Em qualquer contribuição é interessante avaliar a rentabilidade relativa dos produtos da empresa, para ter uma hierarquização em torno dos que se preferem em algum sentido e cuidar deles de um modo especial.

Todavia, isto é, particularmente importante em situações de alta capacidade, visto que nelas podem dar-se momentos em que se deva escolher entre diferentes produtos em razão da limitação de tal capacidade.

Pelo contrário, quando se trabalha com baixa capacidade, embora se possa ter preferências sobre produtos, ao não haver nenhuma incompatibilidade entre eles, não há necessidade de escolher.

O produto A talvez seja mais rentável do que o B, e a direção pode preferi-lo; mas em situações de baixa capacidade não se trata de escolher entre eles, mas de fabricar ambos sempre que se tenha uma margem positiva de lucro.

Portanto, rentabilidade e capacidade são dois fatores intimamente relacionados.

É difícil referir-se a um dos dois conceitos sem fazê-lo ao mesmo tempo, direta ou indiretamente, ao outro.

Mesmo quando em situações de baixa capacidade surge a pergunta acerca dos produtos aos quais é preciso dedicar atenção preferente (para tratar de aumentar suas vendas, por exemplo), estamos estabelecendo uma ordem de preferência entre eles baseada em um fator que se quer rentabilizar: o tempo da rede de vendas, ou talvez o dos diretores da empresa.

É preciso determinar, então, que critério se deve seguir para avaliar rentabilidades em situações de alta capacidade.

Decisões de produção em alta capacidade

Em primeiro lugar, será importante definir a capacidade e medi-la nas unidades que se julgar oportunas.

Normalmente, a capacidade de produção é determinada pelas máquinas existentes e medida pelo número de horas/máquina totais de que se dispõe.

Mas talvez, em outras oportunidades, se meça pelas horas de mão-de-obra, caso se dispõe delas em um número limitado por alguma razão de tipo social, legal ou tecnológico.

E em outros casos a capacidade se define por fatores menos quantificáveis, tal como se citou antes, como o tempo da rede de vendas, o tempo do diretor, e até a situação financeira da empresa.

Em cada caso será preciso estudar a fundo o que limita a capacidade disponível, sendo possível que tal capacidade seja limitada por mais de um fator ao mesmo tempo, alguns perfeitamente quantificáveis e outros talvez não.

A decisão em torno dos problemas quando uma empresa trabalha com alta capacidade é fundamental: entre dois diferentes produtos (produto A e produto B) com diferentes preços de venda, diferentes custos e diferentes graus de ocupação de máquinas, qual deles é preferível?

É evidente, depois dos conceitos expostos anteriormente, que a utilização da capacidade terá um papel importante na decisão.

Em primeiro lugar, a análise deve considerar que a capacidade pode ser usada alternativamente em um produto ou outro, ou em uma mescla de ambos, mas que, em qualquer caso, se dispõe de certo número de horas/máquina (se é assim que se mede a capacidade), que é impossível ultrapassar.

Em outras palavras, a decisão que se deve tomar na realidade recai sobre a melhor maneira possível de utilizar um número fixo de horas/máquina, que representam a capacidade de fabricação.

Então, se examina a decisão segundo o esquema de receitas e custos diferenciais, surgem as seguintes conclusões:

  • Os custos diferenciais de produzir um ou outro produto são unicamente os custos variáveis totais, isto é, os variáveis unitários multiplicados pelo número de unidades que seja possível produzir com a capacidade existente (prescindindo da possibilidade de que possa haver custos fixos diretos importantes do produto). 
  • As receitas diferenciais são, obviamente, todas: o preço de venda de cada produto multiplicado pelo número de unidades que seja possível produzir com a limitação da capacidade existente.

