A conduta nas reuniões de trabalho
Inicialmente, examina-se com detalhe o que acontece em uma reunião de trabalho.
Não é necessário ser um grande observador para dar-se conta de que nesses tipo de reunião dão-se duas espécies de atividades.
De um lado, os assistentes (i) oferecem ou solicitam informação sobre os fatos do problema, formulam ou pedem opiniões sobre os fatos apresentados, e (ii) fazem ou recebem sugestões para resolver o problema tal como foi definido.
Ao mesmo tempo, por outro lado, os assistentes manifestam acordo ou desacordo com os pontos de vista dos outros, mostram-se relaxados ou tensos e se ajudam ou se enfrentam.
Em outras palavras, uma reunião de trabalho não é uma situação socialmente neutra, mas uma situação social na qual os sentimentos e as relações dos assistentes são decisivos.
Essas duas espécies de atividades correspondem a duas áreas ou dimensões das reuniões de trabalho: a dimensão cognoscitiva e a dimensão sócio emocional.
A dimensão cognoscitiva engloba toda a atividade, que consiste, basicamente, em raciocinar, ela contribui diretamente para resolver o problema para cuja solução se convocou a reunião.
A dimensão sócio emocional abarca os sentimentos e as relações que se dão entre os assistentes, ela não é independente da primeira, mas influi decisivamente nela, tanto positiva como negativamente.
Contemplando a dimensão cognoscitiva, a reunião de trabalho apresenta-se como um grupo pensante de pessoas, ou, se quiser, como cérebro coletivo.
Todo mundo percebe que a conduta pensante de um grupo é muito mais complexa do que a do indivíduo que pensa isoladamente.
Um grupo de pessoas gera ideias e raciocínios a uma velocidade muito superior à do indivíduo.
Todas essas ideias e raciocínios, para que levem à solução do problema e à decisão final, devem ser atendidos, recordados, resumidos e sincronizados, até chegar a uma síntese de consenso.
Para que esse esforço coletivo seja fecundo, requer-se um rigor especial de todos os participantes.
A maneira mais apropriada para alcançar este rigor é pensar por etapas, seguindo o “método científico de tomada de decisões”, que aparece descrito mais adiante.
A aplicação desse método requer a iniciativa daquele que preside a reunião (que deve desempenhar uma função integradora) e o concurso dos participantes.
Para isto é necessário certo treinamento prévio, até que se converta em um hábito de trabalho.
Se a atenção se centra na dimensão sócio emocional, a reunião de trabalho se apresenta como uma realidade social e afetiva, isto é, como um grupo de pessoas experimentando sentimentos e relacionando-se entre si.
Esta dimensão tem um tríplice significado para a reunião de trabalho:
(i) primeiro, é a base da colaboração, sem a qual a reunião de trabalho não prosperaria,
(ii) segundo, é uma fonte de vantagens e
(iii) terceiro, apresenta alguns inconvenientes.
Efetivamente, a dimensão sócio emocional é a base da colaboração.
Se os componentes da reunião não estivessem dispostos a trabalhar juntos, a colaborar, seria pouco menos do que impossível que chegassem a uma conclusão.
Ora, a colaboração, como se viu ao analisar as condições do trabalho em equipe, é uma realidade composta essencialmente de ingredientes sociais, motivadores e afetivos.
Soluções de problemas e decisões tomadas em grupo têm indubitáveis vantagens.
Entre outras, podem distinguir-se as seguintes:
- Maior soma de conhecimentos e de informação do que qualquer dos assistentes isoladamente.
- Mais variada gama de enfoques, já que um indivíduo que enfrenta isoladamente um problema tende a encerrar-se numa espécie de trilho mental, e a discussão em grupo é um bom remédio para evitar essa limitação.
- Maior aceitação da decisão final, pois permite a participação dos que contribuem para sua execução.
- Melhor compreensão da decisão, porque a discussão em grupo proporciona, a todos os participantes, conhecimentos imediatos sobre os prós e contras que pesaram na formulação da decisão final.
Entre os inconvenientes devem ser destacados os seguintes:
- Pressão social.
As opiniões da maioria tendem a induzir a conformidade dos que não as compartilham, seja pelo desejo de evitar dificuldades ou de ficar bem, seja pela falta de firmeza em defender seu próprio ponto de vista.
