
Aqui se examinam detalhadamente os conceitos e o âmbito de aplicação das previsões financeiras, e todos os temas referentes à gestão concreta das diversas parcelas do ativo circulante e do passivo exigível de curto prazo.
Previsões financeiras de curto prazo
Parece claro que a raiz dos problemas da administração financeira de curto prazo deve ser buscada na ausência de uma previsão antecipada das necessidades de financiamento que, por razões de índole diversa, aparecem na prática mercantil.
Esta consideração seria, em si mesma, razão mais do que suficiente para enfrentar a tarefa de aprofundar as técnicas e métodos de planejamento e previsão.
Mas existem, além disto, muitas outras razões que aconselham esse estudo e que se irão descobrindo à medida que forem recompostas as diferentes peças que mobilizam as necessidades de financiamento.
Existem dois enfoques para abordar esta análise.
Não obstante, sua aplicação deveria conduzir ao mesmo resultado no que se refere ao cálculo de previsões financeiras de curto prazo.
Estes dois enfoques são os orçamentos de caixa e a elaboração de balanços e contas de resultados projetados.
A metodologia aplicável na elaboração de um orçamento de caixa não oferece grandes complicações conceituais.
Trata-se de preparar, período por período e com a frequência desejada, os orçamentos de cobranças e pagamentos, de acordo com as previsões de atividade da empresa.
Uma análise específica do tema da gestão de caixa deve penetrar de maneira muito mais detalhada na elaboração das previsões, e sobretudo enfatizar as diferenças que surgem a propósito da divisão das previsões em períodos.
Com efeito, é frequente que a muito curto prazo se tome o mês como o período para a elaboração dos orçamentos de caixa, o que acabará criando obstáculos, em não poucas ocasiões, para uma compreensão cabal do processo, já que não é raro que se produzam, na metade do mês ou em outro momento, picos de necessidades de fundos que não coincidem com a média mensal.
A técnica da preparação de balanços e contas projetadas sofre, também, as distorções próprias da periodização.
Contudo, neste caso, o problema tem consequências de menor importância.
Quantificar o caixa
Um balanço projetado porá em evidência aspectos muito diferentes dependendo de quais sejam os objetivos perseguidos ao elaborá-lo.
Nos estudos clássicos de contabilidade normalmente propõe-se uma série de exercícios, mediante os quais se antecipam ou preveem as operações de um negócio durante um período futuro, fixado em função dos lançamentos contábeis que tais operações comportam.
Evidentemente, no final deste processo surge um balanço projetado perfeitamente ajustado porque se baseia num balanço inicial e em alguns lançamentos projetados que, tomados um por um, também se ajustam.
Do ponto de vista das previsões financeiras, a elaboração de balanços projetados normalmente anda por um caminho totalmente distinto.
O objetivo último é, por regra geral, a quantificação dos superávits ou déficits de caixa, que se podem produzir em diversos momentos no futuro, a fim de prever com tempo as ações que seja preciso realizar para evitar o aparecimento de dificuldades financeiras.
Neste sentido, o objetivo que se persegue é idêntico ao que se busca com os orçamentos de caixa.
As diferenças dependem da técnica empregada.
Estimativa individual das parcelas
Para a elaboração de um balanço projetado parte-se também de uma definição mais ou menos concreta das operações da empresa no período que se considera; neste caso não se realiza segundo um processo cronológico, através do tempo, daquilo que vai acontecendo (como é norma, por exemplo, nos orçamentos de caixa ou na evolução das previsões contábeis antes citadas), mas trata-se de averiguar diretamente qual será a situação da empresa no final de tal período.
A previsão direta é feita mediante a estimativa individual e independente de cada uma das parcelas e elementos do balanço naquele momento, em função do volume de atividade e de outras circunstâncias que serão analisadas a seguir.
Se imaginamos o tempo representado mediante um plano (ver o esquema ”Previsão direta do caixa“) no qual se marcaram como segmentos os períodos de tempo que se deseja considerar (anos, meses, etc), um orçamento de caixa se estenderá sobre a totalidade de um dos segmentos, ao passo que um balanço projetado se centrará exclusivamente no ponto que marca o final de tal segmento.
A figura mostra como se insere o balanço projetado na totalidade dos diferentes segmentos nos quais se divide o orçamento do caixa de uma empresa. Os períodos foram representados no plano horizontal, ao passo que o balanço projetado é indicado através do plano e da flecha verticais.
Um método ideal para o prazo médio
Pela natureza da metodologia empregada, os orçamentos de caixa baseados em estimativas de cobranças e pagamentos são muito apropriados (talvez insubstituíveis) para prazos de tempo muito curtos: uma semana, um mês, talvez dois ou três meses.
