A depreciação do imobilizado (como os caminhões de uma empresa de transportes ou os edifícios em construção) é um fator essencial para a medida dos resultados econômicos de uma empresa, pois a estimativa da vida útil de um mobilizado e seu possível valor residual comportam um alto grau de subjetividade.

Poucos problemas na empresa são mais relevantes, do ponto de vista financeiro, do que o planejamento e o controle de tesouraria.

O caixa (dinheiro disponível ou depósito à vista em bancos) é o ponto focal das finanças.

É importante não esquecer este fato porque a complexidade dos modernos sistemas de informação, com muita frequência, tende a obscurecê-lo.

Assim, por exemplo, uma empresa pode ganhar dinheiro (obter lucros) e ao mesmo tempo não dispor de recursos para satisfazer seus compromissos de pagamento.

Outra empresa, pelo contrário, pode dispor de uma tesouraria bem provida ao mesmo tempo que sua conta de resultados apresenta perdas substanciais.

Determinadas ferramentas contábeis, como o Fluxo de Caixa e as Demonstrações de Origens e Aplicações de Recursos (DOAR), podem ser de grande utilidade na gestão dos recursos disponíveis de uma empresa.

Nosso propósito aqui não é tanto aprofundar os aspectos mais técnicos destes instrumentos, quanto mostrar seu potencial para dar resposta às seguintes perguntas-chaves de gestão:

  • Em que ritmo deve crescer a empresa?
  • Que recursos são necessários para financiar esse crescimento?
  • Que implicações encerra o objetivo de crescimento para a política de dividendos?
  • E quais supõe para a política de endividamento?
  • O crescimento é um objetivo desejável para a empresa?

Responder a essas perguntas exige, como etapa prévia, dispor de uma informação confiável sobre a capacidade da empresa para gerar novos recursos e, o que é ainda mais importante, instrumentar a bagagem analítica e conceitual necessária à interpretação de todos os resultados disponíveis.

O que é cash-flow?

Poucos termos conseguiram uma divulgação tão ampla entre analistas e diretores da área financeira como cash-flow.

Essa popularidade talvez se deva ao fato de que se trata de uma expressão com múltiplos significados.

Um diagnóstico financeiro correto requer que se distinga claramente entre eles.

Entendido o cash-flow como a soma de lucro líquido mais depreciações, aqui está uma relação de seus significados mais habituais:

  • É o sistema de cálculo mais adequado para medir a rentabilidade.
  1. É o livro-caixa que mede os recursos líquidos gerados internamente pela empresa, isto é, o fluxo de caixa efetivado pelos negócios durante determinado período.
  • É o indicador mais fiel que dá pontualmente o sinal de alerta quando se aproxima o risco de suspensão de pagamentos.

Algumas vezes utiliza-se também o termo cash-flow como sinônimo de orçamento de tesouraria.

Esta acepção é menos frequente do que as anteriores e, em todo caso, costuma apresentar menos problemas de interpretação.

Apesar do notável eco que alcançar entre os profissionais e nas publicações especializadas, tais definições não correspondem à realidade e podem ser qualificadas de incorretas.

Não poucas empresas sofreram grandes quebra-cabeças por basearem sua gestão em alguns dos princípios anteriores.

De fato, há indícios de que esse problema esteja se agravando.

Como exemplo, em 1983, ano em que o produto nacional bruto dos Estados Unidos cresceu 3,6%, o número de empresas que faliram ou pediram concordata naquele subiu a 31.822 (24% a mais do que em 1982), cifra não alcançada desde 1932.

Na Grã-Bretanha, o número de quebras também alcançou um recorde: 13.421 empresas.

Mesmo no Japão, o crescimento de 3,5% do PNB em 1983, foi acompanhado de 19.115 falências.

Apesar do crescimento experimentado durante o ano de 1983 pelas economias dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e Japão, o número de empresas que faliram foi muito elevado. Este é um dado indicativo de que não importa apenas o crescimento global do país, mas sim o rendimento das empresas. A medida do cash-flow é muito útil para detectar situações perigosas inclusive em fases aparentemente expansivas.

