As dimensões da tarefa
Recebe o nome de tarefa o conjunto de funções que se exigem de um operário que ocupa determinado posto de trabalho.
As tarefas podem ser analisadas segundo quatro dimensões:
- Variedade.
Trata do conjunto de operações individuais distintas que o operário deve realizar.
Um operário que posiciona duas peças diante da ferramenta de uma máquina, para que esta realize sua operação automática, tem uma tarefa com pouca variedade.
Um operário que faz a manutenção de uma complexa máquina-ferramenta tem uma tarefa com grande variedade.
- Autonomia.
Refere-se ao nível de autoridade que o operário tem para programar seu próprio trabalho, escolher o equipamento mais adequado, utilizar um procedimento ou outro, e programar suas pausas.
Um operário que trabalha em uma linha de montagem de elevada velocidade, executando uma tarefa simples, dispõe de pouca autonomia.
Um chofer de caminhão dispõe, em geral, de alto grau de autonomia.
- Identidade.
Trata do nível de identificação que o operário pode manter com relação ao produto que fabrica.
Uma operária que realiza unicamente a operação de colocar um bolso em um vestido tem uma tarefa com pouca identidade.
Um operário que trabalha em uma das poucas empresas que ainda fabricam carros esportivos artesanalmente executa uma tarefa de grande identidade.
- Retroalimentação.
Trata da informação que recebem os operários sobre os resultados de seu trabalho.
Um operário eventual que trabalha numa colheita fazendo parte de um numeroso grupo de operários e trabalhando durante um curto espaço de tempo dispõe, em geral, de pouca retroalimentação.
Uma operária que trabalha em um centro de pesquisa cuidando de uma série de animais, sobre os quais alguns cientistas fazem experiências, em geral receberá um alto nível de retroalimentação.
Se uma tarefa supera corretamente o exame a partir destas quatro dimensões, isto é, se se trata de uma tarefa de grande variedade, considerável autonomia, elevada identidade e abundante realimentação, se conseguirá que os operários se sintam satisfeitos.
O operário se dará conta de que é o responsável pelo trabalho que fez.
O operário sentirá que realizou um trabalho significativo, que tem um sentido para ele e que pode identificar-se com ele.
Os operários, por fim, saberão até que ponto estão realizando bem seu trabalho e estarão em condições de aprender e de melhorar profissionalmente.
Ampliação e enriquecimento das tarefas
Para simplificar, poderia representar-se graficamente a posição de uma tarefa quanto às suas dimensões como se faz na figura intitulada “Enriquecimento e ampliação das tarefas”.
Para interpretar o desenho Enriquecimento e ampliação de tarefas é preciso supor que a execução de uma operação simples se situará no eixo horizontal, à direita. Uma tarefa que permitisse ao operário um alto grau de autonomia e tivesse um elevado conteúdo quanto à dimensão de identidade e à de retroalimentação se situaria no eixo vertical.
De acordo com ela, uma tarefa que exige a execução de uma operação simples apareceria situada sobre o eixo horizontal e à esquerda, ao passo que uma tarefa que exigisse a execução de várias operações diferentes, uma depois da outra, apareceria situada sobre o eixo horizontal, mas à direita.
Por outro lado, uma tarefa que permitisse ao operário um alto grau de autonomia em sua realização e tivesse, além disso, um conteúdo importante quanto às dimensões de identidade e realimentação apareceria na parte alta e à direita do quadro.
O princípio de especialização implica dividir um trabalho em tarefas muito simples e atribuí-las aos diferentes operários.
Os operários não recebem outro adestramento a não ser o necessário para executar sua única tarefa.
Sua carreira profissional pode ver-se limitada a repetir sempre de novo, um dia depois do outro e um ano depois do outro, a mesma tarefa.
Nesses casos, o operário não costuma ter autoridade para programar seu trabalho nem para controlá-lo: outras pessoas realizam essa função.
Um exemplo costumeiro desse tipo de trabalho é a linha de montagem.
Quanto mais simples uma tarefa mais automatizável é: a entrada de robôs nas linhas de montagem iniciou-se por aquelas operações que constavam de poucas tarefas simples.