- Força persuasiva da reiteração de argumentos.
Está bem constatado que a continuada defesa de uma posição favorável a uma solução acaba por vencer, em muitas ocasiões, a resistência dos que não a compartilham.
Isto acontece independentemente da qualidade objetiva da solução.
- Dominação individual.
Em toda reunião de trabalho tende a surgir uma figura dominante que influi decisivamente na escolha da solução, por sua habilidade persuasiva ou pelo efeito fatigante de sua maior intervenção.
Quando a reunião é presidida pelo superior hierárquico, a conduta deste é determinante quanto ao âmbito de autonomia (o grau de delegação) de que dispõem os assistentes para decidir.
- Politização da discussão.
A escolha de uma alternativa de solução é determinada em grande parte pelas preferências pessoais, que operam como critérios decisórios.
Se a reunião não for conduzida com a habilidade exigida, é fácil cada participante – ou subgrupo – aferrar-se a uma alternativa, com o objetivo latente de ganhar a discussão.
Essa polarização pode fazer com que o esforço de cada um se dirija, não para a melhor solução, mas para impor a qualquer preço seu próprio ponto de vista.
- O negativismo, é uma das armadilhas mais opressivas em que pode cair uma reunião de trabalho.
Às vezes começa por um desacordo irrelevante e espontâneo: o senhor A formula uma opinião e o senhor B retruca com um não mais ou menos taxativo.
Com o desenvolvimento da reunião, é muito provável, depois de alguns minutos, que o senhor B formule outra opinião e que o senhor A lhe devolva o não.
Esta é uma elementar manifestação da lei da reciprocidade, que regula as relações humanas.
Também é frequente que, devido a certa crispação dos assistentes ou à existência de desacordos prévios, se produza uma escalada de desacordos, até alcançar um ponto em que ninguém escuta ninguém e a discussão se converte em uma série ininterrupta de manifestações individuais.
Analisando detalhadamente tal situação, se observará a presença de dois fatores determinantes.
Em primeiro lugar, a tendência humana a reagir às manifestações dos outros imediatamente, com frases de tom valorativo que implicam acordo ou desacordo (como se só houvesse uma linguagem puramente binária).
A esse propósito, é sabido que as pesquisas realizadas sobre comunicação interpessoal apontam a valoração (negativa) como a principal barreira da comunicação.
Em segundo lugar, está suficientemente demonstrado que uma reunião de trabalho somente tolera certo grau de desacordo entre seus assistentes, acima do qual a situação foge ao controle e todo o processo de raciocínio do grupo se obscurece: a dimensão sócio emocional contaminou a dimensão cognoscitiva.
Pesquisas provaram definitivamente esse processo.
Nesse ponto, apresenta-se com clareza a interdependência existente entre essas duas dimensões das reuniões de trabalho.
É que, em última instância, uma reunião de trabalho é um conjunto de seres humanos com suas ideias, suas ambições, seus conflitos e seus sentimentos, tudo isso num contexto social que exerce um efeito multiplicador.
Juntamente com as grandes vantagens que representa o trabalho em equipe, é preciso levar em conta os inconvenientes dessa forma de organização do trabalho. Assim, a tensão que parece dominar a reunião de trabalho entre o diretor dessa cooperativa húngara e os representantes das organizações agrícolas, talvez seja resultado da pressão social, característica sempre implícita no trabalho em equipe. |
Necessidade e funções do moderador
Para esclarecer a necessidade do moderador nas reuniões de trabalho, pode-se começar com uma comparação.
Imagine o leitor, um ser humano desprovido do sistema nervoso central, suas funções se paralisariam e ele acabaria por desintegrar-se.
Pois bem, um grupo de trabalho é, de certa forma, um organismo social que também necessita de certas funções integradoras, sem as quais irá à deriva.
Tais funções cabem primordialmente ao moderador.
O moderador – quer seja um membro do grupo designado para este efeito, quer seja o superior hierárquico que preside a reunião – é a pessoa responsável, ao mesmo tempo, pelo trabalho produtivo do grupo e pela conservação de sua unidade interna.