Portanto, designando como CVA os custos unitários do produto A, CVB os custos unitários do produto B, e PVA e PVB os preços de venda de A e B respectivamente, surgiria, em primeiro lugar, que se fabrica unicamente o produto A, do qual se podem produzir UA unidades por hora, e o número total de horas/máquina, disponíveis é HM, o número de unidades de A que se pode fabricar é:

HM  x  UA

Portanto, a margem de contribuição total que se pode obter será:

HM  x  UA  x  (PVA – CVA)

Da mesma forma, caso se utiliza a capacidade HM em produzir unicamente o produto B, obtém-se uma margem de contribuição total de:

HM  x  UB  x  (PVB – CVB)

Qual das duas quantidades será maior, contribuindo, portanto com um lucro superior para a empresa?

Dado que a capacidade total (HM) intervém em ambos os casos, é claro que o produto no qual a margem de contribuição multiplicada pelo número de unidades que se possa produzir por hora for mais alto será o que dará maior margem de contribuição e maior lucro.

Um exemplo esclarecedor

A empresa JIK tinha entre seus produtos os denominados A e B, com situações resumidas no quadro ”Características dos produtos A e B”.

A capacidade de produção de uma empresa de brinquedos tipicamente de caráter sazonal depende em grande parte de fatores dificilmente quantificáveis, como a rede de vendas, a situação financeira e a possível crise que o mercado atravessa. As decisões sobre a produção em um setor conjuntural deverão levar em conta todos estes fatores que limitam a capacidade disponível.

A empresa dispõe de um total de 4 horas/máquina semanais; deveria produzir de preferência o produto A ou o produto B?

Qual seria a margem de contribuição que se obteria em caso de se produzir unicamente o produto mais rentável?

Caso se fabricasse unicamente o produto A, a margem de contribuição total que se obteria seria de:

180  x  230  x  40  =  1.656.000 u.m.

Do mesmo modo, caso se produzisse unicamente B, a margem de contribuição total seria de:

260  x  150  x  40  =  1.560.000 u.m.

Evidentemente, a margem de contribuição é maior no caso de se fabricar o produto A, e a razão para isto não é difícil de ver.

Com efeito, embora o produto B tenha uma margem de contribuição unitária maior do que A, para cada hora de máquina podem ser produzidas muito mais unidades de A do que de B; e o produto de ambas as quantidades (margem de contribuição por unidades produzidas por hora) é maior no caso do produto A.

Margem de contribuição por unidade de capacidade

Quando se observa que o número de unidades que é possível produzir por hora é simplesmente o inverso do tempo que se demora para produzir uma unidade, surge uma formulação diferente de escolha de produtos, se a empresa está trabalhando com capacidade plena: segundo ela, devem ser escolhidos aqueles produtos cuja margem de contribuição por unidade de capacidade seja maior.

Com efeito, a margem de contribuição total que se podia obter com qualquer produto era de:

HM  x  U  x  (PV – CV)  =  HM  x  U  x  MC

MC é a margem de contribuição unitária do produto.

Caso se considere que:

U  =  1 / t

Onde t representa o tempo que se demora para fabricar uma unidade, a margem de contribuição total será a que aparecer na equação:

HM  x  MC / t

Visto que HM é exatamente igual para qualquer produto, dado que é simplesmente a capacidade total da empresa, um produto será tanto mais rentável (isto é, proporcionará tanto mais margem de contribuição e, portanto, lucro) quanto maior for a relação entre sua margem de contribuição unitária e o tempo que uma unidade demora para ser processada.

Ou, em geral, trabalhando com capacidade plena devem-se escolher aqueles produtos cuja margem de contribuição for máxima.

A conclusão é quase trivial caso se pense que, em situação de plena capacidade, o que proporciona maior lucro é ceder a capacidade de produção a quem oferecer o melhor preço, o qual será, evidentemente, aquele que tiver maior margem de contribuição por unidade de capacidade utilizada.

Contudo, na prática, pode não ser fácil levar a termo as recomendações.

E isto por três razões que serão explanadas a seguir:

1) Em primeiro lugar, porque a capacidade, tal como se indicou anteriormente, pode ter uma medida influenciada por vários aspectos.

