O problema do planejamento da produção pode ser enunciado suscintamente da seguinte maneira: dada uma previsão de vendas para um horizonte de tempo, encontrar a combinação de produções, estoques e recursos globais da empresa (mão-de-obra, capacidade produtiva, dinheiro, etc) que consiga satisfazer a demanda da melhor forma possível.

A situação é apresentada esquematicamente no gráfico “Evolução das vendas”.

O gráfico apresenta um modelo de evolução das vendas, no qual os diferentes tipos possíveis de capacidade estão representados por três setores. A capacidade própria cobre a parte regular da demanda, mas nos momentos em que esta supera a capacidade básica, será necessário recorrer a horas extras. Contudo, em muitos casos não serão suficientes as horas extras, e por isso a empresa apelará para a capacidade externa, subcontratando.

A empresa dispõe de vários tipos de capacidade de produção para manter a demanda.

Em alguns casos, a capacidade de produção própria, em horas normais, é a mais barata, mas a mais rígida, já que não é possível mudá-la a não ser pela adi­ção ou redução de mão-de-obra e talvez de maquinaria ou de instalações.

Outros tipos são flexíveis, mas caros.

Por exemplo, o incremento do trabalho mediante horas extras é um método muito flexível, pois pode reduzir-se a zero ou aumentar até os limites legais, mas supõe maior cus­to.

Também se pode usar capacidade ex­terna, que costuma ser também flexível, mas às vezes é mais cara.

Por último, pode-se investir em estoques, e com isto se transporta capacidade de produção de um período para outro, tornando disponível em um período a produção realiza­da no período anterior.

O planejamento da produção deve realizar-se com” a frequência e o horizon­te de tempo adequados a fim de que se possa tomar as decisões com a necessária antecedência para a sua implantação.

Quem decide deve poder chegar a tempo.

No planejamento, a maioria dos dados são estimados, com um alto grau de incerteza, e, por conseguinte, o resultado costuma ser um plano de elevado risco.

Às vezes, isso leva a empresa a pôr de lado o planejamento, alegando que a elevada incerteza invalida os planos que se possam preparar (a objeção mais frequente é que a previsão de vendas para um ano é impossível).

Essa postura é errônea.

É necessário prever quando as ações imediatas da empresa dependem de acontecimentos futuros, porque a falta de planos explícitos, baseados em previsões explíci­tas, equivale a seguir um plano implícito baseado em uma previsão (implícita e com frequência muito errônea) de que tu­do continuará como antes.

Natureza dos custos

A elaboração de um plano de produ­ção deve levar em conta o custo do mes­mo.

Embora este não seja o único a considerar, é um dos critérios de avaliação mais fáceis de calcular e, portanto, pode-se tomar como um valor de referência pa­ra outros critérios mais qualitativos.

Cos­tumam ser consideradas as seguintes ca­tegorias de custos:

  • Custos de aquisição e de exploração da capacidade.

Em primeiro lugar é preciso considerar os custos de contratação e de redução da mão-de-obra.

Assim, ao aumentar a capacidade de produção própria, é necessário frequentemente introduzir mudanças na quantidade de pessoal disponível.

Dessa forma, incorre-se em custos de treinamento, de produção defeituosa ou perda por falta de experiên­cia, em custos administrativos, etc.

Tais custos podem ser considerados proporcio­nais ao número de pessoas contratadas.

Os custos de rescisão do contrato (indenizações, custos administrativos, etc) têm aproximadamente a mesma estrutura.

Em segundo lugar, é preciso levar em conta os custos de produção em horas normais, que são essencialmente os da folha de pagamento.

Os outros custos podem ser considerados zero, já que a maio­ria são independentes deste nível de produção (uma vez determinada a mão-de- obra); ou não são diferenciais com rela­ção a outras alternativas analisadas (por exemplo, os custos do processo costumam ser os mesmos se o trabalho se realiza através de horas extras, em vários turnos ou em horas normais).

Outros custos que devem ser avaliados são os do estabelecimento de outros tur­nos ou de horas extras.

A incorporação de outro turno ou de horas extras pode implicar por sua vez custos de outros tipos (seguros administrativos, etc).

Também são relevantes os custos de produção em outros turnos ou em horas extras.

É preciso considerar, por exemplo, o incremento do custo produzido pela maior remuneração da mão-de-obra ou a diminuição do custo pelo uso da eletricidade em horas noturnas, etc.

Fecham esta categoria os custos de produção no exterior.

O custo total por este conceito costu­ma ter uma forma como a do gráfico “Cur­va dos custos de capacidade”, com uma inclinação crescente à medida que se usam formas mais caras de produção.

  • Custos relacionados com os estoques.

De um lado, é preciso levar em conta o custo de posse dos estoques e, de outro, uma série de custos intangíveis relaciona­dos com a tendência de pouco estoque.