Cash-flow versus lucros

Vamos explorar uma das razões que podem explicar, ao menos em parte, essa proliferação de crises de continuidade, em uma porcentagem tão elevada de empresas: a confusão entre os conceitos de rentabilidade e liquidez.

As publicações econômicas costumam afirmar com frequência que o cash-flow é um indicador mais significativo (graças à sua maior objetividade) da gestão econômica de uma empresa, do que a cifra de lucros.

Por exemplo: ao apresentar um ranking das cem maiores empresas espanholas, a revista Perspectivas y Mercado afirmava que “uma sociedade pode fazer luzir em sua conta de resultados um lucro superior ao real pelo procedimento tão simples de efetuar algumas dotações menores para as depreciações.

E algumas empresas o fazem.

Esta é a causa da deterioração experimentada pelo lucro, como medida de rentabilidade, e a maior atenção que se presta ao cash-flow, onde ao lucro disponível se agregam as depreciações”.

A questão de saber se o cash-flow é um índice econômico melhor do que o lucro, obriga-nos a levar em consideração se as depreciações são um encargo apropriado para introduzir na conta de resultados.

Certamente, as depreciações constituem a anotação contábil que encerra maior carga de subjetividade.

As estimativas de vida útil dos imobilizados e seu possível valor residual sempre comportam um grau elevado de incerteza, que pode ser ignorado, mas não diminuído, recorrendo aos coeficientes máximos que a legislação fiscal estabelece.

Devido a isso, uma cifra de resultados que inclua a subtração das depreciações será sempre menos objetiva do que outra que tenha prescindido delas.

Não obstante, se o objetivo da contabilidade é chegar a uma cifra indicativa daquilo que a empresa pode consumir (leia-se repartir) sem empobrecer, a não dedução das depreciações é mais difícil de defender.

As depreciações são um gasto que não supõe desembolso, mas nem por isso deixam de ser um verdadeiro custo, isto é, consumo de recursos.

O uso dos efetivos fixos (ou o mero transcurso do tempo) vai depreciando-os inexoravelmente.

A dificuldade de dividir tal fenômeno em períodos não é razão suficiente para que se renuncie a isto por completo.

Por exemplo, na medida dos resultados contábeis de uma empresa de transportes, os ônibus constituem o imobilizado. Sua depreciação, embora não corresponda a um gasto efetivo, representa um custo que deve ser registrado.

Previsões de liquidez

Nas previsões de tesouraria distinguem-se três modelos:

  1. Previsões de cobranças e desembolsos diários ou semanais, para períodos de uma a seis semanas.

Essas previsões mostram a adequação dos saldos de caixa para enfrentar os desembolsos, guiam as transferências de disponibilidades entre a empresa e as contas bancárias, e mostram os recursos disponíveis para investimentos temporários.

De modo geral, só a direção financeira as utiliza.

  1. Previsões de cash-flow e saldo para o ano seguinte, por meses e trimestres.

O principal objetivo das previsões mensais é determinar a tempo os períodos em que escassearão as disponibilidades da empresa, para poder gerir créditos e mostrar quanto estará disponível para investimentos temporários.

Sabendo quando haverá um excesso ou falta de liquidez, é possível selecionar os investimentos e os vencimentos, para obter os melhores rendimentos e o índice de liquidez previsto.

  1. Previsões de cash-flow a longo prazo, para um ou mais anos.

Tais previsões servem, em primeiro lugar, para indicar a magnitude e o momento em que as empresas disporão de liquidez gerada internamente para realizar investimentos de capital, ou então a liquidez adicional necessária para pôr em andamento determinado programa.

A previsão a longo prazo é um aspecto do planejamento financeiro geral a longo prazo.

Fonte: Enciclopédia de dirección y administración de empresas, Carl Heyel, ed.