O moderador deve cumprir, dois tipos de funções integradoras, correspondentes às duas dimensões referidas anteriormente:
(i) ajudar o grupo a pensar metodicamente e
(ii) evitar que as relações entre seus componentes se deteriorem com o atrito gerado pelos processos decisórios coletivos.
Regras básicas para conduzir uma reunião
Baseadas em estudos, as regras seguintes são fáceis de entender à primeira vista, porém sua aplicação requer notável habilidade, tanto na utilização de um método rigoroso para a solução de problemas, como na coordenação de atividades sociais.
- Não competir com os demais membros do grupo, evitando exprimir as próprias opiniões, formular propostas ou avaliar alternativas, porque se apresentar suas ideias tenderá a favorecê-las.
A não ser que se abstenha de contribuir com suas ideias sobre o problema que é objeto da reunião, ficará de tal maneira envolvido na discussão que lhe será muito difícil manter o papel de observador e desempenhar as funções que se detalham a seguir.
Diante desta recomendação, surge a objeção: se o presidente atuar assim, se perderão suas possíveis contribuições, o que é singularmente importante se o presidente for o superior dos outros.
A solução, nesse caso, é que reserve seus pontos de vista para o final.
- Não manipular, já que se ele procura levar a água para o seu moinho é mais do que provável que os outros percebam e se ponham na defensiva.
Qualquer tentativa que o presidente faça para persuadir ou vender sua ideia aos componentes do grupo tenderá a colocá-los na defensiva.
- Escutar, que é algo mais do que ouvir.
Escutar é um processo ativo pelo qual nos situamos na pele dos outros e nos esforçamos por entender seus raciocínios e seus sentimentos.
Com esse objetivo, é útil parafrasear as manifestações dos demais, repeti-las com nossas próprias palavras, deste modo, mostramos o nosso interesse para com a outra pessoa e nos asseguramos que a compreendemos.
Quando escutamos, entramos em relação com a outra pessoa.
Escutando respeitosamente, ajudamos o outro a elaborar suas ideias e evitamos que se coloque na defensiva.
- Evitar que alguém se ponha na defensiva, escutando seus pontos de vista, convidando-o a desenvolver a fundo os seus argumentos.
Se alguém ataca a proposta de outro, é conveniente sugerir-lhe que comece por indicar os aspectos positivos da proposta discutida antes de referir-se aos aspectos negativos.
Desse modo, evitar-se-á a escalada de negativismos.
- Procurar que todos participem, incentivando os mais passivos a intervir e impedindo os mais faladores de monopolizar a discussão.
Um estudo realizado sobre 40 grupos de sete ou oito pessoas para estudar casos conjuntamente, revelou que na maioria dos grupos havia algum membro muito falador e algum silencioso.
Por isso, essa tarefa requer muito tato.
Atenção com as seguintes recomendações: quando julgar que entendeu os pontos de vista do membro falador, diga algo assim, “Obrigado, entendi”.
A seguir, dirija seu olhar para o restante dos componentes e convide-os a falar sem receio algum.
Evite o olhar do falador quando se dirigir ao grupo.
Mais drasticamente, quando formular uma pergunta olhe para qualquer outro e faça um gesto casual ao falador mostrando-lhe que procure abster-se de intervir.
Quanto à norma que convém seguir com o membro silencioso, evite envergonhá-lo referindo-se à sua postura e interrogando-o diretamente.
Procure antes convidá-lo, olhando-o, ao mesmo tempo em que formula uma pergunta ao grupo.
Somente se ele não responder, dirija-se aos outros.
- Procurar que os participantes trabalhem com certa sincronização, evitando que se produza certa especialização de funções. Por exemplo: que alguns se dediquem a dar informações, ao passo que outros se concentrem em formular alternativas ou a definir o problema. Para sincronizar esta atividade, é aconselhável seguir as etapas do método científico de tomada de decisões.
Leia mais em:
- Entenda o método científico de tomada de decisões
- Entenda os outros aspectos importantes da direção de reuniões
- Como entender o trabalho em equipe
- Entenda como desenvolver o trabalho em equipe
Fonte: José Maria Rodriguez – Licenciado em Direito pela Universidade de Sevilha e consultor de empresas. Professor Adjunto de Comportamento na Organização no IESE, em Barcelona.