As atividades, as interações e os sentimentos, tanto os requeridos como os da­dos, configuram, por sua vez, as características do comportamento espontâneo que vai emergir entre alguns dos membros da organização, dando lugar à formação dos grupos informais.

A gênese e o desenvolvimento do sistema encerram uma série de processos que se descrevem a seguir.

Atividades compensatórias

As atividades requeridas tendem a determinar o conteúdo das atividades emergentes.

Por exemplo, quando o conteúdo do trabalho é muito repetitivo, com o consequente sentimento de monotonia, é provável que suscite a conversa como reação compensatória.

Isso, porém, sem­pre que o restante dos fatores intervenien­tes o permitirem, pois um alto nível de ruído ou um supervisor exigente podem dificultar esta reação.

Algumas condições físicas muito penosas também tendem a gerar reações compensatórias; por exemplo, o calor produzido pelos fornos pode gerar brincadeiras com água.

Um trabalho intelectual muito exigente, como o desenho de software, pode dar lugar a “guerras” com aviões de papel, como foi observado pelo autor num departamen­to de pesquisa.

Pode-se dizer que cada tipo de atividade requerida suscita um ti­po de atividade emergente.

Não obstan­te, dado que as atividades emergentes aparecem como pouco “produtivas” e pouco sérias, é provável que uma direção pouco perspicaz as despreze e as proíba, e com isto o desempenho da tarefa pode tornar-se insuportável para o empregado.

Nascimento de sentimentos amistosos

Toda atividade requerida gera algum tipo de interação requerida, ainda que mínima.

De fato, expresso em termos mais gerais, a divisão do trabalho, qualquer que seja o modo pelo qual se faça, impli­ca algum tipo de interação entre os ocupantes dos postos estabelecidos.

Aqui se chega ao ponto decisivo na gênese do sistema emergente.

Homans formulou-o em forma de proposição científica:

“Aqueles que em razão do desenho da tarefa – pelas atividades requeridas – têm de interagir provavelmente, na ausência de influências contrárias, desenvolvem sentimentos positivos”.

Grifaram-se as palavras em ausência de influências contrárias, visto que podem dar-se fatores que criem obstáculos ao aparecimento desses sentimentos e suas consequências no comportamento.

Por exemplo: se os que devem interagir têm antecedentes pessoais (traços de caráter, atitudes, hábitos) que os tornam incompatíveis, o efeito postulado não se produzirá.

Esta proposição que se acaba de formular não é mais do que a expressão científica do provérbio popular:

“A familiaridade faz amigos”.

O leitor pensará que também é provável o surgimento de antagonismos, leves ou sérios.

É claro que sim.

Depende, como se acaba de indicar, de outros fato­res.

Mais ainda, pode-se dizer, quase com toda certeza, que todo grupo, grande ou pequeno, abriga algum tipo de antagonis­mo.

O grupo mais estreitamente unido contém sempre algum grau de conflito.

O conflito é inevitável, devido à interdependência social.

A presença de antagonismos não anula a existência do grupo, salvo se aqueles alcançam uma intensida­de tal que anule os vínculos.

Atividades e interações emergentes

Se surgem sentimentos amistosos, é mais do que provável que estes se expri­mam através de atividades espontâneas que, por sua vez, implicam interações.

Caso se observa o estudo da sala de observa­ção de enrolamento e se repassem as figuras ”Participação nos jogos dos operários” e ”Amizade entre os operários”, se verá que há uma estreita relação entre as duas.

No exemplo citado, os protagonistas são operários.

Contudo, as proposições aplicam-se também ao desenvolvimento do espírito de equipe entre os que compõem a cúpula de uma organização.

Neste caso, a localização dos escritórios pode ser decisiva para a constituição da equipe como um grupo coeso.

Se cada um dos membros da alta direção (o diretor de produção, o de comércio, etc.) ocupam diferentes alas no escritório central, é mais difícil que surja entre eles a espontânea colaboração que constitui a essência da equipe.

E acontecerá isto pelas mesmas razões antes postuladas: se há pouco con­tato, dificilmente se apreciarão mutuamente.

O caso extremo dá-se quando a fábrica e os escritórios estão situados em diferentes cidades, e o diretor de produção quase não vê o diretor comercial.

O autor conhece mais de um caso de ranco­res profundos surgidos nessas circunstâncias.

O contrário também é certo.

Quan­do os altos dirigentes estão em salas próximas, é mais provável que, se os demais fatores ajudarem (o estilo do diretor geral, as qualidades pessoais dos diretores, etc), eles cheguem a formar um conjun­to harmonioso.

Desenvolvimento de semelhanças: as normas sociais

Quando a gente se “toca”, torna-se amiga e algo mais: acaba assemelhando-se.

Isto acontece nas mais diversas esfe­ras da convivência social.

Acontece no casal humano que passa anos juntos (ficam parecidos até nas expressões faciais).

Acontece também entre os cidadãos de uma nação.

Esta similaridade traduz-se numa certa padronização de atividades, das interações e dos sentimentos.

A convivência social não é possível se não se sabe como comportar-se com relação aos outros, se não há expectativas definidas sobre sua conduta.

A essa necessidade respondem as normas sociais, que definem, concretizam, o que se espe­ra de cada membro do grupo.

No caso da sala de observação de enrolamento havia um código de conduta que todos respeitavam em certo grau.

Neste grupo, o código estava bastante explícito.

Na maio­ria dos casos não sucede assim.

