Os dados quantitativos que se utilizam na tomada de decisões são quase sempre dados fornecidos pela contabilidade de custos.
Ora, os dados contábeis fornecidos por ela não são necessariamente os relevantes para tomar decisões, porque podem existir discrepâncias entre os dados contábeis e os que são necessários para adotar uma resolução.
Tensão entre história e futuro
Em primeiro lugar, um modelo de decisão refere-se ao estado futuro de uma empresa; através da decisão, precisamente, busca-se uma ação ou uma mudança favorável para o futuro da empresa.
Mas os custos contábeis costumam ser ou históricos ou padrões previstos para algumas circunstâncias que podem ser diferentes das que realmente afetam o problema.
Assim, por exemplo, quando se trata de decidir se é conveniente continuar fabricando e vendendo determinado produto ou, pelo contrário, deixar de fazê-lo, os dados de custos que idealmente deveriam ser conhecidos – isto é, os custos relevantes para tomar a decisão – seriam os custos nos quais se vai incorrer no futuro no caso de se fabricar o produto, e não os custos históricos nos quais se tenha incorrido para fabricá-lo no passado.
Evidentemente, é impossível saber quais serão, e para ter uma ideia de sua magnitude é preciso basear-se nos custos históricos; mas se houver alguma modificação no processo produtivo, nos métodos de produção, ou em qualquer outra circunstância, isto deverá ser incorporado à análise para que não haja uma estimativa de custos pouco realista em vista das circunstâncias concretas que cercam a decisão.
Em resumo, os custos relevantes para tomar uma decisão são estimativas de custos futuros, ao passo que os custos contábeis são custos históricos, calculados em circunstâncias possivelmente diferentes daquelas que vão prevalecer no futuro; e, mesmo assim, devem ser utilizados unicamente como ponto de referência, frequentemente muito útil, para avaliar as variações eventuais que possam surgir no futuro.
Em segundo lugar, os que se obtêm através da contabilidade de custos são, com toda certeza, custos médios calculados com base em pressupostos que podem ter mudado consideravelmente.
Assim, por exemplo, o custo da matéria-prima de um produto pode ser o custo médio de duas ou três partidas de matéria-prima que foram pagas a um preço diferente; neste caso seria mau indicador do preço que se pode chegar a pagar no futuro pela mesma matéria-prima.
Da mesma forma, o custo de uma peça que já esteja fabricada normalmente incluirá o que custou a matéria-prima, a mão-de-obra de fabricação, etc, mas se se trata de uma peça obsoleta, que não será mais fabricada, e o que está em questão é se vai ser vendida por preço remarcado ou não, o que hipoteticamente custará produzi-la é perfeitamente irrelevante para tomar a decisão sobre o preço a ser estabelecido.
Consequentemente, quando surgem duas – ou mais – possibilidades de decisão, será necessário perguntar que custos serão iguais (por exemplo, porque já se incorreu neles).
Em qualquer das circunstâncias factíveis, quais serão diferentes em cada uma delas, e evitar o engano com dados de custo médio pouco significativos.
Por isso, e para comparar estes custos às receitas de cada possibilidade e tomar a decisão que faça com que o lucro seja o mais elevado possível, a seguir definem-se dois conceitos fundamentais em contabilidade de custos.
Diante de várias eventualidades e com elas como pontos de referência, (denominam-se custos diferenciais os custos que são diferentes para cada opção e custos inalterados aqueles nos quais se incorrerá (ou já se incorreu) em qualquer das possibilidades de decisão apresentadas.
Lucro diferencial
Do mesmo modo que se definiram os custos diferenciais, podem ser definidas as receitas diferenciais de determinada opção, com relação a outra referência, como aquelas receitas que apareceriam na primeira e não nesta última; e analogamente, receitas inalteradas são aquelas que se produziriam indistintamente em todas as eventualidades que se contemplam.
Para comparar, então, diferentes possibilidades, será necessário ver a diferença entre as receitas e os custos diferenciais de cada uma delas com relação a uma que sirva de referência; e essa diferença se chama lucro diferencial, visto que é o que se pode conseguir no caso escolhido, acima daquele que se obteria caso fosse usado o considerado como ponto de referência.
Convém sublinhar que o fato de que determinada possibilidade tenha um lucro diferencial positivo com relação a outra, não significa que o lucro total da empresa também seja positivo; pelo contrário, em muitas ocasiões não é assim, e a empresa pode perder dinheiro com qualquer das opções que se lhe apresentarem; a única coisa que significa o lucro diferencial positivo de determinada possibilidade é que nesta se perderá menos dinheiro do que naquela da referência, e precisamente na quantidade indicada pelo lucro diferencial.
Custo de oportunidade
Para completar os conceitos anteriores é interessante definir a noção de custo de oportunidade, que seria a perda expressa em unidades monetárias, que se sofre por não tomar uma decisão diferente.
A definição tem o defeito de ser pouco concreta e, em certas situações empresariais, é conveniente manejar conceitos mais operacionais.
Nesse sentido, é preferível, e mais apropriado, chamar custo de oportunidade de determinada possibilidade de decisão ao lucro diferencial que se poderia obter no caso de se adotar a melhor das opções restantes.
Além disso, em geral, a noção de custo de oportunidade é útil porque permite prescindir de alguma opção na análise formal de uma decisão, tomando os custos de oportunidade dos elementos que a integram.
Assim, por exemplo, quando se trata de tomar a decisão de vender a baixo preço produtos que a empresa tem em seu estoque, obsoletos depois do aparecimento de um produto substitutivo tecnicamente melhor, é preciso contemplar a alternativa de vender o produto como refugo, ou de vendê-lo através dos canais normais, mas a um preço inferior.
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Fonte: Eduard Ballarín – Doutor em Administração de Empresas pela Universidade de Harvard e professor do IESE, e José M. Rosanas – Doutor em Administração de Empresas pela Universidade de Harvard.