Discrepâncias no banco

Consideremos outra situação controvertida.

No setor bancário também há discrepâncias substanciais sobre a cifra mais adequada à medida dos resultados econômicos de uma empresa.

Algumas correntes acham que deveriam ser os lucros líquidos; outras preferem dar prioridade ao cash-flow.

No setor bancário, a diferença entre ambas as cifras não é determinada tanto pelas depreciações de ativos fixos como por outro tipo de lançamento de características peculiares: as provisões para créditos duvidosos.

Esta é uma anotação contábil que trata de refletir a circunstância de que alguns dos créditos concedidos não serão reembolsados pelos mutuários em seu vencimento.

Tal fato, embora desagradável, é inerente ao negócio bancário e os profissionais do setor devem conviver com ele.

Mas os acontecimentos que dão lugar às provisões podem acontecer em algum momento futuro e, portanto, não incidem no cash-flow do exercício.

Os defensores do cash-flow com base na maior objetividade da cifra têm aqui argumentos mais poderosos.

Com efeito: se é difícil calcular a vida útil de um equipamento ou de um edifício, é ainda mais difícil avaliar o risco de falências, apesar de se trabalhar com séries históricas que permitem o uso confiável da estatística.

Pense-se, por exemplo, que o Citicorp – um dos maiores bancos do mundo – concedeu empréstimos a quatro países latino-americanos (Argentina, Brasil, México e Venezuela) numa importância equivalente a 154% de seu próprio capital.

Especular sobre a possibilidade de que o principal e os juros desses créditos retornem nos prazos estabelecidos, é um exercício fascinante de análise socioeconômica, mas, ao mesmo tempo, é provável que se constitua em uma tarefa aborrecida e difícil para o responsável pela formulação das políticas contábeis do banco.

Do ângulo estritamente contábil, o uso da política de depreciações, como meio de legitimar o dividendo a declarar, é dificilmente aceitável.

Apesar da reconhecida dificuldade para efetuar esse tipo de provisões, continuam existindo meios para fazê-lo; renunciar a isto é despojar a contabilidade daquela parte de sua tarefa com maior conteúdo próprio.

De fato, é precisamente a necessidade de formular juízos subjetivos que outorga à contabilidade seu caráter profissional e diferencia das meras atividades operacionais de registro que constituem a escritura comercial.

Vê-se essa dualidade no esquema ”Escrituração comercial versus contabilidade“.

O gráfico esquematiza a dualidade entre escrituração comercial que se limita às atividades operativas de registro, e a contabilidade que requer a formulação de conceitos subjetivos. A análise do cash-flow pode ser feita a partir da DOAR embora seja mais frequente realizá-la a partir do balanço e da conta de resultados.

Observe-se que se insiste em que a (análise do cash-flow) pode ser preparada diretamente a partir de uma recompilação ordenada de transações com terceiros.

Na realidade, é mais frequente elaborá-la a partir do balanço e conta de resultados, mas não é importante ter presente o caráter mais primário e intuitivo da DOAR.

Em qualquer caso, o cash-flow não pode ser considerado como substitutivo do lucro quando se trata de medir a renda econômica gerada por uma empresa.

Sua utilidade, por conseguinte, tem de estar nos significados dos financeiros que se lhe atribuem.

Cash-flow e geração de fundos

Que significado financeiro resulta ao somar-se as depreciações e o lucro líquido?

Para responder esta pergunta utilizaremos um exemplo concreto: as demonstrações contábeis de uma pequena empresa comercial (aqui denominada N.C), reproduzidas como ”Balanços de N.C em 31 de dezembro de 1982 e 1983“ e em ”Conta de resultados de N.C durante 1983”.

Este exemplo simples foi escolhido com um propósito deliberado: observe-se que, durante o ano de 1983, N.C não aumentou seus ativos imobilizados, como também não houve novos aumentos de capital nem distribuição de dividendos.

Portanto, as operações normais foram a única fonte de recursos durante o ano.