O código está implícito na conduta do grupo e de­ve-se inferir dela.

O autor recorda a propósito um gru­po de diretores no qual “não se via com bons olhos” alguém que fosse para casa antes de certa hora.

Esse exemplo permi­te dar mais um passo na análise do siste­ma interno.

Com efeito, colocou-se en­tre as partes que “não se via com bons olhos”, pois toda norma social é acompanhada de algum tipo de sanção, em caso de infração.

A gama de sanções se amplia: o olhar de reprovação, a repreensão, o sarcasmo ou o ostracismo.

O grupo de sala de observação de enrolamento, co­mo se viu antes, também tinha seu siste­ma de sanções.

É provável que o contato diário entre os operários de uma empresa têxtil acabe gerando certos vínculos de camaradagem, que, em alguns casos, podem converter-se em laços de amizade. Essas relações contínuas acabarão por moldar a personalidade dos indivíduos, fazendo com que se pareçam cada vez mais, o que se traduz numa padronização das atividades, interações e sentimentos. A convivência social requer que entrem em jogo determinadas pautas de conduta para que qualquer indivíduo saiba como comportar-se frente aos outros. Esta é a tarefa das normas sociais.

Diferença interna

A rede de relações que une os membros de um grupo não é uniformemente densa: em algumas zonas o é mais do que em outras.

No caso da sala de observação de enrolamento, este fenômeno é bem visível.

Basta recordar que os membros do grupo estavam divididos em duas “turmas”, que eles chamavam o grupo de frente e o grupo de trás.

A que se devia esta diferenciação?

A resposta a esta pergunta é dada pela proposição básica que explica a gênese do sistema emergente: quanto maior é a oportunidade de interação entre as pessoas, maior é a intensidade dos sentimentos positivos surgidos entre elas.

Lançando um olhar para a sa­la de observação de enrolamento, se verá que, devido à disposição física dos ban­cos de trabalho, alguns operários estavam mais próximos entre si.

A divisão em duas turmas não só se traduzia na “espessura” de suas relações, mas também no tipo de atividades emergentes.

O grupo de frente e o grupo de trás, diferenciavam-se, pelos tipos de jo­gos de que participavam, pelos temas de conversa, pelas controvérsias e pelo rendimento.

Em seu comportamento, os membros de cada turma pareciam-se mais entre si do que com os da outra turma.

Em palavras de Homans: “…as pessoas que interagem entre si frequentemente se assemelham mais umas com as outras em suas atividades do que com pessoas com quem interagem menos”.

Ao chegar a este ponto, convém sublinhar que a diferenciação em duas turmas não obscurecia o fato de que estas faziam parte de um todo constituído pelo grupo da sala de observação de enrolamento.

O que entende por grupo depende do ponto de referência, pois aquelas turmas eram, de certo modo, grupos, mas também eram subgrupos do grupo da sala de observação de enrolamento, que, por sua vez, era um subgrupo do departamento e, este, por sua vez, um subgrupo da fábrica de Hawthorne.

Estratificação social e liderança

A referência às duas turmas permite fazer outra observação.

Na sala de observação de enrolamento, não só se diferenciavam as duas turmas em seu comportamento, mas também o grupo de frente considerava-se melhor do que o grupo de trás.

Neste caso trata-se de um fenômeno social universal, a estratificação social, que se dá inclusive em um grupo tão pequeno como o do estudo em questão.

Por isso é importante analisar a “lógica” da estratificação em nosso exemplo.

Recor­de-se que os membros do grupo de frente trabalhavam em equipamentos conectores, ao passo que os do grupo de trás o faziam em equipamentos seletores.

Os enroladores começavam trabalhando em equipamento seletores e, quando melhoravam sua habilidade, passavam a trabalhar em equipamentos conectores, que eram um pouco mais complexos.

Os enroladores que trabalhavam em equipamentos conectores tinham um ganho salarial ligeiramente mais alto do que os que trabalhavam em equipamentos seletores.

Na sociedade industrial em que estes homens viviam, valorizava-se – e ainda se valoriza – ganhar mais.

Para cúmulo, os que trabalhavam em equipamentos conectores estavam “na frente”, o que, simbolicamente, é mais do que estar “atrás”.

Pode-se dizer, pois, que os valores predominantes do ambiente proporcionavam os critérios para a valorização de ambos os subgrupos, o que determina o nível de estratificação.

Estes são os fatores determinantes deste fenômeno.

Seguindo o fio do exemplo, é preciso recordar agora que o rendimento do gru­po de frente era maior do que o rendimento do grupo de trás.

Ou melhor, o rendimento dos membros do primeiro ajustava-se mais à norma do grupo da sala de observação do que o dos membros do segundo.

A observação permite formular outra proposição sobre o sistema emergente:

“Quanto mais alta é a categoria de uma pessoa num grupo, tanto mais seu comportamento se ajusta às nor­mas vigentes no grupo”.

Esta proposição vale tanto para os grupos como para as pessoas: o enrolador C-3 era o mais que­rido de todo o grupo, o que coincidia com o fato de que era o que mais se ajustava às normas do grupo; também era o homem que recebia mais ajuda, embora ele não a desse, mas sem dúvida dava conselho e participava de discussões, que costumava ganhar; ele era, de certa forma, o líder do grupo.

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Fonte: José Maria Rodriguez– Bacharel em Direito pela Universidade de Sevilha e consultor de empresas. Professor adjunto de Comportamento Humano na Organização, no IESE, Barcelona.

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