O modelo ou paradigma antropológico visualiza a empresa como uma instituição, isto é, como uma realidade humana cujo sentido último é a organização das potencialidades das pessoas para atender suas próprias necessidades.
Deste ponto de vista, pudemos verificar que a empresa possui três dimensões ou características que definem sua qualidade, isto é, seu valor autêntico: são essas propriedades que denominamos eficácia, atratividade e integração.
Por trás desses conceitos abstratos encontram-se algumas realidades que são objeto de tratamento frequente tanto na literatura como na prática das melhores empresas.
Vamos ilustrar brevemente este ponto.
Qualquer visão realista da empresa costuma reconhecer que esta tem a função de produzir riqueza (eficácia), através da aplicação de capacidades operacionais específicas (o que chamamos um objeto), para satisfazer necessidades concretas (que já denominamos missão externa).
Em síntese, pois, pensando-se em termos de empresa, de um modo ou de outro está-se pensado nas três dimensões:
- A quantidade de riqueza que cria através de seu operar.
- Sua capacidade de produzir bens.
- Sua capacidade de saber que tipos de bens deve produzir.
Do ponto de vista dinâmico, ao realizar suas atividades, a empresa vai aprendendo (positiva ou negativamente).
Por exemplo, ao adotar certa política operacional pode provocar desmotivações entre seu pessoal e, como consequência, uma parte perde o interesse e a outra parte apela para a evasão do emprego.
Dessa forma pode acontecer o fenômeno da empresa desaprender (aprendizagem negativa) a produzir bens, tenha significado em termos de pura criação de riqueza.
Em última análise, porém, se foi consciente disto ou não ao tomar a decisão, o certo é que, neste caso, sacrificou-se no altar do imediatismo econômico sua capacidade de continuar produzindo riqueza para o seu próprio benefício e o benefício dos outros.
Capacidades da empresa
Os processos de aprendizagem de uma empresa são determinados pelas mudanças que acontecem tanto no plano de sua capacidade de produzir como no de sua capacidade de saber o que é preciso produzir.
É esse know-how que confere a uma empresa suas potencialidades para alcançar os objetivos que se propõe e para estabelecer que objetivos concretos deve propor-se se quiser ser coerente com sua própria sobrevivência e desenvolvimento.
A eficácia, atratividade e integração são os parâmetros que de maneira abstrata representam a saúde – o bem-estar – de uma empresa: do ponto de vista econômico (criação de riqueza: eficácia), do sociológico (capacidade funcional: atratividade) e do ponto de vista ético (capacidade de aplicar a potência operacional a serviço da satisfação de necessidades humanas através da correta definição das metas da sua atuação, isto é, a integração.
Pode-se observar todos esses pontos no gráfico “Dimensões que definem a qualidade de uma empresa”.
Normalmente, as decisões que se tomam numa empresa terão consequências nos três planos mencionados e podem ser positivas num deles e negativas em outro ou noutros.
É missão básica dos diretores tomar decisões nas quais se ponderem adequadamente tanto as consequências econômicas como as sociológicas e as morais ou éticas de cada decisão concreta.
Do contrário, essas decisões estarão comprometendo a própria existência da empresa: a curto prazo – se não obtém resultados mínimos necessários no plano econômico e médio e/ou longo prazo – se os processos negativos de desenvolvimento corroem a realidade sociológica e/ou moral da empresa.
A análise de uma empresa como instituição reconhece que o seu mais importante valor se acha ligado à sua realidade moral, ao grau de integração que efetivamente possui.
Este valor é o que mais diretamente determina a evolução futura das outras duas.
É evidente que, a curto prazo, existem alguns níveis mínimos de eficácia e de atratividade que são necessários para que a empresa possa funcionar.
Geralmente se falará de mínimos necessários, estando muito conscientes do perigo que supõe uma excessiva insistência nos resultados imediatos – eficácia, em razão das possíveis consequências negativas nos outros planos da realidade.
Objetivos básicos da empresa
Dentro de uma visão institucional da empresa se fosse preciso falar de um objetivo básico, se falaria da conservação daqueles recursos necessários para a sobrevivência da própria empresa, ou seja, se falaria de auto conservação e crescimento natural como no caso de qualquer organismo vivo.
O crescimento natural é determinado pelos aperfeiçoamentos na consecução da missão externa e do desenvolvimento das potencialidades necessárias para essa consecução (missão interna).
Os limites ao crescimento vêm pela via da auto conservação, na medida em que esta implica não arriscar indevidamente a própria conservação dos recursos que atualmente tem em mãos.
Todas estas considerações tão abstratas – via dedutiva dentro do paradigma – têm consequências concretas que alguns teóricos da organização observam claramente.
Assim, por exemplo, podemos encontrar em Selznick (Philip Selznick, Leadership in Administration, pp. 143-149) todo um conjunto de valiosíssimas observações sobre o que ele denomina estratégias de adaptação oportunista – aquelas que ao buscar a exploração de algumas oportunidades que o ambiente oferece prejudicam o próprio projeto e a missão da organização.
No mesmo autor podemos encontrar uma concepção da liderança como uma atuação que visa a institucionalizar a organização, convertendo-a num instrumento de serviço para a satisfação de necessidades humanas, através da elevação dos motivos transcendentes das pessoas que dela fazem parte.
Segurança no emprego
São também muitas as empresas – não apenas as japonesas – que estabelecem claramente entre seus objetivos básicos proporcionar segurança no emprego a todos que ali trabalham, desde que seu rendimento seja adequado.
O fenômeno é muito frequente entre as pequenas e médias empresas, verdadeiramente sólidas (não aquelas que são produto de negócios conjunturais).
Visto que essas empresas raramente formulam de maneira explícita seus objetivos e políticas básicas, esse fato não pode ser recolhido da literatura descritiva sobre o tema.
Para os que estão familiarizados com a realidade empresarial, contudo, não seria difícil citar um bom número de empresas pequenas e médias nas quais a necessidade de ter que despedir alguém por falta de trabalho assume proporções de autêntica tragédia.
Todas essas posturas não são mais do que uma manifestação de coerência com a visão institucional da empresa: significam, em última análise, a aplicação prática desse objetivo básico de auto conservação dos recursos, que é o ponto dominante nessa conceituação.
Leia mais em:
- Como entender o funcionamento nas organizações: A necessidade de um modelo completo
- Entenda o modelo antropológico
Fonte: Juan Antonio Pérez López – Atuário de seguros pela Escola Central Superior de Comércio de Madri, PhD em Business Administration pela Harvard University e professor titular de Comportamento Humano na Organização no IESE.