Por exemplo, e mesmo no caso em que a capacidade fosse definida unicamente como o volume máximo de produção das máquinas, e portanto, medida em horas/máquina, pode haver máquinas de diferentes tipos que apresentem gargalos em diferentes lugares; então, a margem de contribuição por unidade de capacidade utilizada estará mal definida, visto que na realidade o produto emprega diferentes tipos de “capacidade”, com medidas e disponibilidades diferentes.

Além disso, nestas situações torna-se muito difícil, para não dizer impossível, saber a priori qual das possíveis limitações da capacidade disponível (diferentes tipos de máquinas, por exemplo) vai estar saturada e qual delas não.

A capacidade pode estar limitada não só pelas máquinas existentes, mas também por uma escassez de mão-de-obra especializada, ou até pela baixa disponibilidade de matérias-primas, como aconteceu com os produtos derivados do petróleo em alguns momentos da chamada crise de energia.

Em tais casos, nenhuma norma simples, como a deduzida anteriormente, será suficiente; terá que utilizar algum modelo de programação matemática para encontrar o esquema ótimo de produção nas circunstâncias em que se encontra.

A abordagem contábil da margem de contribuição por unidade de capacidade só pode ser usada com muito cuidado, pois a priori não se sabe exatamente quais das diferentes limitações da capacidade podem influir em determinado momento.

2) Em segundo lugar, pode haver algum custo fixo direto de algum produto que seja suprimível no caso de não ser fabricado.

Todavia, esta dificuldade é relativamente fácil de resolver: exige-se unicamente uma limitação de capacidade, é imprescindível avaliar o volume de vendas que é possível realizar para cada produto, e subtrair tais custos fixos diretos à margem de contribuição total de cada um deles.

Assim se obtêm cifras que permitem comparar os diferentes produtos.

Também é possível fazer os cálculos por unidade em lugar dos totais: bastaria subtrair, da margem de contribuição unitária de cada produto, o quociente da divisão dos custos fixos diretos pelo volume estimado de vendas; as cifras resultantes seriam de novo comparáveis para decidir quais produtos devem ser de preferência fabricados e quais é melhor que sejam vendidos.

3) Finalmente, com muita frequência, acontece que a limitação da capacidade depende muito menos das máquinas ou da mão-de-obra em operação, do que das limitações de tipo financeiro ou de tempo da direção da empresa.

Assim, por exemplo, uma empresa pode em determinado momento estar funcionando a baixa capacidade em termos de máquinas, mas ao mesmo tempo estar trabalhando com capacidade plena no que se refere ao tempo dos vendedores, que também é um recurso escasso.

Nesta circunstância, a empresa deveria escolher aqueles produtos cuja margem de contribuição por tempo de vendedor fosse máxima; mas é fácil dar-se conta de que uma medição precisa do tempo do vendedor necessário para vender cada unidade é totalmente impossível, visto que, de um lado depende do vendedor e, de outro, está naturalmente em função do momento em que determinado vendedor consegue levar a bom termo a venda.

Há, pois, três dificuldades para se pôr em prática a recomendação clássica de selecionar aqueles produtos cuja margem de contribuição por unidade de capacidade é maior: a existência de diferentes limitações de capacidade, que podem atuar simultaneamente; a possível existência de custos fixos diretos de cada produto, e o fato de que algumas limitações de capacidade, ou talvez até mesmo todas, sejam de medida difícil ou impossível.

As duas primeiras podem ser resolvidas mediante a utilização de um modelo matemático mais ou menos sofisticado; a terceira, pelo contrário, só pode ser solucionada de maneira imperfeita recorrendo à intuição.

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Fonte: Eduard Ballarín – Doutor em Administração de Empresas pela Universidade de Harvard e professor do IESE, e José M. Rosanas – Doutor em Administração de Empresas pela Universidade de Harvard.