A partir de 1960 tornou-se evidente um início do amadurecimento do mercado em muitos países industrializados.

Em setores como o do automóvel, que haviam sido grandes promotores do desenvolvimento econômico e do emprego, verifica-se uma crescente concentração industrial.

Nos Estados Unidos, os produtos importados começavam a corroer as participações das empresas nacionais no mercado.

Naquela situação percebia-se que algumas tecnologias poderiam ter um impacto considerável no mercado, sobretudo no campo da eletrônica, principalmen­te as relacionadas com semicondutores.

Foi naqueles anos que, pela primeira vez de forma notável, se deu o fenômeno providencial da congruência entre capital, ciência e espírito empreendedor.

Com efeito, nos anos 60 surgia o conceito de ventura capital (capital de risco), segun­do o qual pessoas com disponibilidade de dinheiro agiam como catalisadores, associando-se a cientistas com ideias comerciáveis e espírito empreendedor.

O ca­pital de risco buscava o cientista com ideias e, depois de um estudo cuidadoso, ajudava-o a desenvolver uma empresa para explorar seus conhecimentos sob a forma de um pacote vendável.

American Research and Development Corporation, talvez a empresa de capital de risco mais antiga, investiu 70 000 dólares em 1957, num projeto chamado Digital Equipment Corporation; em 1971, o valor líquido dessa empresa superava os 570 milhões de dólares.

A avidez dos mercados do mundo industrializado permite rápida expansão às empresas que descobrem um novo conceito de produto, bem ou serviço.

Nos anos 80, a eletrônica relacionada com o microcomputador, as tecnologias associadas ao raio laser, as biotecnologias e a engenharia genética, a robótica, o design e o lançamento para produção apoiados por computador, as novas técnicas de fabricação de medicamentos, o diagnósti­co por imagens, a transmissão por fibras óticas, e muitas outras tecnologias permitem a formulação de novos produtos com enormes mercados potenciais.

A aplicação da ciência em produtos úteis é em grande parte um fenômeno da chamada pequena empresa de alta tecnologia, high-tech company.

Esse fenôme­no é facilitado pela disponibilidade de capital de risco, isto é, de sócios capitalistas dispostos a correr o risco com o inventor ou cientista.

Nos anos 80, o conceito de capital de risco experimentou um enorme desenvolvimento, tanto nos Estados Unidos onde o número de firmas que podem ser catalogadas sob esta epígrafe supera o milhar, como também na Europa onde além disso se dá a circunstância do aparecimento de empresas estatais dedicadas a essa atividade.

Essas firmas não oferecem unicamen­te dinheiro, mas também tratam de aju­dar a contratar executivos de qualidade e a realizar uma constante e fria análise dos pontos fortes e fracos, de suas prio­ridades, etc.

O objetivo da empresa de capital de risco é conseguir que sua participação cresça com rapidez, para então proceder a uma cuidadosa retirada – com frequência mediante a venda de sua participação a uma grande empresa interessada em incorporar à sua atividade uma nova aventura – conseguindo uma mais-valia na transação.

As empresas de capital de risco costumam especializar-se em várias direções: geograficamente, setorialmente e por tamanho de seus investimentos.

Assim, há empresas que operam em determinada zona, financiam projetos no campo da engenharia genética e nunca investem mais do que um milhão de dólares num mesmo projeto.

Em certas ocasiões, vá­rias destas firmas formam uma coalizão ou sindicato, para financiar conjuntamente um projeto que exige um investimento que excede seus limites.

As proximidades de grandes polos de pesquisa, como Boston, Los Angeles ou São Francisco, são o meio-de-cultura ideal para o aparecimento de novas empresas de alta tecnologia.

A interação universidade-empresa-financiamento dá-se com uma dinâmica agressiva.

Às vezes chega à organização de conferências, nas quais os cientistas empreendedores apresentam seus projetos (conhecidos como business plan no jargão do setor) e um auditório de financistas de capital de risco.

Segundo um estudo publicado por John Dominguez, da Universidade da Califórnia, o setor do capital de risco mostrou uma rentabilidade maior do que a média da indústria.

Nos Estados Unidos publicam-se numerosos e detalhados guias dessas empresas, nos quais elas mesmas explicam suas políticas de financiamento e a melhor forma de apresentar-lhes projetos para conseguir atrair seu in­teresse.

Alguns destes guias cobrem também as empresas de capital de risco europeias e japonesas.

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Fonte: Arch Richard Dooley – Professor da Harvard Business School e Pedro Nueno – Doutor em Adminis­tração de Empresas pela Universidade de Harvard.