Ter pouco estoque pode ocasionar rupturas de serviço, e com isto se incorre na perda da margem das unidades que não foram entregues.

Os custos de estoque costumam ter uma forma aproximada daquela apresentada no gráfico “Curva dos custos de estoque”, sendo provavelmente zero o custo mínimo para um nível de es­toque que se considera ideal.

  • Custos da mudança de ritmo da produção.

Mesmo dispondo dos meios para realizar a produção (por exemplo, da mão-de-obra necessária), pode ser conveniente não utilizá-los como consequência do custo em que se incorre se for pre­ciso alterar o ritmo da produção.

O caso típico se apresenta quando a empresa tra­balha em linha de montagem.

Uma linha de montagem é um sistema produtivo de alta eficiência, mas muito pouco flexível, e por isso uma mudança de ritmo gera custos consideráveis.

O gráfico “Curvas dos custos da mudança de ritmo da produção” mostra uma forma típica destes custos.

O gráfico mostra a forma da curva de custos da mudança de ritmo de produção. Esses custos são muito altos para as linhas de montagem, sistemas de grande eficiência, mas de pouca flexibilidade. A mudança de velocidade de uma linha requer um reequilíbrio da mesma e, às vezes, uma redistribuição das ferramentas de produção. Os custos de mudança costumam depender da produção inicial e da magnitude da mudança. Na figura há uma curva para cada nível de capacidade inicial.

O quadro “Cálculo do custo de um plano de produção” apresenta um exemplo de cálculo dos cus­tos de um plano de produção.

Dão-se os custos básicos de partida e indicam-se separadamente os diferentes conceitos de custo que geram o custo total.

Para simplificar, não foram levados em conta os custos da mudança de ritmo de produção.

Técnicas aplicáveis

As principais técnicas que se usam no planejamento estão orientadas para o cálculo e a minimização do custo total.

  • Simulação.

É a técnica mais simples que corresponde à fórmula:

“O que acontece se…”.

Com frequência, está baseada numa representação tabular, como a do quadro “Cálculo do custo de um plano de produção” já referido.

É muito simples avaliar os custos com a ajuda de algumas das planilhas de cálculo, disponíveis pa­ra a maioria dos microcomputadores.

A potência do recálculo dessas planilhas de cálculo permite explorar o resultado das alterações de algumas das variáveis da decisão.

A principal vantagem da técnica é sua facilidade de compreensão para o planejador.

Geralmente, o modelo é a transcrição para o computador das planilhas já existentes na empresa e processadas a mão.

A principal dificuldade é o elevado consumo de tempo e a falta de uma sistemática de análise, que pode originar confusão e perda de tempo em problemas de certa envergadura.

  • Técnicas de otimização.

A simulação é pouco útil quando o plano tem de cum­prir condições complicadas.

Por exemplo, quando a capacidade de produção de alguma seção é limitada, pode ser difícil encaixar o plano dentro das restrições por experimentação.

Nesses casos, a técnica mais utilizada é a programação linear, que permite, com a ajuda do computador, obter a solução do custo mínimo de um problema com capacidades escassa sempre que se deem as condições de: custos proporcionais (pelo menos dentro de certos intervalos) e aditivos (custo total igual à soma dos custos); consumos de capacidade proporcionais à produção e aditivos; divisibilidade das unidades produzidas, isto é, que tenha sentido, pelo menos aproximadamente, a produção de frações do artigo.

No quadro “Plano ótimo de produção: minimização do custo total” dá-se a solução de menor custo do exemplo do quadro “Cálculo do custo de um plano de produção”.

A solução ótima sugere a contratação de 104,6 operários.

Isto não tem importância, já que tanto 104 como 105 dão custos muito próximos ao ótimo.

Em outros casos, o problema pode ser mais grave.

Uma utilidade não imediata de uma técnica de otimização é a possibilidade de comparar com o ótimo o plano a ser implementado.

Por exemplo: se por considerações de tipo trabalhista o plano realizado fosse finalmente o do quadro “Cálculo do custo de um plano de produção”, o preço que se pagou por restringir as dispensas aos contratos eventuais é dado pela diferença de custos entre este plano e o ótimo, igual a 5.524.000 unidades monetárias.

A principal vantagem da programação linear (PL) é sua habilidade para tratar restrições.

Seu inconveniente é a necessidade de formular um modelo e de processá-lo no computador.

Se a empresa mantém 10 linhas de produtos, 5 seções e 12 períodos no horizonte de programação, o modelo resultante pode constar de mais de 600 equações e um número similar de variáveis.

Embora este volume esteja ao alcance de muitos computadores pessoais, não são muitas as pessoas que possuem os conhecimentos necessários para utilizar esta técnica.

  • Técnicas simplificadas.

Na prática, os custos de produção e de estoque mudam pouco no tempo, e por isso o procedimento seguinte – uma especialização da PL – é muito útil:

“Começar pelo primeiro período e continuar até o último.