Dado que o princípio de estabilização permaneceu vigente durante muitos anos, grande parte das tarefas que se encontram na indústria correspondem ao tipo das tarefas de execução simples.
Esse princípio calou tão fundo no pensamento industrial que até as máquinas, a distribuição na fábrica e o projeto dos produtos são planejados de modo que a organização da produção o respeite.
Quando em certas ocasiões se deseja redefinir o trabalho e passar a trabalhos mais ricos, entra-se em choque com a rigidez imposta pelos meios de produção.
Esse foi o caso já histórico da empresa Volvo: ao tratar de enriquecer os trabalhos dos operários da linha de montagem, encontrou tais limitações tecnológicas que acabou por prescindir da linha de montagem; elaborou outro sistema de transporte do material, ao longo do processo, que permitia introduzir tarefas mais ricas.
Voltando à figura “Enriquecimento e ampliação de tarefas” e levando em conta os conceitos expostos acima, se se deseja introduzir um trabalho mais motivador, é preciso avançar em diagonal, isto é, acrescentar variedade, autonomia, identidade e realimentação às tarefas.
Além disso, será necessário levar em conta os elementos do setor situados à esquerda do quadro “Teoria de Herzberg sobre as fontes de satisfação e de insatisfação no posto de trabalho”, os chamados fatores de manutenção.
Diversos esquemas para enriquecer os trabalhos
A figura “Definição do trabalho em função do conteúdo das tarefas” mostra uma matriz na qual alguns quadros foram preenchidos com conceitos diferentes que implicam determinada forma de definir o trabalho.
A figura Definição do trabalho em função do conteúdo das tarefas é uma matriz na qual se preencheram alguns quadros com conceitos que implicam uma determinada forma de definir o trabalho. Produzindo-se um deslocamento para a direita, ganha-se unicamente quanto à variedade; enquanto que, se o movimento se realiza para cima, então se ganha em autonomia, em identidade e em retroalimentação.
Tais conceitos podem ser aplicados em maior ou menor grau e, certamente, não se encontrariam duas empresas nas quais se aplicassem do mesmo modo.
Por isso a ordenação da figura deve ser considerada unicamente ilustrativa.
Produzindo-se um deslocamento para a direita, ganha-se unicamente em variedade, mas se o movimento se realiza para cima ganha-se em autonomia, em identidade e em realimentação.
Em geral, o problema que com mais frequência surge nas empresas é o de redefinir trabalhos, isto é, passar de trabalhos que têm tarefas pobres a outros que sejam mais motivadores.
Há métodos para organizar as tarefas de forma que sejam mais significativas.
Na matriz da figura já referida indicam-se alguns: rotatividade nos postos de trabalho, autocontrole de qualidade, tecnologia de grupo círculos de qualidade, grupos semiautomáticos e spin-off.
Mais adiante, serão estudados com algum detalhe esses métodos de organização das tarefas.
Por ora, vamos analisar alguns conceitos úteis para definição de tarefas significativas.
- Unidades naturais de trabalho.
Uma das melhores formas de organizar o trabalho é reunir em um mesmo posto o conjunto de tarefas que têm continuidade e interdependência e que, conjuntamente, alcançam alto grau de identidade.
Diz-se que existe uma identidade natural de trabalho quando o produto do trabalho tem um caráter completo ou quase completo.
Às vezes, quando é possível organizar o trabalho em grupos, pode-se atribuir um conjunto de tarefas a um grupo de trabalhadores.
Por exemplo, em uma cadeia de vinte pessoas que fabricam calçado esportivo em grandes séries, cada operação é elementar, cada operário conhece unicamente sua operação (costurar os diferentes componentes da parte superior, compor a sola, colar a sola à parte superior, colocar os cordões) e cada uma das fases divide-se por sua vez em pequenas tarefas.
Numa extremidade da instalação de fabricação há um grupo de seis operários muito qualificados que fabricam modelos especiais e pequenas séries do mesmo calçado esportivo, só que neste caso a disposição não é em cadeia e todos são polivalentes (podem realizar várias operações).
