Uma primeira abordagem à preparação desta demonstração contábil consiste na comparação dos balanços inicial e final do período.

Recordemos que a DOAR não pretende substituir o balanço ou a conta de resultados, mas suplementá-los, isto é, proporcionar informação que não se encontra ou não se encontra facilmente nestas demonstrações.

Por isso, uma simples comparação de balanços (explicando as aplicações como os aumentos de ativos e as diminuições de passivos, e as origens como os aumentos de passivos e as diminuições de ativos) com frequência não fornece informação suplementar significativa.

Em tal caso, possivelmente não valha a pena prepará-lo.

É preciso recordar também que se entende por recursos o que se cobrou durante o exercício ou o que se vai cobrar a curto prazo, e o que se pagou durante o exercício ou se vai pagar a curto prazo.

A primeira reclassificação do Balanço do dia 31 de Dezembro de 1986 faz uma primeira aproximação da DOAR de 1986.

1. A variação do total das parcelas do capital de giro líquido foi, portanto, de 5.620 – 2.350 = 3.270 u.m., que coincide logicamente com a cifra calculada ao pé da comparação dos balanços.

2. Depreciação acumulada em 31/12/85 = 40 + 200 = 240

2. Depreciação acumulada em 31/12/86 = 400 + 400 = 800

O aumento, por conseguinte, foi de 560 u.m., que constitui uma origem, pois embora a depreciação acumulada apareça no ativo, figura com sinal – (negativo), e por isso contabilmente equivale a uma conta de passivo.

Os números entre parênteses correspondem aos registros de 1986.

Este quadro explica suficientemente o que aconteceu nas parcelas que compõem o Capital de Giro Líquido ou Capital Circulante Líquido, mas não acontece o mesmo com as que integram o imobilizado e os recursos permanentes.

Com base nas operações realizadas pela empresa durante o ano de 1985 que afetam o imobilizado e os recursos permanentes, pode-se fazer acertadamente uma análise concreta em termos de fluxo de recursos em sua apresentação definitiva.

  • O aumento de capital através de bonificação de 400 u.m. [registrado como (1) no resumo de operações durante 1985 e no quadro de registros de 1985] não supõe nenhum fluxo de recursos.

É uma mera reclassificação contábil dos recursos próprios, cujo total é o mesmo antes e depois de efetuado o aumento.

  • A ampliação de capital em 120% gera recursos de 1.320 unidades monetárias [(2) no quadro de registros de 1985].
  • A instalação do equipamento de 1.200 u.m. reflete-se em aplicações (3).

Seu financiamento, 400 u.m. já existentes na empresa e 800 u.m. de crédito do fornecedor correspondente, fica englobado no Capital de Giro Líquido, visto que tal crédito vence no início de 1986, e sua explicação figura já na parte superior da DOAR (primeira abordagem).

  • O crédito de 2.000 u.m. representa uma origem de recursos de médio e longo prazo (4).
  • As operações correspondentes à movimentação de excedentes, compra de matérias-primas, contratação de mão-de-obra, produtos em fabricação e valorização de estoques, as cobranças dos clientes e os pagamentos a fornecedores afetam somente parcelas do Capital de Giro Líquido; sua análise encontra-se portan­to na parte superior da DOAR.
  • As vendas (10), se efetivamente se jul­ga que vão ser cobradas, constituem uma fonte de recursos – Fundos Provenien­tes das Operações (FPO) – equivalentes a + 10.800 u.m.

O custo das mercado­rias vendidas, que supõem pagamentos realizados ou a realizar, na hipótese escolhida (10) em que este custo não inclui a depreciação do maquinário – serão fundos consumidos pelas operações, diminuindo, portanto, os FPO em 6.150 u.m.

As despesas administrativas e comerciais (13) diminuem os FPO em 2.700 u.m.; também as 400 u.m. de juros correspondentes ao empréstimo a longo prazo (14) ficam a cargo dos FPO, pois embora não tenham sido pagos, serão pagos a curto prazo.

Os ajustes de depreciação não supõem, nem suporão, pagamentos.

Por isso mesmo, não implicam nenhum fluxo de recursos.

A venda de mobiliário (16) reflete-se numa perda contábil de 70 u.m.

Mas o fluxo de recursos que origina é o que pagaram pelos móveis: 50 u.m.

Como se trata de uma operação extraordinária, não se deve incluir nos FPO, mas deve-­se registrar como recursos originados da venda de imobilizado.

Da mesma forma, as 450 u.m. correspondentes à compra do novo mobiliário devem exprimir-se como aplicações de fundos em imobilizado.

A reavaliação de ativos (17), a diferença de sua venda, não supõe nenhum fluxo de recursos.

É simplesmente um ajus­te contábil, para homogeneizar as unidades monetárias nas quais estão expressas as diferentes parcelas.

Para este efeito, também a reavaliação de ativos não supõe nenhum fluxo de recursos, até que efetivamente sejam vendidos.

O Balanço é a imagem da empresa em um momento determinado. É uma visão estática da situação da empresa frente aos outros documentos contábeis, que expressam fluxos e, portanto, movimento. 

Para calcular os recursos gerados pelas operações normais (FPO) devem ser levadas em consideração as vendas, as despesas administrativas e comerciais e os juros correspondentes ao empréstimo.

Ou seja:

Levando em consideração os comentários anteriores, surge uma Demonstração de Origem e Aplicação de Recursos – DOAR, em sua apresentação definitiva, que é muito mais informativa do que a primeira abordagem.

1 Explica-se seu pormenor na parte superior do DOAR (primeira abordagem) e que, logicamente, acompanhará este quadro para apresentar o fluxo completo de recursos.

2. É preciso recordar que os FPO se calculam assim por simplicidade, especialmente quando a conta de resultados é complexa, mas conceitualmente se calculariam a partir desta conta:

Vendas10.800
custo produtos vendidos-6.150
(c) despesas operacionais-3.100
FPO1.550

3. Excluídas depreciações

Em última análise, o que se realiza na elaboração da DOAR é desfazer os ajustes meramente contábeis, necessários para estabelecer o balanço e a conta de resultados, mas que mascaram os fluxos reais dos recursos.

Há muitos formatos possíveis, e deve-se escolher aquele que pareça mais adequado.

Como se indica na apresentação da DOAR, é corrente agrupar a informação relativa às parcelas do capital de giro líquido, de um lado, e as de imobilizado e recursos permanentes, de outro.

No exemplo utilizado, o recurso para imprevistos (previsões) não diminui os FPO, na dúvida razoável de que esses acontecimentos efetivamente se produzam.

Em se tratando de acontecimentos que certamente se considerassem seguros, sem dúvida deveriam subtrair-se dos FPO (provisões).

Na prática, a fronteira entre previsões e provisões pode ser imprecisa e delimitada de maneira diferente por diferentes pessoas.

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Fonte: Fernando Pereira – Doutor em Engenharia de Estradas, professor de Controle no Instituto de Estúdios Superiores de la Empresa – IESE, de Barcelona. Ex-presidente da European Accounting Association.