Embora seja bem sabido que a acumulação de estoques, a níveis mais ou menos elevados, é necessária para um funcionamento adequado dos sistemas produtivos, é muito útil considerar as diversas classes de funções que desempenham na empresa.
Estoques em trânsito
Quando o produto está geograficamente separado dos fornecedores e dos clientes, não há dúvida de que se precisa de certo tempo para realizar o transporte dos materiais de um ponto a outro.
A fim de evitar interrupções, é preciso dispor de produtos no armazém para satisfazer a demanda, quando os produtos de reposição estão a caminho.
Como a reposição não é instantânea, existe a possibilidade de que os estoques em trânsito cheguem a ter um volume muito grande.
Estoques de lote
Geralmente, não se compram nem se produzem os artigos ou os componentes de um em um, mas para economizar no ajustamento da maquinaria, do transporte, etc, tende-se a enviar ou a produzir em lotes, e isso gera estoques.
Nessas situações, é preciso procurar conseguir um equilíbrio entre os custos da fabricação, ou do lançamento de um pedido, e os ocasionados pelos estoques de lotes.
Estoques de segurança
A maioria das previsões não se realizam exatamente, no que se refere, por exemplo, à quantidade pedida, ao tempo de produção ou ao prazo de aprovisionamento.
Por isso, as empresas tendem a proteger-se diante das variações razoáveis, mas sazonais, mediante a acumulação de estoques em níveis superiores aos que seriam necessários se não existisse tal incerteza.
Esses estoques associados à cobertura de um risco classificam-se como estoques de segurança.
Quanto menor o risco que se deseja correr, maiores serão tais estoques.
Estoques de especulação
Originam-se de antemão, frente a uma variação esperada na demanda, no fornecimento e, principalmente, no preço.
Se, por exemplo, se supõe que, devido a problemas de suprimento, ocorrerá um aumento no preço de determinada matéria-prima, a empresa poderá decidir criar estoques adicionais, antecipando-se aos acontecimentos.
Estoques sazonais
A venda de certos produtos ou serviços pode apresentar importantes variações sazonais.
Tal é o caso das vendas dos ventiladores, dos aquecedores, dos chuveiros, dos esquis e dos artigos relacionados com o turismo.
Se esses produtos tivessem de ser fabricados seguindo exatamente a pauta das vendas, isso obrigaria a uma capacidade produtiva muito elevada, que só seria usada em determinado período do ano.
Se os artigos não se deterioram com o tempo e podem ser armazenados, é possível fabricá-los antes que se tornem necessários.
Esses estoques, que ajudam a amenizar as pontas de demanda sazonal, são classificados como estoques sazonais.
Estoques de isolamento ou de pulmão
No caso em que duas fases consecutivas da produção operem de forma que a primeira proporcione um componente imprescindível à segunda, pode acontecer que uma interrupção casual na primeira obrigue a suspensão da segunda por falta de componentes.
Para evitar um alto grau de dependência entre duas fases, procura-se armazenar um estoque intermediário que isole os dois subsistemas de produção.
Assim, se o primeiro falhar, o segundo poderá ir produzindo durante certo tempo a partir dos componentes do estoque.
Sob esse enfoque, o armazém de matérias-primas atua como um armazém-pulmão entre os fornecedores e a empresa, ao passo que o de produtos acabados cumpre a mesma função com relação aos clientes.
Esta classificação é importante porque somente quando se tiver classificado determinado estoque segundo sua função se poderá avaliar outras alternativas para satisfazer a mesma necessidade; na pressuposição de que o estoque consiga satisfazer a necessidade adequada, será possível interrogar-se sobre a quantidade, a localização, etc, à luz da função que tal estoque desempenha.
Função múltipla
No caso frequente de uma empresa com várias fábricas, com armazéns em cada uma delas e com diversas representações que dispõem de armazéns regionais, o estoque desempenha várias funções: estoque em trânsito (se existe um lapso de tempo entre a saída da remessa da fábrica e sua recepção da representação), estoque de lote (se as remessas se realizam por meio de containers, em carretas ou caminhões), estoque de segurança (frente às variações nas vendas), etc.
Assim, do estoque de determinado produto em uma representação, a empresa calculará a parte destinada a cada uma destas funções e analisará se há uma forma melhor de satisfazê-las.
Se fosse possível, por exemplo, fazer as remessas com mais rapidez, poderia se reduzir o estoque em trânsito e o estoque de segurança poderia diminuir, visto que seria menor o tempo de resposta.
Também, se as remessas pudessem ser feitas em lotes menores (caminhões menores, carretas de menor porte) se reduziria o estoque de lote.
Em todos esses casos, os diretores da empresa devem analisar o custo e outros aspectos qualitativos das alternativas válidas, e escolher a melhor, que talvez não seja a da manutenção dos estoques.
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Fonte: Jaime Ribera Segura –Master of Sciences e PhD in Operations Research, pela Universidade da Flórida. Professor no IESE.