É o processo para diagnosticar os pontos fortes e fracos de cada candidato, sua competência, capacidades e limitações, e as probabilidades de encaixe na microcultura da instituição.
De todas as tarefas da prática da gerência de pessoal, a seleção é a que teve maior quantidade de estudos científicos.
O problema de encontrar a melhor pessoa para um determinado trabalho foi abordado por muitos sociólogos desde a Primeira Guerra Mundial.
Há cerca de 20 anos também persiste amplo consenso sobre alguns princípios válidos para qualquer processo de seleção (Murray & Jain, CMR, vol. XXVI, nº 4, verão 1984).
- Em geral, quanto maior o número de métodos combinados, mais exata será a previsão do êxito ou fracasso: por exemplo, vários testes, folha de dados analisada e verificada, bem como entrevistas.
- Quanto mais profunda e sofisticada tiver sido a análise do trabalho, mais fácil será a especificação dos critérios de seleção com os quais deverão comparar-se os candidatos.
- A entrevista se acha, por si mesma, entre os meios de análise prévia menos confiáveis e válidos.
Instrumentos para a seleção
- Folha de solicitação:
Emprega-se para obter informação útil para a tomada de decisão na escolha do candidato.
Deve-se perguntar o que se fez, não o que se é, pois as realizações constituem o melhor indicador do futuro.
Cada pergunta deveria ser elaborada cuidadosamente com vistas a respostas exatas e claras, evitando-se os chutes, impactos emotivos, efeitos passageiros, etc.
É preciso também dar um peso a cada pergunta em virtude de sua diferenciação em importância.
Tanto a determinação das perguntas e seu peso quanto a checagem das respostas e sua classificação, deveria ser realizada por uma equipe, cujas discussões e esclarecimentos podem agilizar o processo seletivo, tornando a análise mais objetiva.
Infelizmente, na maioria das folhas de solicitação que se usam, há perguntas que não contribuem em nada para a seleção ou que, se perguntarmos ao selecionador o que lhe diz uma resposta ou outra, não saberá justificar sua preferência.
Assim, por exemplo, uma pergunta quase típica é conhecer o número de irmãos; que tem isso a ver com o trabalho?
Uma resposta válida, entre outras, seria “saber se é primogênito, pois as estatísticas demonstram que estes triunfaram mais na vida do que os não primogênitos”.
Se essa argumentação for aceita como válida, a pergunta deve ser formulada de maneira diferente para que a resposta seja exatamente aquela esperada.
O quadro “Exemplo de roteiro para avaliação da entrevista” contém uma relação de dados pertinentes com os quais se pode avaliar as condições do candidato para a ocupação do posto.
- Entrevista:
É o procedimento de seleção mais empregado e, também, o pior utilizado.
A maioria das entrevistas têm pouca serventia; se não for bem estruturada pode tornar-se uma caricatura baseada na visão preconceituosa do entrevistador, não uma análise das reais capacidades do entrevistado.
As entrevistas deveriam ser preparadas de maneira semelhante à descrita na folha de solicitação.
Se esta tiver sido preenchida adequadamente, a entrevista será um aprofundamento para esclarecer e ampliar algumas respostas ali contidas.
As etapas serão:
- Os entrevistadores (é aconselhável que sejam mais de um, embora o diálogo fique por conta de um deles) devem familiarizar-se com a informação contida no documento Análise do trabalho, solicitando ao supervisor do mesmo quantos esclarecimentos forem necessários.
- Com a ajuda de peritos, se for o caso, os entrevistadores estudam a folha de solicitação.
Se esta ainda não foi preenchida ou estiver incompleta, prepara-se um questionário que leve a respostas adequadas.
- Argui-se o candidato e, quando necessário, aprofundam-se as respostas.
Com base em todos os dados colhidos na etapa anterior, a entrevista pode ser conduzida da maneira mais flexível e descontraída possível.
Tão importante como perguntar é deixar que o entrevistado fale, e convidá-lo também a fazer perguntas sobre a empresa e seu desenvolvimento, o cargo a ser preenchido, a microcultura, a remuneração, as possibilidades de carreira profissional, etc.
- Depois da entrevista monta-se então um quadro das qualificações do candidato segundo os parâmetros estabelecidos.
É bom o entrevistador evitar uma série de perigos e atitudes: mostrar-se prepotente e negar qualquer direito ao entrevistado; invadir o terreno da intimidade, fazendo perguntas não relacionadas com o rendimento no trabalho; realizar espionagem industrial, perguntando sobre empresas nas quais trabalhou o aspirante; discriminar segundo seus próprios estereótipos; dar excessivo peso ao impacto visual, isto é, aparência e comportamento não verbal; cair nos efeitos de contraste; supervalorizar as semelhanças do entrevistado com o entrevistador, etc.
