Existem vários milhares de empresas multinacionais com sede nos Estados Unidos, na Europa Ocidental, Japão e, em grau menor, nos países em desenvolvimento da América do Sul e da Ásia.
A maior parte das empresas multinacionais são de propriedade privada, mas um certo número delas são estatais, como Renault na França e ENI na Itália.
Muitas delas, em número considerável, são empresas menores cabendo porém às multinacionais de grande porte o domínio do panorama dos negócios internacionais.
O Centro das Nações Unidas para Empresas Transnacionais publicou em 1980 alguns dados sobre 350 das maiores empresas industriais do mundo.
As multinacionais possuíam mais de 25000 filiais no exterior, as quais chegaram naquele ano a um volume de vendas de 2,6 trilhões de dólares (aproximadamente 28% do produto nacional bruto das economias desenvolvidas e em vias de desenvolvimento), gerando lucros líquidos aproximados de 100 bilhões de dólares e dando emprego a 25 milhões de pessoas.
Essas enormes empresas industriais multinacionais têm um poder econômico substancial e uma elevada capacidade de impacto, na economia mundial e em cada uma das nações.
Investimentos diretos no exterior
As empresas multinacionais que representam a maior parte dos investimentos diretos estrangeiros são principalmente grandes companhias que desenvolvem sua atividade em indústrias sujeitas a um mercado oligopolístico, isto é, dominado por umas poucas empresas importantes.
As empresas multinacionais possuem nestas indústrias algumas vantagens específicas únicas no acesso ao mercado de capitais, assim como no campo da tecnologia, das técnicas de administração, de organização e de comercialização.
As vantagens tecnológicas, que são cruciais para manter a hegemonia no mercado, compreendem tanto os processos industriais como os produtos acabados, a capacidade para diversificar suas linhas de produção, as técnicas de gestão e outros tipos de conhecimentos, tudo isso baseado em experiências adquiridas.
Essas empresas gozam ainda das vantagens nas economias de escala quanto à produção e comercialização de seus produtos, como também no que se refere ao financiamento de suas operações.
As empresas multinacionais exploram ao máximo tais vantagens, quando realizam investimentos diretos no estrangeiro.
A comparação dos números de vendas das maiores multinacionais com o Produto Nacional Bruto de alguns países europeus põe em evidência o imenso potencial econômico dessas empresas. Mais de cem países de todo o mundo possuem uma renda nacional inferior ao volume de vendas das dez maiores multinacionais.
Transferência de recursos
Vistas de outro ângulo, as empresas multinacionais aparecem como agentes de transferência de recursos de países que os têm em relativa abundância, para outros nos quais esses recursos são escassos.
As transferências compreendem capital, tecnologia, técnicas de administração e gestão; de todas elas, a tecnologia e as técnicas de administração são as mais importantes para os países receptores.
As empresas multinacionais combinam esses bens escassos, que transmitem às suas filiais estrangeiras, com recursos locais para produzir e comercializar os produtos.
Não obstante, o processo é complexo.
As empresas devem considerar os ambientes político, econômico e social, tratar com os governos que as acolhem, elaborar um organograma que permita uma circulação fluida da informação.
E, ao mesmo tempo, manter o controle e a supervisão das filiais estrangeiras enfeixadas na sede central.
Para que uma organização desse tipo tenha êxito, deve facilitar a tomada de decisões e conectar as diferentes unidades da empresa em todo mundo para que formem um todo coerente.
Diante dessa tarefa, as empresas multinacionais encontraram diferentes meios para combinar tanto seus conhecimentos funcionais, como sua especialização produtiva e regional.
As companhias americanas normalmente estabelecem divisões internacionais, organizadas em base geográfica, com um diretor geral encarregado das operações internacionais.
Devido à rápida expansão do volume de negócios, muitas dessas multinacionais convertem-se em macro organizações estruturadas a partir do ramo produtivo ou segundo critérios geográficos.
As empresas, que se haviam diversificado e possuíam sofisticadas linhas de produção, organizaram-se conforme um plano global que dava aos diretores de cada departamento a responsabilidade para fabricar e comercializar suas linhas de produção específicas.
Já as empresas multinacionais americanas, que tinham somente uns poucos produtos de tipo maduro e realizavam negócios em muitos países, dividiram suas organizações por áreas geográficas continentais, como América do Norte, Europa, América Latina, Ásia e África, com diretores regionais encarregados das atividades em cada área.
As empresas estruturadas segundo critérios de tipo geográfico concentram prioritariamente sua atividade no âmbito correspondente à área que lhes foi confiada, um fator de especial importância para a comercialização de produtos bastante maduros.
Por isso, muitas empresas americanas continuam tendo divisões internacionais ou organizações mistas.
Centralização e descentralização
As empresas multinacionais europeias haviam se caracterizado por um tipo de organização na qual os diretores da sede central nas áreas de fabricação, comercialização e finanças dispunham de uma autoridade diretiva absoluta e exerciam um controle estrito nas operações nacionais e internacionais.