O lucro líquido do ano subiu a 774.000 unidades monetárias (u.m.).

Se somam a esta cifra as depreciações anuais (120.000 u.m.), obtém-se um cash-flow de 894.000 u.m.

Essa expressão inglesa parece sugerir que o saldo de caixa e bancos desta empresa experimentou um fluxo positivo de 894.000 u.m. durante o ano.

Contudo, comparando os saldos inicial e final desta conta, pode-se observar que, na realidade, produziu-se uma diminuição de 786.000 u.m.

Para onde foi o cash-flow?

Como se percebe, o ativo de N.C aparece dividido em suas porções circulantes e fixas; da mesma forma, o passivo distribui-se em uma parte que é exigível a curto prazo e outra que não o é.

A diferença entre o ativo circulante e o passivo exigível a curto prazo denomina-se capital de giro.

Por conseguinte, o capital e giro de N.C é (em milhares de u.m.) o seguinte:

  • Em 31/12/1982: 3.350
  • Em 31/12/1983: 4.244

Durante o ano de 1983, o capital de giro de N.C aumentou exatamente pela importância do cash-flow anual: 894.000 u.m.

Isso não foi uma coincidência.

Essa relação verifica-se quando ocorrem as condições que coincidiram neste caso: ausência de novas imobilizações e ampliações de recursos permanentes (capital e dívida a longo prazo), e não distribuição de dividendos.

Vejamos as razões.

Ao corrigir a cifra do lucro líquido, acrescentando-lhe a depreciação, elimina-se da conta de resultados uma parcela de gasto que não supõe nenhum desembolso.

Com efeito, o desembolso teve lugar quando se adquiriu o ativo fixo correspondente; a depreciação é um mero lançamento contábil que se limita a distribuir como gasto o custo original do ativo em questão, ao longo de sua vida útil.

Esse é um processo ao qual os contabilistas costumam recorrer para dividir o resultado em períodos.

Os termos gasto e custo (é preciso levar isto em consideração) empregam-se no sentido que se lhes costuma dar na literatura anglo-saxã (expense e cost).

Gasto é todo consumo de recursos, ao passo que custo é a aplicação de qualquer recurso a um propósito determinado.

De fato, teria mais significado calcular o cash-flow subtraindo das receitas aqueles gastos que supõem desembolso durante o período ou que vão supô-lo a curto prazo.

No caso de N.C, isto equivaleria a subtrair das vendas líquidas todas as parcelas de gastos que aparecem na conta de resultados, exceto as depreciações.

Mas isso requer sete subtrações aritméticas – e muitas mais no caso de uma conta de resultados mais complexa.

Felizmente, pode-se chegar ao mesmo resultado com apenas uma operação, somando as depreciações ao lucro líquido.

Essa facilidade de cálculo explica em parte a popularidade desse procedimento para determinar o cash-flow.

Mas é importante não esquecer que se trata de um mero procedimento de cálculo, isto é, que o cash-flow já estava ali antes do ajuste, acrescentando a depreciação.

Conceitos errôneos

A confusão que o procedimento anterior pode acarretar manifesta-se na crença de que as depreciações podem ser uma origem de recursos.

Esta convicção às vezes se transfere até para textos legais.

Assim, por exemplo, na Espanha, no preâmbulo de um decreto regulador do regime fiscal do investimento empresarial, afirma-se que “as depreciações constituem um dos instrumentos da política econômica para agir sobre a eficiência marginal dos investimentos, elevando o valor atual das receitas líquidas esperadas.

Uma adequada política de depreciação afeta favorável e diretamente o cash-flow, aumentando a disponibilidade de recursos internos em poder das empresas, e desta forma facilita o processo de investimento empresarial”.

Ou seja, contabilização da vida útil da maquinaria agrícola não deve supor uma entrada de recursos, pois uma definição errada deu lugar à crença de que a depreciação pode significar uma fonte de recursos.

Conclusões

Não é possível aumentar o cash-flow através de depreciações maiores.