Pelo visto pode-se avaliar a dificuldade de realizar entrevistas válidas; todavia, a quase totalidade das instituições usa entrevistas e a maioria as considera o instrumento de seleção mais importante e o que lhes inspira, em princípio, maior confiança.
- Testes:
Empregam-se muito, embora sua confiabilidade dependa em grande parte daquilo que pretendem medir e de quem os aplica.
Evidentemente, não são infalíveis.
Há diferentes tipos de provas ou testes:
- Testes de características pessoais ou testes psicológicos:
São os testes propriamente ditos.
Uma empresa que quiser contratar um executivo deveria levar em conta pelo menos 100 áreas de qualificação (outros falam de mais de 300) e mesmo assim é difícil fazer uma escolha entre bons candidatos; não é de estranhar, pois, que estejam sendo comercializados mais de 1.000 diferentes tipos de testes.
Entre eles, os mais utilizados são os testes de inteligência, que medem a capacidade intelectual ou capacidade para aprender.
Visto que há pouco acordo entre os psicólogos no que vem a ser inteligência e, menos ainda, na correlação entre as exigências de trabalho e a inteligência, esses testes têm uma aplicação limitada na seleção de pessoal.
Usam-se principalmente para prever o êxito acadêmico.
- Igual importância têm os testes de aptidão, que medem a capacidade da pessoa em determinados tipos de talentos, tais como agilidade de raciocínio, habilidade mecânica, aptidão quantitativa, etc.
Há testes muito especializados, por exemplo, os que medem a idoneidade para programador, para vendas, para administrador, etc.
Visto que não medem a motivação, esses testes não têm grande validade em suas previsões do rendimento no trabalho.
- É preciso frisar também os testes de interesses, que medem a intenção de fazer o trabalho; alguns são meros inventários de interesses, outros se baseiam em teorias de motivação ou em fatores hereditários e ambientais.
Seu valor está em ver se coincidem os interesses do indivíduo com aqueles do grupo amostra, composto por pessoas que tiveram êxito em atividades idênticas.
- Finalmente, existem os testes de personalidade, que medem algumas peculiaridades do temperamento.
Da mesma forma que no teste de interesses, não existem respostas certas ou erradas; o importante é verificar se o candidato reúne aquelas características de personalidade (por exemplo, sociabilidade, ambição, versatilidade, etc) que se consideram adequadas para a posição que deve ocupar.
Talvez, devido à sua considerável abrangência, sejam as mais difíceis de avaliar, pois pretendem penetrar no sistema de valores, reações emocionais e maturidade do indivíduo.
Apesar da utilização de testes, nunca se deveria esquecer que:
- Não é possível medir tudo (capacidades, habilidades, conhecimentos e personalidade) num indivíduo.
Os testes psicológicos tratam de isolar traços de caráter em lugar de abarcar toda a dinâmica do personagem, o que limita em parte sua eficácia.
- Não se conhece com exatidão qual é o perfil humano mais adequado para a boa realização de uma atividade.
Os perfis usados nos testes baseiam-se na experiência passada; ora, seriam válidos para conseguir o êxito das novas estratégias?
- Corre-se o risco de confundir com aptidão os interesses manifestados por uma pessoa, pois no teste compara-se o perfil do candidato com o perfil-modelo derivado de pessoas que triunfaram no posto, mas a coincidência de interesses ou personalidade não significa coincidência de aptidões.
- São muito falseáveis, pois todo candidato responde do modo que lhe parece acertado e não com sinceridade (algumas empresas usam detector de mentiras).
Estão à venda numerosos manuais que explicam como se sair bem nos diferentes testes.
É possível treinar previamente.
- Aspectos culturais e de formação específica afetam os resultados; por exemplo, alguns prejudicam os que deixaram os estudos em nível primário.
Por isso são discriminatórios.
- Invade-se facilmente a intimidade.
Em alguns países questiona-se o seu emprego por essa razão.
- Favorecem a padronização com o grupo convencional (ou modelo) e não o aspecto criativo e inovador.
Por tudo isto não é de estranhar que, por exemplo, nos Estados Unidos, o emprego dos testes psicológicos tenha decaído espetacularmente (em 1963, eram empregados por 90% das empresas e em 1983 por apenas 33%, segundo Personnel Administrator, setembro de 1984).