Para prazos mais longos (seis meses, um ano, etc) são mais adequados os balanços projetados porque, nestes prazos, as cobranças e os pagamentos já não podem ser estimados individualmente, como fruto de operações concretas, visto que suas previsões surgem de blocos de atividades que se analisam de forma global.
O resultado é que tais previsões formam-se através do mesmo procedimento utilizado para fazer balanços projetados.
Um método útil, na identificação dos coeficientes mais significativos para a elaboração e ajuste do balanço e da conta de resultados projetados, consiste em comparar um coeficiente de uma empresa com a média do setor industrial em que a empresa desenvolve sua atividade, tal como se reflete nos cinco gráficos.
Estimativa das parcelas
Para obter um balanço projetado no futuro, é essencial analisar detalhadamente cada uma das parcelas do balanço e ponderar cada um dos métodos de avaliação.
A análise e as perspectivas de evolução da empresa fornecem a base para a dedução de alguns coeficientes significativos.
Objetivos selecionados
A elaboração de um balanço e conta de resultados exige a análise pormenorizada das parcelas.
Isto exige como passo prévio a seleção, por parte dos órgãos diretivos da empresa, de um conjunto de objetivos (que se consideram desejáveis e possíveis), baseada em alguns pressupostos e considerações que convém definir com toda clareza.
Para o caso que nos ocupa, da Comercial Ciurana S/A, considerou-se uma escolha razoável a realização de balanços e contas de resultados trimestrais para o ano de 1984, com base nos seguintes pressupostos e considerações:
- As previsões de vendas trimestrais são as especificadas na tabela ”Vendas estimadas para o trimestre“.
- Espera-se que a margem bruta sobre vendas decresça um pouco com relação ao ano anterior e se situe em torno de 10%.
- Prevê-se que os gastos gerais e administrativos serão bastante regulares ao longo do ano, representando aproximadamente uma cifra trimestral de 11,5 milhões de unidades monetárias.
- Os impostos sobre lucros serão de 33,33% e os do ano anterior devem ser pagos no segundo trimestre.
- Prevê-se a manutenção da apólice de crédito de 15 milhões de unidades monetárias.
Por outro lado, negociou-se um aumento global da cifra de crédito bancário (desconto disponível) até 120 milhões de unidades monetárias.
- Através de incentivos para pagamento a vista prevê-se a redução do prazo médio de cobrança de devedores para 85 dias.
- Não se espera poder manter o prazo de pagamento a fornecedores do ano anterior, o que obrigou a reduzi-lo a uma média de 90 dias.
- Não se realizarão novas imobilizações relevantes.
Somente investimentos de reposição, que podem ser considerados equivalentes às apreciações que se vão praticando (incluídas em gastos gerais e administrativos).
- A cifra do passivo de outros credores, excluindo os impostos sobre lucros pendentes de pagamento, deve manter-se em torno dos 3,5 milhões de unidades monetárias.
- Procurar-se-á por todos os meios baixar os estoques através de um plano de racionalização de compras.
No final de cada trimestre, os estoques expressos em dias de venda ao ritmo do trimestre seguinte, devem comportar-se segundo o ”Plano de evolução dos estoques”.
- Deseja-se manter um caixa mínimo: (a) menos 20% da cifra de desconto utilizada em cada momento; (b) manter um coeficiente de caixa de 8% e; (c) atender a 15 dias de compras.
Um modelo simplificado
Para o estabelecimento de previsões de caixa, a estrutura da conta de resultados foi simplificada ao extremo.
As previsões que se refletem na ”Conta de resultados da Comercial Ciurana S/A“ são consequência dos dados fornecidos.
Na construção desse quadro partiu-se do pressuposto de que os impostos sobre lucros sejam recolhidos no fim do ano.
Ao contrário do que poderia parecer, isto não tem apenas influência nas previsões financeiras: o que conta para estes efeitos é o momento real em que são pagos.
Este dado deve ser levado em consideração ao se calcular as diversas parcelas dos balanços projetados.
Leia mais em:
- Entenda como funciona o balanço projetado
- Entenda o balanço e conta de resultados projetados da Comercial Ciurana S/A
- Entenda a gestão do ativo circulante e do passivo de curto prazo
- Entenda os inadimplentes
- Entenda como funciona a gestão dos estoques
- Entenda as outras fontes de financiamento de curto prazo
- Entenda as fontes espontâneas e fontes negociadas de recursos
Fonte: Josep Faus – Doutor em Administração de Empresas pela Universidade de Harvard e professor do Instituto de Estudos Superiores de la Empresa – IESE.