Tentar servir a demanda do período com a capacidade de produção do próprio período.

Se isso não for conseguido em determinado período, ir para períodos anteriores, buscando o primeiro período com capacidade disponível e produzir neste”.

Essa regra é fácil de programar e foi utilizada com grande êxito nos sistemas de apoio a planejamentos baseados no computador.

Programação e lançamento

Esta seção trata da programação e do lançamento da produção.

Dado um pla­no de produção, que estabelece os níveis básicos dos grandes recursos, trata-se agora de utilizá-lo diariamente para ser­vir adequadamente a demanda.

Neste caso, a ênfase situa-se na determinação das quantidades que devem ser lançadas, e quando é preciso fazê-lo pa­ra satisfazer as exigências do mercado dentro dos limites do plano.

Então assumem importância os aspectos operacio­nais que tornam a programação factível: a interferência entre os programas, as características dos centros de produção, as datas de entrega, ou seja, todo o conjunto de restrições operacionais que convertem o problema em combinatório.

A dificuldade essencial de um programa é encaixar as diferentes peças do mesmo a fim de produzir as quantidades desejadas a um custo razoável.

Na programação, normalmente leva-se em conta o custo do lançamento de uma ordem de fabricação.

Esse custo po­de ser um gasto real ou simplesmente um custo de oportunidade.

No primeiro caso, pode ser determinado pelos pagamen­tos que devem ser realizados em forma de ferramentas gastas, materiais estragados nas provas, etc.

No segundo, costuma-se associá-lo ao custo de oportunidade do tempo perdido, para ajustar uma máquina ou por ter mudado o produto na mes­ma.

Na opinião do autor, quase nunca existe um custo de lançamento como elemento básico do problema, mas uma limitação da capacidade de lançamento.

Embora sempre se possa associar à capacidade escassa seu custo marginal de oportunidade, é um erro comum esquecer a natureza subsidiária do custo de lançamento.

Com frequência, os custos de lançamento são subestimados ou, pior ainda, supõe-se, invocando algum tipo pouco claro de economia de escala, que o lote ótimo deva ser grande, sem se ter sequer avaliado seu custo, o que leva à fabricação de lotes muito grandes e, com frequência, à presença de estoques notáveis em curso, com o consequente custo financeiro associado.

O tratamento dos lançamentos como restrição leva à conclusão de que o ótimo é esgotar a capacidade de lançamen­to, fabricando em lotes tão pequenos e lançando com tanta frequência quanto possível.

Os sistemas JAT (Justamente A Tempo), de origem japonesa, baseiam-se em que o lote ótimo é sempre o de uma unidade, e que para consegui-lo é preci­so reduzir o custo de lançamento a zero.

A representação dos programas de produção

Para sua manipulação ou compreensão, um programa de produção pode ser representado através de diferentes estruturas de informação.

A crescente utiliza­ção do computador para manipular os programas de produção impôs a representação em forma de listagens de diversos tipos.

Uma representação adequada de um programa deve ajudar quem decide a tomar rapidamente as melhores decisões.

Uma listagem de ordens programadas não tem o poder de sugestão nem de manipulação que possui o diagrama de Gantt que continua sendo, depois de muitos anos de emprego, uma notável descoberta.

Podem ser construídos diferentes tipos de diagramas de Gantt, mas os tipos mais frequentes são o de atividades e o de máquinas.

A figura “Diagrama de Gantt de atividades” situa no eixo horizontal os tempos e no eixo vertical as diferentes operações que vão ser desenvolvidas.

A figura “Diagrama de Gantt de máquinas”, por sua vez coloca na vertical os centros de trabalho e indica mediante barras a duração das operações, acrescentando, além disso, a cada barra uma indicação da operação programada.

No passado, um diagrama de Gantt (ou de barras) materializava-se sempre em um quadro de planning, que permanecia à vista dos responsáveis.

A principal van­tagem de tal organização era a possibilidade de dar-se conta da situação do programa com uma simples olhada.

Seu principal inconveniente era a dificuldade de manejo, de reorganização e de atualiza­ção.

Um programa desta índole é capaz de ocupar muitos metros quadrados, e a menor modificação pode obrigar a um laborioso trabalho de atualização.

O computador facilita o tratamento da informação, mas a maioria dos computadores não dispõe das capacidades gráficas necessárias para apresentar adequadamente semelhante diagrama.

Alguns microcomputadores começam a incorporar essas possibilidades, e as pessoas responsáveis pe­la área da produção devem exigir dos analistas e programadores essa ferramenta, muito útil desde que manejada adequadamente.

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Fonte: Josep Riverola García – Doutor engenheiro de indústrias têxteis, master of Sciences in Operations Research, Ph.D. in Operations Research e catedrático da Universidade Politécnica de Barcelona.