Embora classificadas como pequenas, essas empresas não são iguais entre si.

Patrick Liles estabelece uma distribuição especialmente útil.

Em primeiro lugar, existe uma porcentagem muito elevada, tal­vez 80%, que chamaremos de marginais.

Trata-se de empresas que não possuem nenhum traço diferencial, nenhum vestígio de criatividade, nada que lhes confi­ra uma vantagem competitiva apreciável: uma pequena empresa de transportes que trabalha subcontratada por uma grande ferrovia, recolhendo e distribuindo mercadorias numa cidade, com tarifas e serviços determinados por seu único cliente; uma empresa proprietária de táxis em uma grande cidade; uma pequena empresa de instalações elétricas e encanamen­to; e semelhantes.

A maioria dessas empresas marginais nunca ultrapassa sua pequena dimensão, permitindo a seus proprietários-gerentes viver com certa independência em troca de grande sacrifício e de algumas exigên­cias de trabalho, com frequência mais du­ras do que as que poderia oferecer-lhes um emprego em outra empresa.

Muitas dessas empresas marginais nascem como resultado de uma intuição simples que le­va a pessoa empreendedora a julgar-se capaz de fazer o mesmo que os outros, mas de forma melhor.

Assim, nos setores on­de as barreiras de entrada são pouco importantes (confecção, calçado, móveis, brinquedos de plástico), é fácil encontrar zonas geográficas nas quais se desenvolveu uma certa concentração de pequenas empresas de uma certa atividade, surgidas de operários que se tornaram independentes e acabaram criando eles mesmos suas próprias firmas.

As empresas diferentes

Seguindo a classificação de Liles, encontramos em segundo lugar as empresas que certamente sempre serão pequenas, mas que sem dúvida contêm algo diferenciador, uma certa personalidade que lhes confere uma vantagem competitiva e que garante tanto a sobrevivência da empresa como a possibilidade de que seus proprietários ou gerentes consigam um nível de vida confortável.

Geralmente se trata de empresas fundamentadas nas habilidades de uma pessoa ou de um reduzido número de pessoas: de consultoria, de decoração, uma escola de dança, etc.

Um consultor em problemas gerais de comercialização, por exemplo, pode conseguir uma reputação que lhe garanta uma clientela regular.

Como ele deverá visitar seus clientes e ouvir seus problemas, poderá apoiar-se em alguns colaboradores para conseguir dados e para pôr em prática suas recomendações, mas com toda probabilidade a responsabilidade pelo trabalho recairá sobre ele.

Evidentemen­te, sua capacidade de supervisão eficien­te terá um limite que determinará o tamanho da empresa.

Claro que a empresa poderia crescer ainda mais, mas isto exigiria outro estilo e provavelmente uma especialização, transladando-se sua com­petência específica da confiança na habilidade e capacidade de um profissional excepcional para a confiança na eficácia de determinado método.

Empresas com potencial

Finalmente, Liles estabelece uma terceira categoria: a das pequenas empresas com verdadeiro potencial.

Certo dia, Laurent Boix-Vives adquiriu na França uma pequena empresa de peças de madei­ra e começou a fabricar esquis; o conjun­to de preocupação tecnológica, habilida­de comercial, liderança e energia empreendedora de Boix-Vives transformaram aquela pequena empresa em uma multinacional de esqui, com filiais em quase todos os países industrializados e a maior participação no mercado mun­dial entre todas as empresas do setor.

Nos Estados Unidos, Steven Jobs começou em escala muito pequena, numa gara­gem, a experimentar um novo conceito de produto: um pequeno, mas poderoso computador que pudesse satisfazer as necessidades de um pequeno empresário, de um profissional, de um cientista e até ofe­recer a possibilidade de jogos didáticos para uma criança adiantada; assim nas­ceu a Apple Computer que se converteu, em poucos anos, em uma empresa de âmbito mundial.

Chester Carlson, nos anos 40, tinha feito algo parecido ao tratar de conseguir um sistema eficiente de fazer cópias.

Advogado, especialista em patentes, tinha que fazer muitas cópias de documentos, o que na época era difícil.

Teve êxito, descobriu e patenteou um processo que anos mais tarde seria explora­do pela Xerox Corporation, convertendo Carlson em um dos homens mais ricos de seu tempo.

Poder-se-ia continuar indefinidamen­te, relatando êxitos de empresários que deram uma contribuição importante pa­ra a qualidade de vida.

A característica comum daquilo que chamamos empresas com potencial foi ter descoberto algo (um produto ou um serviço) capaz de atender uma necessidade ainda não satisfeita, ou uma necessidade satisfeita de maneira insuficiente ou imperfeita.

Leia mais em:

Entenda o fomento e proteção das pequenas empresas

Entenda a direção de uma pequena empresa de “alto rendimento”

Entenda o mundo da pequena empresa altamente inovadora

Como entender a pequena e média empresa

Fonte: Arch Richard Dooley – Professor da Harvard Business School e Pedro Nueno – Doutor em Adminis­tração de Empresas pela Universidade de Harvard.