Seu único impacto seria uma redução igual e imediata do lucro líquido, deixando inalterado o cash-flow.

Em outras palavras, a depreciação não é uma fonte de recursos.

Só existem duas interpretações – ambas espúrias – pelas quais se possa tratar de sustentar a afirmação contrária.

Uma delas baseia-se na possível aceitação de maiores depreciações como gasto redutível para efeitos tributários, o que supõe um maior escudo fiscal.

Nesse caso, o menor pagamento de impostos, tornado possível pela legislação fiscal, é a verdadeira origem do recurso e não a depreciação per se.

Por outro lado, uma maior depreciação só poderia ter uma última incidência na tesouraria da empresa através da política de dividendos, se esta estivesse vinculada aos lucros contábeis.

Já dissemos anteriormente que a política de dividendos deve basear-se em considerações de outra natureza, mais relacionadas com os planos de investimento e financiamento.

Em qualquer caso, os analistas financeiros não costumam deduzir os dividendos declarados quando quantificam o cash-flow de uma empresa.

Assim, o crescimento excessivo do ativo circulante torna a empresa mais vulnerável às tendências inflacionárias, visto que retém recursos em detrimento do caixa gerado pelas operações.

O caixa gerado pelas operações

Ora, se o que preocupa é o movimento de caixa, a depreciação não é a única parcela que requer relativizar os períodos, na conta de resultados.

As vendas do ano podem não ter sido cobradas em sua totalidade; parte das contas anuais podem não ter sido pagas ainda aos fornecedores; parte dos estoques fornecidos por eles podem estar ainda no armazém; isto é, estas parcelas de receitas e gastos que determinam o cash-flow podem não se ter traduzido totalmente em caixa.

Em qualquer caso, porém, seu impacto se terá produzido sempre em uma parcela de ativo circulante ou de exigível a curto prazo.

Por conseguinte, o efeito líquido que produzem é a variação do capital de giro durante o ano, embora isso não implique necessariamente a mesma mudança no saldo de caixa e bancos.

Quando o ativo fixo é mantido invariável e não se produzem novas inversões de capital nem distribuição de dividendos, a variação do cash-flow de uma empresa acaba coincidindo com as alterações verificadas no capital de giro.

Assim – apesar de sua denominação em língua inglesa, o “destino natural” do cash-flow não é a caixa, mas o capital de giro.

Por isso, optou-se por uma tradução não literal deste termo, denominando-o Fundos Provenientes das Operações (FPO), com a esperança de que seja menos equívoco do que o termo original.

Nesta expressão, o termo Fundos refere-se à concepção ampla de recursos líquidos que se encerra no conceito de capital de giro.

Qual é, então, a relação que existe entre os FPO e a mudança no saldo de caixa?

Recorreremos de novo ao exemplo de N.C, que continua sendo muito oportuno, pois o caixa desta empresa não foi drenado por novos investimentos nem por distribuições de dividendos.

Também não se beneficiou de novos aumentos de capital.

Portanto, sua variação ao longo do ano deve explicar-se unicamente em termos das operações correntes.

Advertimos que todas as parcelas das receitas e despesas que determinam os FPO incidem sobre o ativo circulante ou sobre o exigível a curto prazo.

Portanto, deve-se examinar o que aconteceu a estas parcelas de tipo circulante para impedir que os fundos gerados pelas operações chegassem até o caixa.

Para começar, que aconteceu com as vendas de 9.660.000 u.m.?

Traduziram-se todas elas em dinheiro disponível?

Ao analisar a conta de clientes, observa-se que aumentou em 460.000 u.m. durante o ano; isso significa que esta quantidade de vendas ficou “retida” na conta de clientes.

Em outras palavras, o caixa gerado pelas vendas foi (em milhares de u.m.):

Por outro lado, que desembolso representaram as 4.680.000 u.m. de custo de mercadorias vendidas durante o exercício?