Este segundo grupo realiza uma tarefa com mais identidade.
Na maioria dos casos, contudo, não é possível atribuir a um operário ou a um grupo todas as tarefas que compõem um produto completo.
- Relações fornecedor-cliente.
Dentro de um processo de fabricação, é possível identificar as pessoas ou os grupos que recebem o trabalho de outras pessoas ou de outros grupos, e que devem continuar operando sobre esse trabalho.
O trabalho dos que recebem materiais ou produtos semiacabados procedentes de fases anteriores a seu posto vê-se afetado com frequência pela forma como se realizaram as fases anteriores.
O trabalho pode apresentar defeitos que terão de corrigir ou pode chegar-lhes desordenado e sujo.
É possível que essas falhas sejam involuntárias e inconscientes, ou fruto de uma negligência consciente.
Criar relações fornecedor-cliente em um processo de fabricação quer dizer estabelecer claramente quem passa trabalho a quem, de forma que os segundos saibam de quem devem reclamar, quando os produtos não lhes chegam nas condições devidas.
Isso tem a vantagem de produzir uma realimentação mais imediata: os operários dão-se logo conta de não estar fazendo bem alguma coisa.
- Combinação de tarefas.
Este conceito refere-se à possibilidade de reunir em um só posto de trabalho determinado número de tarefas.
Combinando várias tarefas, chega-se a uma unidade natural de trabalho.
- Responsabilidade na base.
Isso significa transladar maiores níveis de responsabilidade aos postos inferiores da organização.
Há empresas onde a responsabilidade da produção está separada da responsabilidade pela aceitação ou rejeição do produto, em função de sua qualidade.
Pode acontecer que grandes quantidades de um artigo serão enviadas à sucata, porque determinado operário trabalhou com uma máquina desajustada ou utilizou uma matéria-prima defeituosa.
O pior é se ele mesmo percebeu que a máquina estava desajustada ou que a matéria era defeituosa e, contudo, não tinha autoridade para deter o processo produtivo.
- Realimentação.
É o resultado do conjunto de sistemas que informam os operários sobre o rendimento de seu trabalho em aspectos quantitativos e qualitativos.
Há empresas que colocam gráficos nos lugares de trabalho indicativos desses rendimentos: produtividade, porcentagem de unidades defeituosas, etc.
Dessa forma, todas as pessoas que trabalham naquele lugar têm uma rápida realimentação sobre a medida em que alcançam os objetivos.
Certas empresas procuram assegurar qualquer informação que possa ser importante, para que um operário melhore no desenvolvimento de uma tarefa, e levam-lhe essa informação o mais cedo possível.
- Promoção.
Refere-se à possibilidade de um operário experimentar um avanço profissional no exercício de sua tarefa, isto é, que gradualmente tenha a oportunidade de assumir maiores níveis de responsabilidade e maiores níveis de sofisticação técnica nas tarefas que realiza.
É bom relembrar aqui que o nosso estudo é a definição do trabalho e por isso devemos nos ater aos aspectos próprios do seu conteúdo e não de seu contexto (remuneração, supervisão, etc).
Os seis conceitos expostos podem ser úteis na definição do trabalho.
Desejando-se conseguir um trabalho mais significativo, pode-se estudar em primeiro lugar quais seriam as unidades naturais de trabalho; tratar de combinar as tarefas, para aproximar o mais possível de tais unidades naturais as definições do posto; estabelecer relações fornecedor-cliente entre os diferentes grupos ou indivíduos que colaboram no processo produtivo; verificar como poderiam assumir maiores níveis de responsabilidade os operários que realizam a atividade objeto de melhoria; assegurar que existem os sistemas de comunicação que garantam a realimentação rápida; finalmente, seria necessário comprovar que existem possibilidades de avanço profissional para os operários que realizam satisfatoriamente seu trabalho.
Leia mais em:
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Como entender a definição das tarefas
Fonte: Pedro Nueno Iniesta – Engenheiro Industrial, doutor em Administração de Empresas pela Universidade de Harvard. Professor de Direção da Produção, Tecnologia e Operações do IESE.