Contudo, para melhor responder ao incremento do volume de negócios, certo número de companhias europeias decidiram organizar-se de acordo com critérios geográficos globais.
Outras empresas, pelo contrário, decidiram enfrentar os novos tempos através de organizações mistas, baseadas numa combinação de órgãos de direção regional, funcional ou de ramo de produção, cujos diretores responsáveis são encarregados dos negócios globais.
A centralização e descentralização de autoridade entre a sede da multinacional e as filiais estrangeiras é um assunto de vital importância para a gestão e a administração das empresas transnacionais.
Com efeito, muitas multinacionais praticam uma política descentralizadora, dando participação na tomada de decisões às direções das filiais.
A direção central se reserva a responsabilidade do projeto das principais políticas e estratégias, ao passo que as filiais têm uma considerável autonomia quanto às decisões operacionais.
A distância geográfica e a necessidade que as empresas multinacionais têm de avaliar e adaptar-se aos contextos econômicos, políticos, culturais e legais favorecem a descentralização da tomada de decisões.
Os diretores das filiais estrangeiras devem possuir um conhecimento profundo do contexto nacional em que se movem e de suas eventuais mudanças e tendências, já que estes fatores podem ter influência fundamental nas suas decisões.
Além disso, os governos dos países receptores quase sempre se mostram mais acessíveis às decisões dos diretores nacionais, porque julgam que responderão melhor às exigências nacionais.
Por outro lado, ao planejar as estratégias globais e estabelecer sistemas mundiais de comunicação e controle, as empresas multinacionais centralizam a tomada de decisões.
O processo de centralização tem especial importância naquilo que se refere à produção, às finanças, à pesquisa e ao desenvolvimento ou aos investimentos, assim como em certo tipo de decisões de comercialização cuja finalidade é a obtenção de economias de escala ou a otimização do uso global dos recursos.
Na prática, são pressupostos diferentes: algumas empresas, como a Philips Lamp, concedem uma considerável autonomia à direção de cada país; em outros casos mais frequentes dá-se o caso contrário, pois embora a maior parte dos executivos das empresas multinacionais afirmem que praticam a descentralização, na realidade têm uma forte tendência à centralização na matriz.
Modelo de companhia multinacional em um ambiente dinâmico
No esquema que a figura mostra, a empresa multinacional transmite seus recursos básicos (direção, pessoal especializado, tecnologia, fundos, etc) através das fronteiras nacionais, em um processo que implica atividades diversas: exportação, importação, controle de fabricação, vendas de tecnologia e serviços, etc.
A transmissão mais importante é a dos conhecimentos práticos: de direção, tecnológicos, de negócio e de organização, embora a companhia multinacional possa transferir recursos de outro tipo e mobilizar e combinar os recursos disponíveis no processo internacional de produção, direção e marketing.
No que se refere à transmissão e combinação de recursos, a empresa multinacional deve fazer frente a numerosos condicionamentos, tanto internos (resultantes de sua própria história, sua evolução, sua cultura organizacional, sua concepção dos objetivos, etc), como aqueles gerados em seus país de origem (de ordem legal, política, econômica, social, etc).
O ambiente global estará influenciado por organismos internacionais tais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial, os Acordos Gerais sobre Tarifas e Comércio (GATT), etc.
Planejamento estratégico
As grandes multinacionais estabelecem planos estratégicos de longo prazo, criando um marco para a direção global da companhia.
O planejamento estratégico comporta, de modo vital, a análise das tendências do contexto econômico, político e cultural, a avaliação das normas governamentais e da concorrência nos principais países e a determinação das oportunidades em relação com o risco.
Mediante o planejamento estratégico, a companhia multinacional fixa os objetivos (de lucros e de outros tipos) para o conjunto da empresa e suas filiais em todo o mundo e estabelece globalmente a distribuição de seus recursos.
As estratégias das empresas multinacionais determinam as prioridades, os métodos e os critérios geográficos para a expansão do negócio.
As estratégias permitem delinear os programas de comercialização, a introdução de novos produtos ou a adaptação de outros já existentes, assim como a localização e a modernização das fábricas em diferentes países, a racionalização da produção, a capacitação de diretores nacionais e a proteção dos ativos da companhia em todo mundo.
As empresas multinacionais da indústria automobilística, por exemplo, projetam estratégias para racionalizar a produção, mediante um sistema de fábricas integradas regionalmente, capazes de produzir materiais e componentes para a montagem dos automóveis.
Muitas empresas multinacionais elaboram estratégias para proteger-se contra eventuais riscos nas flutuações dos tipos de mudança e frente à inflação.
Outras estabelecem as condições prévias para entrar em joint-ventures e compartilhar a propriedade das empresas.
Em resumo, as estratégias globais fundamentam as decisões operativas.
Leia mais em:
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Como entender a empresa multinacional
Entenda a evolução de uma multinacional
Fonte: William A. Dymsza – Fellow da Academia de Negócios Internacionais e editor do Journal of International Business Studies.