Agora é necessário examinar outras duas parcelas do balanço: estoques e fornecedores.

É preciso considerar os estoques, porque o desembolso terá sido maior se N.C comprou mais do que vendeu durante o ano, o que se perceberá num aumento do saldo de estoques.

Além disso, se no dia 31 de dezembro os fornecedores concedem a N.C um crédito menor em comparação com o existente no início do ano, o desembolso também será maior.

Concretamente, o desembolso que o custo de mercadorias vendidas supôs para N.C em 1983 foi (em milhares de u.m.):

Com estes dois novos conceitos, podemos explicar a variação no saldo de caixa e bancos da seguinte forma (em milhares de u.m.):

A determinação do Caixa Proveniente das Operações (CPO) realizou-se da forma mais detalhada possível a fim de conseguir maior clareza na apresentação.

Uma forma simplificada – e mais usual – de chegar à mesma cifra é a seguinte (em milhares de u.m.):

Em última análise, os FPO traduzem-se em mais ou menos caixa em função das outras parcelas circulantes associadas diretamente às operações ordinárias.

A noção de CPO é de grande utilidade na análise financeira, dado que é uma grandeza totalmente objetiva.

Na realidade, os FPO não são totalmente imunes à manipulação contábil.

Diferente avaliação dos estoques – muito fáceis de serem levadas a termo em uma empresa industrial – traduzem-se em diferentes cifras de cash-flow.

O CPO, ao contrário, continuará sendo o mesmo, qualquer que seja o sistema de custos que se empregar para os estoques.

O CPO poderia ser determinado também buscando o saldo líquido das cobranças dos clientes, pagamentos a fornecedores e desembolsos para cobrir gastos correntes que aparecem na conta de caixa durante o período em questão.

Contudo, o método descrito é mais simples, pois não requer a inspeção direta dos movimentos de caixa e põe em evidência a conexão existente entre o CPO, a conta de resultados e as variações no balanço.

Por outro lado, o CPO – à diferença do cash-flow – é um autêntico fluxo de caixa, que pode ser utilizado para o pagamento de dividendos ou ampliações da capacidade produtiva se sua quantia for suficiente para isso.

Neste sentido estritamente financeiro, converte-se numa grandeza com maior conteúdo informativo do que os FPO, para efeitos de prever possíveis dificuldades econômicas ou de liquidez.

A utilidade dos indicadores

A saúde financeira de uma empresa pode refletir-se em muitos indicadores, mas nem todos são confiáveis.

Uma interpretação otimista dos lucros obtidos em um exercício talvez oculte uma perigosa situação econômica ou até mesmo a falta de recursos para o cumprimento de obrigações imediatas (como demonstra a análise cuidadosa dos exemplos da Laker Airways e da W. T. Grant Company).

Daí a grande importância de um correto planejamento e de um maior controle das informações contábeis para que todos os dados sejam completos, verdadeiros e facilmente interpretáveis.

Neste aspecto, o conceito de cash-flow procura resolver algumas dificuldades, embora ele mesmo não esteja isento de problemas.

Na sua acepção tradicional, o cash-flow é um indicador tão pobre quanto o lucro líquido para proporcionar um sinal precoce de possíveis dificuldades financeiras.

Os problemas de má gestão, por exemplo, que podem levar a uma situação de falência, às vezes ficam incubados durante muitos anos.

Já o Caixa Gerado pelas Operações, ao contrário, por permitir uma definição mais rigorosa do fluxo de caixa pode predizer com maior antecedência a possibilidade de uma situação crítica no futuro.

A valorização de estoques pode alterar o cash-flow, por isso – e para dotar o sistema contábil de maior objetividade – utiliza-se o conceito de Caixa Gerado pelas Operações, que não é afetado pelo sistema empregado na valorização.

Leia mais em:

Fonte: Eduard Ballarín – Doutor em Administração de Empresas pela Harvard University e professor do Instituto de Estudios Superiores de la Empresa – IESE (Espanha).