No passado, as relações entre a empresa e seu ambiente tinham características pouco surpreendentes.
As mudanças eram pouco frequentes ou tinham um impacto menor, ou eram previsíveis.
As organizações, em um clima de relativa abundância de recursos, sem escassez de qualquer elemento-chave da produção, gozavam de certo domínio com relação às condições apresentadas pelo ambiente.
Contudo, em épocas mais recentes, a natureza e o alcance das mudanças do ambiente modificou-se.
Produzem-se com maior frequência, têm maior repercussão nos resultados da organização e são mais difíceis de prever.
Além disso, evolui progressivamente uma situação de relativa escassez de recursos básicos, assim como de oportunidades empresariais a serem exploradas.
Essa nova dinâmica do ambiente é uma fonte de surpresas e ameaças para as empresas.
Assim, o aparecimento do modo de vestir informal nos inícios dos anos 70 é um exemplo de mudança no ambiente que, devido a seu dinamismo e rapidez de implantação, produziu consideráveis surpresas nas empresas têxteis.
Para explicar e entender as formas que o ambiente pode assumir, é necessário conhecer os tipos de interdependências entre toda organização e seu ambiente.
Emery e Trist apresentam quatro tipos de interdependências:
a) as que se dão entre os componentes de uma organização e causam mudanças dentro dela;
b) as que emanam do ambiente e causam mudanças na organização;
c) as que emanam de uma organização e causam mudanças em seu ambiente;
d) as que têm lugar entre os muitos componentes do ambiente e que fazem com que estes cheguem a relacionar-se entre si.
A partir daí, Emery e Trist indicam que o ambiente pode assumir uma das quatro formas potenciais seguintes:
- Estável-aleatório.
Nele os objetivos das organizações e os elementos que o ambiente apresenta mudam pouso e distribuem-se aleatoriamente.
- Plácido-agrupado.
Os objetivos e os elementos não se distribuem aleatoriamente, mas se agrupam de alguma forma.
- Desordenado-reativo.
Nele atuam várias organizações em um mesmo grupo ou área, com objetivos e métodos de operação similares.
- Turbulentos
Nele dão-se processos dinâmicos resultantes de variações e interações entre as organizações que compõem o ambiente.
Assim, podemos considerar o tipo de ambiente que a empresa enfrenta, em função de três variáveis:
1. Complexidade
É determinada pela quantidade de fatores e componentes do ambiente que afetam a empresa.
Se forem poucos e bastante similares, diremos que o ambiente é simples; no caso de existirem muitos fatores e componentes que sejam similares, será classificado de complexo.
2. Dinamismo
É determinado pela intensidade do processo de mudança dos fatores e componentes do ambiente.
Se são basicamente os mesmos e mudam, é estático; no caso em que estejam em contínuo processo de mudança, o ambiente é dinâmico.
3. Incerteza
Grau de certeza em possíveis mudanças e na evolução dos fatores do ambiente.
A partir destas três variáveis, o ambiente pode ser:
a) tipo estável: simples, estático (“há poucos fatores e componentes no ambiente, os quais são bastante similares, basicamente os mesmos, já que não mudam”), com pouca incerteza;
b) tipo turbulento: complexo, dinâmico (“há muitos fatores e componentes no ambiente; não são similares e estão em contínuo processo de mudança”), com muita incerteza; ou adotam um estado intermediário, tal como aparece na figura “Tipos de ambiente“.
A figura apresenta os tipos de ambiente em função de três variáveis essenciais: complexidade, dinamismo e incerteza. O ambiente oscila entre o simples estático e o complexo dinâmico (tipo turbulento), com muitos fatores e componentes no ambiente, muito diferentes entre si, em contínuo processo de mudança e com muita incerteza. Ou então adota formas intermediárias.
A direção da flecha mostra a evolução do ambiente apontada anteriormente.
As causas dessa evolução são:
a) as mudanças estão cada vez mais desligadas da experiência anterior;
b) o ambiente é cada vez mais complexo, e com isto as empresas precisam dedicar mais esforços e recursos ao seu estudo;
c) os fatores externos que a empresa deve enfrentar aumentaram em número, são mais heterogêneos e mudam com maior rapidez.
Essas tendências de novidade, intensidade, velocidade e complexidade produzem o aumento da incerteza que a empresa encontra ao analisar seu ambiente.
De fato, numa pesquisa realizada nos setores químico, petroquímico, farmacêutico e alimentar, observou-se que a incerteza sobre as mudanças e a evolução dos fatores do ambiente é o principal problema que as empresas destes setores enfrentam para aplicar com êxito a análise de seu ambiente.
Conhecer o tipo de ambiente em que a empresa deve atuar é muito importante, pois incide sobre a forma de direção a adotar.
Assim, em ambientes estáveis, onde as mudanças de grande impacto são resultado de um processo contínuo e prognosticável, – isto é, o futuro é previsível a partir do passado – as técnicas de previsão que partem deste pressuposto (análise de tendência, modelos de regressão, etc) são úteis e adequadas.
Quando o ambiente não é do tipo estável, mas se encontra em estado mais turbulento, os modelos de extrapolação falham, porquê se torna difícil predizer o futuro a partir do passado.
Na atualidade, a grande maioria das empresas observa que as mudanças de maior impacto em seus resultados não são consequência de um processo contínuo e predizível, mas sim de um processo com elementos inesperados; enfrentam-se ambientes turbulentos.
Nesse tipo de ambiente, a direção da empresa não deve basear-se tanto em previsões; pelo contrário, deve criar uma imagem futura à qual se possa adaptar de maneira flexível e com êxito.
O importante não é buscar a exata previsão das tendências futuras, mas determinar as áreas-chave de decisão que a empresa deve enfrentar para obter vantagens competitivas.
Dessa maneira, é imprescindível conhecer o tipo de ambiente em que a empresa vai atuar, pois disso depende a forma de direção a adotar. Em ambientes estáveis, onde as mudanças de grande impacto resultam de um processo contínuo e prognosticável, as técnicas de previsão são úteis e adequadas. Quando o ambiente é do tipo turbulento, porém, os modelos de extrapolação falham porque se torna difícil predizer o futuro a partir do passado. Nesse tipo de ambiente, a direção deve criar uma imagem futura à qual se possa adaptar de maneira flexível e com êxito. |
Leia mais em:
- Entenda como elaborar cenários para as mudanças no ambiente
- Entenda os aspectos organizacionais
- Como entender o processo de direção geral
- Entenda o que é estratégia
Fonte: Joan-David Grima Terre – Doutor em Ciências Econômicas e Ciências Empresariais, pela Universidade Autônoma de Barcelona e Consultor Sênior da McKinsey & Company (Espanha).