Em resumo, a confiabilidade e validade dos testes são questionadas e, muitas vezes, a reação dos candidatos é pensar que se empregam como desculpa para recusá-los.
Contudo, podem fornecer alguma informação útil que em determinados casos complementa a que foi obtida por outros meios.
- Testes de proficiência ou situacionais:
Medem o desempenho do candidato nas atividades correlatas ao cargo que se pretende preencher.
Entre as diversas provas existentes, salientam-se:
- Provas ou amostragem, em que se solicita ao candidato, por exemplo, redigir uma carta à máquina, operar um computador, usinar uma peça no torno ou fresa, realizar uma venda, etc.
Têm a vantagem de serem objetivas e testarem a profissionalidade, sem invadir a área privada.
É preciso considerar fatores como o nervosismo durante a prova e o tempo no qual deixou-se de praticar, entre outros.
Mas uma coisa é saber fazer e outra é querer fazer; isto é, mede-se a aptidão, mas não a motivação.
- Simulado, uma prova que, além de medir o desempenho do candidato nas provas de profissionalidade, coloca-o também frente a outras situações que poderá encontrar no dia-a-dia.
Os instrumentos utilizados vão desde questionários respondidos por escrito ou verbalmente, até discussões em grupo sem líder, jogos, quebra-cabeças, representações, etc.
- Centros de avaliação constitui outro tipo de simulado que utiliza uma bateria de testes bem mais sofisticada.
Vários diretores de dois ou mais níveis acima do posto a ser preenchido, auxiliados por algum perito (que os terá previamente treinado), submetem o candidato a diversas provas durante um ou dois dias.
Por motivos óbvios, esses testes só se aplicam a candidatos de alto nível.
A simulação mais empregada chama-se:
-> In-basket (literalmente o nome da caixinha na mesa da secretária destinada à papelada que entra).
- O candidato é então convidado a despachar todos aqueles papéis (cartas, memorandos, informes, relatórios, etc) dando soluções a todos os problemas levantados, bem como atender telefonemas, assistir a reuniões, etc.
- Posteriormente, em entrevista, o candidato é convidado a justificar suas decisões perante uma equipe examinadora.
Além dos conhecimentos e aptidões específicas, verificam-se ainda as seguintes características: dinamismo, organização e planejamento, delegação, agilidade de comunicação oral e escrita, versatilidade, autocontrole, tomada de decisões, competência nas relações humanas, iniciativa, auto direção, capacidade analítica, resistência ao stress, originalidade, liderança, sensibilidade para os assuntos sociais, impacto pessoal, potencialidades globais e aceitação das limitações.
Se todas as fases do processo de seleção forem bem realizadas, se os examinadores forem competentes e dedicarem o tempo necessário, essa forma de seleção prova estatisticamente sua eficácia.
Os obstáculos são o custo e o nervosismo do candidato.
- Grafologia:
A arte de ler a personalidade a partir da caligrafia é também empregada.
Existe pouca evidência científica que justifique seu emprego na seleção de pessoal.
Registram-se grandes erros juntamente com espetaculares acertos.
A decisão de contratar
Uma vez escolhido o candidato, deveriam ser validados alguns dados básicos antes de comunicar a aceitação definitiva.
A forma corrente de fazê-lo são as referências e o meio mais adequado é a carta de referências ou carta de recomendação, que se dirige às pessoas indicadas pelo postulante ao emprego como conhecedores de sua atuação em diversas situações.
A carta inclui perguntas específicas a fim de evitar as usuais generalizações.
É preferível a qualquer outro meio porque é um documento arquivável referendado pela firma de uma pessoa, que se pode supor preocupada com a boa opinião dos outros.
Orientação do novato
Ao ser admitido, o novo empregado deveria, de modo formal, receber informes detalhados sobre a organização, o regimento interno e a microcultura (regras não escritas que regem seu funcionamento), a fim de familiarizá-lo com a instituição e evitar, não somente ser presa dos equívocos, mas também, o mais importante, para acelerar sua plena incorporação, evitando-se erros dispendiosos facilmente previsíveis.
O ideal é que essa orientação seja dada pelo chefe com a ajuda de algum dos companheiros; o departamento de pessoal pode atuar fornecendo os meios e a coordenação, a fim de conseguir-se a integração plena e positiva, elevando-se o moral e a motivação do novo empregado.
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Fonte: Esteban Masifern – Engenheiro de indústrias têxteis pela ETSII de Terrassa, Barcelona. IPT pela Graduate School of Business, Harvard University. Professor adjunto de sistemas no IESE. Trabalha como consultor de empresas.